Açoriano Oriental
Povoação
“Temos de dotar a Povoação de infraestruturas que a recoloquem no mapa da ilha”

Adelino Pimentel é o cabeça de lista do PSD à Câmara Municipal da Povoação. “Preparado para o cargo” se vier a ser eleito, pretende ver melhoradas as acessibilidades no e para o concelho, construir uma nova escola e apostar forte no turismo


“Temos de dotar a Povoação de infraestruturas que a recoloquem no mapa da ilha”

Autor: Cristina Pires / Miguel Bettencourt Mota

Por que razão aceitou este desafio?
Aceitei este desafio porque nasci na Povoação e além disso foi o lugar onde decidi desenvolver a minha vida. Por outro lado, sou do PSD e não renego, em circunstância alguma, que sou militante, pese embora a quase perseguição que se constata hoje em dia a quem milita num partido. Sou um militante de base e um militante de base é aquele indivíduo que deve estar disponível para ajudar o seu partido. Quando há necessidade de agilizar processos em que sejam chamados, os militantes devem agir como eu acabei por fazer: dizer sim.

Em que medida a sua experiência profissional – é gestor na área do comércio – e o seu percurso como militante base do PSD podem constituir-se como uma mais-valia no caso de vir a ser eleito no dia 1 de outubro?
De facto, estou ligado à área do comércio. Sou gestor e investidor há cerca de 32 anos no concelho da Povoação. Estou ligado ao PSD desde essa data e tenho formação política específica. Já fui vereador municipal por duas vezes, deputado municipal por dois mandatos e já fui inclusivamente (algo que poucas pessoas sabem) presidente em regime de substituição por um período de catorze dias e sem receber um cêntimo por isso (...) eu sinto-me completamente preparado para o cargo.

Qual o perfil dos restantes candidatos à Câmara e restantes órgãos autárquicos por parte do PSD?
O nosso número dois é o senhor Norberto Carvalho Cruz, uma pessoa que no concelho, além de ter sido empresário e comerciante, dedicou todo o tempo livre que tinha na sua vida à música e ao desporto. É uma pessoa que toda a gente conhece (talvez até mais do que eu sou conhecido) e que está talhada para o lugar. Em número três, temos o senhor António José Coelho, da Ribeira Quente, que é um homem ligado à área da construção civil e que faz falta na Câmara. Em número quatro, temos a Maria Cecília, uma senhora com formação na área jurídica e uma das melhores descobertas que o PSD fez nos últimos anos. Em número cinco, temos um jovem com 23 anos que tem formação na área da hotelaria e turismo, atividade a que está ligado. Acho que esta é uma equipa muito boa para servir os povoacenses.

A situação financeira da Povoação não tem sido famosa - a Câmara esteve num processo de falência em 2009 - mas o atual executivo afirma que reduziu o passivo em mais de 23 milhões de euros. Pergunto-lhe se, ainda assim, esta não é uma realidade que o preocupa?
Se há coisas que não me preocupam neste momento na Câmara Municipal é a sua situação financeira. A dívida da Câmara tem vindo a ser reduzida pelo atual executivo e bem (temos de ser justos). Mas nessa decisão política, ao reduzirem a dívida atual, deixaram de investir. O que é que isso quer dizer? Quer dizer que o concelho foi ficando um pouco para trás em termos de investimento. Além disso, convém desmistificar a questão da dívida: havia-se apregoado que a divida encontrada pelo atual executivo seria na ordem dos 33 ou 34 milhões de euros...Muito bem! Mas o que o executivo socialista se tem estado a esquecer, durante este tempo em que governa, é de fazer referência aos 17 milhões de euros que deixou oito anos antes de voltar a assumir as responsabilidades da autarquia...

...Ou seja, não aceita o argumento de que esta herança tenha sido deixada pelo executivo do PSD, liderado por Francisco Álvares?
Não. A dívida é o resultado da soma entre as dívidas que os executivos de Francisco Álvares e Carlos Ávila deixaram. E se dos 17 milhões deixados pelo PSD, retirarmos os 10 milhões de euros que foram feitos desaparecer através da legislação com relação direta com as dívidas das empresas municipais, estamos a falar de uma dívida de 7 milhões de euros. Mas o PS lembra-se sempre de esquecer que dessa dívida resulta uma enormidade de património construído. Ou seja, este executivo [PS] optou por reduzir a dívida e deixou de construir, enquanto que o anterior executivo [PSD] foi pelo caminho da dívida e construiu...

...Mas qual seria a sua opção?
A minha posição apoia-se na visão de Jean-Jacques Rousseau: é no meio que está a virtude. Isso quer dizer que tem de haver um equilíbrio entre o investimento e a dívida. Eu optaria sempre por manter algum investimento e controlar muito bem a dívida, sem nunca a aumentar. É preciso também lembrar que se esta Câmara pagou dívida foi porque teve condições para tal. Desde logo, pelo Governo Regional que não tem feito um bom serviço aos açorianos... Porque um governo que atua favoravelmente com uma Câmara Municipal quando ela é do seu partido e deixa de atuar ou de responder a telefonemas, mensagens, faxes ou pedidos quando a Câmara é de outro partido, é um governo que não serve a sua Região.

