Açoriano Oriental
"Sem os nossos clientes, o café Clipper não existiria" (vídeo)
Café da Rua Machado dos Santos (Ponta Delgada) abriu portas a 22 de abril de 1944 e festeja em 2014 70 anos de vida.
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Autor: Nuno Martins Neves

Pelas paredes do café Clipper, no número 28 da Rua Machado dos Santos, há quadros de Ponta Delgada de outros tempos, fotografias de clientes de anos longínquos, até há uma peça, feita pela Cerâmica Micaelense, que nos convida a entrar. Pelas paredes daquele local há história, construída ao longo de 70 anos, desde que o café foi aberto no dia 22 de abril de 1944 pela mão de João Pedro Ribeiro.

Sete décadas depois - e muitos cafés tirados e conversas tidas - o café já se tornou num ponto de passagem, uma referência não só em São Miguel mas nos Açores. A fórmula mágica para esta perseverança?  “Trabalho, trabalho e muito trabalho. Em cima disso, nunca perdemos os nossos princípios, a nossa seriedade, honestidade”.
Quem nos confidencia o truque por detrás de uma casa com tamanha idade é o homem que há 37 anos faz do Clipper a sua casa, Guilherme Pedro Botelho. Foi quando ainda não tinha idade para ir para a tropa que entrou pela primeira vez no café, na altura propriedade de Horácio Garcia. Três anos depois, em 1980, decide - juntamente com os seus irmãos João e Jordão - arriscar e compra o espaço.
“As pessoas viam-nos como ‘os rapazes’. A maior dificuldade foi arranjar o dinheiro para comprar o negócio (risos). Era uma altura muito complicada pois ninguém acreditava em nós. Todos os outros negócios, tinham pessoas maduras à frente”, recorda-se.
Passados 34 anos desde que, aos 18 anos, passou de trabalhador para patrão, Guilherme Pedro Botelho não se revê como um empreendedor na altura. Fala antes de sorte, do momento. “A sorte é silenciosa, naquele momento ela passou e nós agarramo-la. Mas essa sorte tinha de ser trabalhada e são 365 dias do ano sempre a trabalhar. Multiplicar isso por esses anos todos...”.
Falar do Café Clipper é falar dos inúmeros clientes que religiosamente escolhem o espaço como local de eleição para tomar um café, comer uma bifana ou apenas ver o futebol ou falar sobre um qualquer assunto. Guilherme Pedro Botelho já perdeu a conta ao número de amigos que já passaram e continuam a passar pelo número 28 da Rua Machado dos Santos. Perdeu a conta, mas não a gratidão.
“São tantos, que uma pessoa só tem de agradecer a todos. Aos anos que estou ali, as pessoas que já atendi até hoje, são tantas amizades, pessoas conhecidas, pessoas que já se foram...e depois criou-se uma relação que passa de geração para geração”, conta, acrescentando que “Sem essas pessoas todas, não se fazia nada. As pessoas vêm cá porque sentem que é um sítio onde podem estar. É uma espécie de tertúlia: ali fala-se de tudo, futebol, política. Principalmente futebol, e agora com o Benfica campeão, as conversas vão ser melhores (risos)”.
O patrão do Clipper também não esquece os seus colaboradores - “apesar de às vezes ter as minhas coisas com eles...” - a quem atribuiu uma quota parte do sucesso e da vida do café. “A história também é deles, fazem tão parte dela como eu. Se o Clipper manteve-se como está, eles têm uma responsabilidade igual à minha”.
Na véspera de soprar as 70 primaveras do seu estabelecimento, Guilherme é incrivelmente pouco saudosista. Admite que, por vezes, “assusta-se” com o estado da baixa de Ponta Delgada, em contrapartida com a centralidade que o local tinha há meio século atrás. “Mas eu também gosto deste momento, apesar da crise, que leva as pessoas a cortarem logo em coisas como o café. Mas se não fosse esta crise, prefiro o presente, pelo desenvolvimento. Antigamente havia um medo de arriscar, hoje não, a mente está muito aberta”, diz.
Hoje é dia de festa, com direito a bolo. O amanhã ainda vai longe, apesar do desejo de querer chegar ao 100.º aniversário. “Se Deus me der saúde, gostaria de festejar o centenário do Clipper. Mas é uma luta muito grande, todos os dias, e uma pessoa chega a uma altura que pensa...Vamos ver”.
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