Açoriano Oriental
Tentativa de golpe de estado em 75 revisitada por capitães de Abril
Os disparos fortes levaram o aspirante a ir espreitar à porta do ginásio quando um avião picou. Atingido por um estilhaço, foi um dos dois feridos graves da tentativa de golpe de 11 de março, onde morreu o soldado Luís.

Autor: Lusa/AO On line

Trinta e cinco anos depois da tentativa de golpe de Estado de 1975, Carlos Umbelino recordou à Lusa o ataque da Força Aérea às instalações do Regimento de Artilharia de Lisboa (RALIS), culminar de um processo conduzido por militares conotados com a direita contra um quartel dominado pela fação oposta de umas forças armadas divididas.

Na altura com menos de um ano de tropa, o jovem oficial de 23 anos acabaria, cerca de uma hora depois, a dividir a mesma ambulância com Joaquim Luís, a caminho do hospital de Santa Maria, onde este soldado viria a falecer devido aos ferimentos graves que sofreu no ataque de aviões e helicópteros contra o quartel onde os dois cumpriam o serviço militar obrigatório.

“Foi a primeira ambulância a sair de lá”, recorda o miliciano, que disse ter estado uma hora - tempo que calcula ter durado o bombardeamento aéreo - “abrigado” no ginásio do quartel para onde regressou depois de atingido nas costas por um estilhaço.

Bem mais grave era o estado do companheiro da maca do lado: “Tinha-lhe explodido no abdómen uma granada do helicanhão”.

Ao todo, o ataque, iniciado "pouco antes do meio dia", terá provocado mais 13 feridos, outro dos quais em estado grave, que continuou internado no Hospital Militar de Lisboa quando Carlos Umbelino obteve alta médica, após dez dias de internamento.

Quando estava no ginásio do RALIS e achou estar a ouvir estampidos mais fortes do que os costumavam vir da carreira de tiro, o aspirante Umbelino não previa o que veria quando saiu para a rua: um ataque aéreo.

Recordou-se depois que dois dias antes ouvira rumores sobre uma eventual "luta entre militares". A questão era motivo de conversa entre dois outros aspirantes e Carlos Umbelino terá dito aos camaradas de armas que não acreditava nessa possibilidade: "Mas aconteceu", reconhece.

Com o ataque, terminou também a sua prestação militar. Depois de deixar o Hospital foi a uma junta médica para ser "abatido ao efetivo do Exército" e só voltou ao RALIS para "entregar fardas e materiais" e "sair da tropa", contou a testemunha do 11 de março.

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