A dívida atual da autarquia, segundo o atual presidente Pedro Melo, é da ordem dos 4 milhões de euros. No último mandato a palavra de ordem foi poupar em alternativa ao programa de reequilíbrio orçamental que obrigaria a um aumento de impostos. Não reconhece que essa tenha sido uma boa opção?
Essa questão do não aumento de impostos também é interessante...Vista de forma simplista parece bem, mas se for pormenorizada já não. Quando, por exemplo, se faz uma reavaliação de uma moradia ou de um terreno estamos a falar de um aumento de impostos encapotado (...) O Governo da República – que sempre esteve contra a austeridade - lança agora o novo imposto AIMI, uma coisa muito engraçada e que representa um imposto adicional sobre o IMI. Esse adicional ao IMI ainda se torna mais engraçado porque é um imposto sobre o IMI para patrimónios acima dos 650 mil euros ou então, imagine-se, poderá até ser um imposto para um património de 20 mil euros (e isso não foi dito pelo Governo e vai beneficiar muito a Câmara Municipal). Na verdade, se alguém tiver um terreno que está destinado a comércio e não está construído, esse terreno vai ser alvo de AIMI. Ele pode até estar avaliado em 20 mil euros, mas este governo, uma vez mais, de forma encapotada não falou a verdade ao povo português e esses impostos vão ter efeitos e repercussões nos cofres da Câmara Municipal.

Falando agora do seu projeto para a Povoação, quais são as suas principais prioridades?
Nós temos várias questões para resolver no concelho da Povoação. ‘Grosso modo’ poderei dizer que teremos de dotar o concelho com as infraestruturas necessárias e que dignifiquem, ou pelo menos, recoloquem a Povoação no mapa desta ilha...

...Que infraestruturas?
Temos de falar, desde logo, das acessibilidades. Eu já estou farto delas, ou pelo menos de as ouvir anunciadas pelo Governo Regional e por esta Câmara Municipal. A estrada que vai das Furnas à Povoação é uma ‘estrada da morte’ e é evidente que precisa de ser intervencionada (...) Eu acho que é urgente a estrada ser recuperada, que existam zonas de ultrapassagem, passeios e as pontes têm de ser melhoradas e alargadas, porque aquela estrada é uma das maios bonitas que temos em São Miguel. Porventura, haverá a necessidade de se construírem duas pontes, que não custarão um décimo de uma das pontes que foram construídas nas SCUT até ao Nordeste. Há também que rever a acessibilidade Furnas - Ribeira Quente porque o Partido Socialista, mais uma vez, mentiu às pessoas e disse que a Ribeira Quente iria ter uma segunda via e uma escapatória em caso de catástrofe (...) Para além do mais, há todo um circuito interno no concelho que precisa de ser reparado, cujos pavimentos foram deixados ao abandono. Aliás, em termos de obra física esta Câmara tem feito muito pouco.

Que outros projetos tem para o concelho da Povoação se for eleito?
Acho que temos de exigir com o Governo Regional que haja um melhoramento profundo no porto da Ribeira Quente que junta várias dificuldades, sobretudo, em caso de intempéries. Por outro lado, temos também de falar da escola. A Povoação exige, quer e tem que ter uma escola nova. Comigo a Povoação vai ter uma escola nova. Por que razão a Povoação não tem uma escola com as condições exigíveis para os dias de hoje? É para manter o povo na ignorância? Isso dá mais votos?

A falta de emprego é uma realidade no concelho. Que meios tem a autarquia para incentivar a iniciativa privada?
Embora não se possa descurar áreas como a agricultura e seja necessário manter o grupo que a ela se dedica, os empregos estão no futuro. Só se consegue desenvolver uma atividade se ela tiver perspetiva de futuro.
No caso da Povoação, essa atividade é o turismo. O turismo é uma ‘mina de ouro’ que as pessoas não estão a ver e que o concelho tem aproveitado, mas não com a dinâmica necessária. É urgente que se crie um quadro normativo e legislativo regional que descrimine de forma positiva os investimentos na área turística.

A esse respeito, o que pode a autarquia fazer e que condições pode criar?
Nós podemos reativar os trilhos que existem e não estão em boas condições, apostando em mantê-los limpos e abertos todo o ano para que as pessoas os possam percorrer em segurança. Além disso, há outros que podem ser criados e que estão escondidos como a rota que liga a Ribeira Quente à Ponta Garça (...) A par do turismo de trilhos, de aventura, de uma rota dos moinhos, temos também um turismo histórico diverso por explorar. Mas então onde é que os povoadores chegaram em primeiro lugar nesta ilha? Que retorno nos tem trazido isso?

E em termos de serviços de apoio a este setor, considera que a Povoação está bem servida?
Temos de ser melhores e acredito que num prazo de quatro a cinco anos terão que existir mais unidades hoteleiras, mais alojamentos locais, bares e restaurantes. Estamos talvez a esquecer também que a Povoação já teve aberta uma discoteca muito bonita - a Nautilus - que tem um cenário paradisíaco. Eu apelo, quer aos proprietários, quer aos potenciais interessados, que aquele local seja retomado com categoria, segurança e com boa música, porque a paisagem e ambiente já tem.


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