Açoriano Oriental
Sócrates cansado dos "preconceitos de superioridade moral" de Louçã
O primeiro-ministro afirmou-se cansado dos "preconceitos de superioridade moral" de Francisco Louçã, desabafo que motivou depois uma resposta irónica do líder do BE: "quem se mete com a [construtora] Mota Engil leva".

Autor: Lusa/AO online
Tal como tinha acontecido há cerca de 15 dias, o final do debate parlamentar voltou a registar uma azeda troca de palavras entre José Sócrates e Francisco Louçã.

    Mas desta vez a cena ocorreu em pleno período de respostas por parte do Governo a intervenções ao Partido Ecologista "Os Verdes", portanto, já depois de José Sócrates ter esgotado o seu tempo disponível para responder ao Bloco de Esquerda, o que gerou mais um pequeno incidente.

    O deputado do Partido "Os Verdes" Luís Miguel Gonçalves, que já tinha visto o ministro da Agricultura, Jaime Silva, substituir-se ao primeiro-ministro nas respostas à sua pergunta, assistia agora a José Sócrates a responder a Louçã e não a si, razão pela qual lavrou um protesto junto do presidente da Assembleia da República, Jaime Gama.

    Em todo o caso, José Sócrates considerou que "não podia passar em branco" a divisão que Louçã fizera momentos antes entre sindicatos sérios e sindicatos não sérios.

    Por isso, quis reagir ao deputado do Bloco de Esquerda, mesmo aproveitando os minutos que o Governo ainda tinha disponíveis para responder ao Partido Ecologista "Os Verdes".

    "O senhor deputado [Francisco Louçã] divide agora os sindicatos entre sérios e não sérios. Reparei que foi incapaz de explicar quem não é sério e quem é sério, mas eu percebo a sua linguagem, porque essa linguagem vem de trás, de há muitos anos", começou por apontar Sócrates, antes de se referir "ao problema" da actuação política do Bloco de Esquerda.

    "O problema dos partidos radicais não é defenderem causas radicais, mas a sua intolerância com o outro e resvalarem para o julgamento moral do outro. Isso que disse sobre os sindicatos foi uma afirmação de uma enorme infelicidade", considerou o primeiro-ministro ainda em tom calmo.

    Logo a seguir, porém, Sócrates elevou a sua voz e disparou contra o líder do Bloco de Esquerda.

    "Sabe senhor deputado, estamos cansados desse preconceito de superioridade moral. Não aceitamos lições de seriedade, porque o senhor deputado não tem idade, nem curriculum, nem autoridade para dar lições de seriedade a ninguém", afirmou, recebendo palmas da bancada do PS e protestos da parte dos deputados do Bloco de Esquerda.

    Ao contrário do que sucedera há quinze dias, no último debate, desta vez Francisco Louçã respondeu a Sócrates, recorrendo a uma interpelação à mesa da Assembleia da República.

    "O senhor primeiro-ministro tem acrescentado ao léxico parlamentar muitos adjectivos e quero manifestar o meu apreço por essa agressividade", disse.

    Louçã referiu-se depois indirectamente ao facto de Sócrates lhe ter chamado "fariseu" no último debate quinzenal e ter usado nessa circunstância uma linguagem bíblica para o atacar.

    "A convocação de grandes figuras bíblicas por parte do primeiro-ministro não levou a que nenhum raio fulminasse a bancada do Bloco de Esquerda, apesar da maioria absoluta do PS. E há uma coisa que o Bloco de Esquerda aprendeu: estamos preparados para isso, quem se mete com a Mota Engil leva", afirmou.

    Numa intervenção anterior, Louçã tinha protestado contra a decisão do Governo de alargar a concessão da exploração do terminal de contentores de Alcântara a uma empresa participada pela construtora Mota Engil.

    Sócrates voltou ainda à carga, recorrendo também a uma interpelação à mesa, mas sem fazer qualquer referência à Mota Engil, empresa em que o ex-dirigente socialista Jorge Coelho vai assumir em breve a presidência.

    "Em todos estes debates defendo naturalmente as minhas convicções com vigor e energia, mas há uma coisa que nunca utilizei: o argumento da pretensão moral de ser superior aos outros. Nunca pretendi ser mais sério do que os outros - isso é uma vergonha para o debate político democrático e é próprio de gente intolerante e radical", declarou.
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