Autor: Lusa / AO online
“É preciso que os doentes tenham acesso facilitado aos seus cuidados. É transversal a todas as áreas da saúde: existe alguma dificuldade de acesso dos doentes aos seus cuidados de saúde. Está a fazer-se um esforço para não onerar o doente no seu seguimento porque, se começar a faltar, corre o risco de perder o seu órgão”, descreveu o responsável, no Porto, à margem das celebrações do Dia do Transplante.
Fernando Macário lembrou que a Sociedade de Transplantação reivindica “há muito tempo, a descentralização do seguimento dos doentes transplantados”, elogiando o processo “em curso para que doentes transplantados renais possam ser seguidos perto de casa”.
“Esperemos que [o processo] esteja pronto até ao fim do ano”, observou, no evento que assinalou o 45º aniversário do primeiro transplante em Portugal e homenageou todos os transplantados há mais de 25 anos.
O presidente da SPT alertou ainda para a necessidade de “otimizar a colheita de órgãos”, nomeadamente no caso do rim, onde “a lista de espera é grande” e ronda “em média quatro anos”, apesar de anualmente serem transplantadas “entre 450 a 600 pessoas por ano”.
“Portugal tem uma razoável taxa de colheita a partir de cadáver, mas quanto mais cedo for feito transplante melhor, sobretudo se o doente for transplantado antes de iniciar a diálise”, esclareceu.
Para isso, a SPT defende uma “organização ótima da deteção do dador”, para o que é fundamental “que todos os hospitais onde seja decretada morte cerebral, públicos ou privados, sejam referenciados como potenciais dadores”.
“Isso está a ser feito”, vincou.
Maria Araújo Martins, de 62 anos, deslocou-se de propósito de Lisboa para assinalar hoje no Porto um transplante de rim que recebeu há 28 anos.
Foi operada antes dos 40, depois de três anos de diálise, e a única preocupação era o filho de sete anos.
“A quem corre bem é muito melhor do que o Euromilhões. Estar quatro horas agarrada a uma máquina [de diálise] sem poder ir para lado nenhum… O transplante é um descanso, é um sossego”, descreve.
Quando foi transplantada, pensou que viveria mais 12 anos.
Já passou mais do dobro do tempo: “Sou muito persistente e acho que ele gosta de mim”, ironiza.
José Marques, de 64 anos, foi transplantado há 13 anos e não está preocupado com prazos.
“Já não devia cá estar. Qualquer dia que viva a mais já é um ganho”, assegura.
Depois do transplante de rim passou a ter “uma qualidade de vida tremenda, tão boa quanto antes” de ter descoberto o problema.
Reinaldo Rocha, do Porto, recebeu há quatro anos um rim da mulher e, atualmente, o sentimento é de ter sido “escolhido pelo Euromilhões sem ter jogado nele”.
“Só sabemos dar valor à vida quando ela nos começa a faltar”, alerta.