Açoriano Oriental
Redes sociais alteraram comunicação política, mas não o sistema, dizem analistas
Analistas ouvidos pela Lusa defendem que as redes sociais são mais uma forma de comunicação entre o cidadão e a política, mas não substituem os meios tradicionais, havendo antes uma complementariedade.
Redes sociais alteraram comunicação política, mas não o sistema, dizem analistas

Autor: Lusa/AO Online

"Temos o consumidor, que também é cidadão, a usar a televisão, enquanto 'tuíta' e 'facebooka'. Está a escolher um menu", existindo "uma liberdade de movimentos", disse José Adelino Maltez, professor de direito internacional e relações públicas no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP).

Ouvido pela Lusa nas vésperas do Dia das Redes Sociais, que se assinala a 30 de junho, Maltez disse que o papel das redes sociais na política é sobretudo uma questão de comunicação, que não altera profundamente a forma de fazer política.

Exemplificou com o caso do partido espanhol Podemos, que entrou na política "não tanto pelas redes sociais como pelo facto de Pabro Iglesias [o líder do movimento] ser uma espécie de estrela dos programas da manhã das televisões de grande audiência em Espanha".

O partido de Iglesias, acrescentou, usou primeiro a televisão e só depois as redes sociais para penetrar "no universo altamente competitivo do marketing político".

"Acabou a usar exatamente os mesmos meios de todos os outros políticos. Não ficou reduzido a esse espaço [das redes sociais], até porque esse espaço costuma não dar tantos votos como parece", concluiu.

Paulo Gorjão, diretor do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS), defendeu por seu lado que, como se viu já nas campanhas presidenciais de Barack Obama nos EUA, "as redes sociais funcionam como instrumentos diretos e imediatos entre os partidos e os eleitores".

"O que estamos a assistir é a uma nova forma de alguns partidos, sobretudo os que não são do tradicional arco político, potenciarem a interação, o que os faz chegar ao público em geral, que presta atenção à política, mas também a outros públicos que já estavam muito afastados", disse Paulo Gorjão, que tem uma presença ativa nas redes sociais.

Nesse sentido, as redes sociais oferecem mecanismos para reforçar a cidadania e a participação política, afirmou Gorjão, escusando-se no entanto a antecipar se isso resultará de facto numa maior participação.

Já os partidos tradicionais, embora inicialmente tenham demorado algum tempo a reagir, já estão hoje adaptados à nova realidade e têm mensagens direcionadas para as redes sociais, defendeu Paulo Gorjão.

Para Adelino Maltez, a grande vangagem das redes sociais é o acesso a informação: "quando podemos ter acesso a todas as bibliotecas do mundo podemos ter memória muito mais agilizada, podemos fazer confronto de opiniões, podemos estar em Portugal e na Finlandia".

No entanto, para poder usufruir dessas vantagens é preciso preparação "e não há um sistema educativo que propicie o acesso a essa capacidade de navegação".

Embora admita que, entre os seus alunos tem notado uma melhoria nos últimos dois ou três anos, o professor universitário acredita que essa educação partiu das famílias e não da escola.

"Não foi o [computador] Magalhães, foram os pais que ensinaram os filhos a navegarem", disse.

O académico sublinhou que o que falta aos alunos portugueses não é tanto aulas de informática, mas sim cultura geral.

"É poder navegar de um setor para outro e procurar a fonte. Uma pesquisa intercultural entre as várias ciências é o que falha totalmente no sistema educativo português. O que falta é humanismo", concluiu.

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