Açoriano Oriental
BE
"Queremos mudar a alternância entre PS e PSD"
A salvaguarda da Zona Económica Exclusiva dos Açores e a questão das quotas leiteiras constituem duas da bandeiras eleitas por Zuraida Soares. O desemprego também  preocupa a líder nos Açores do BE, que aponta soluções concretas para o combater.
"Queremos mudar  a alternância entre  PS e PSD"

Autor: Paulo Simões/João Alberto Medeiros
Porque se candidata pelo círculo eleitoral dos Açores à Assembleia da República?

As nossas razões nos Açores não são diferentes das nossas razões no País. A razão fundamental que nos leva a candidatar é de facto mudar.
Nós queremos contribuir para mudar a política, a permanente alternância entre PS e PSD, que de alternativa não têm nada. Queremos mudar o pântano em que se transformou a promiscuidade entre o Estado e os negócios, o Estado e a alta economia, as rendas, aquilo a que chamo o rendimento máximo garantido às empresas como a EDP e a Galp, entre outras.
Queremos combater este sentimento que as pessoas sentem de que não têm importância, que não estão no centro das preocupações da política e dos políticos e que, de facto, a prioridade não são elas mas outro tipo de interesses que lhes passam completamente à margem e que não atendem às suas necessidades.
Tudo isto são boas razões para concorrer, porque os problemas no País são iguais aos problemas nos Açores, agravados aqui por características próprias que todos reconhecemos.


Que assuntos considera prioritários para serem discutidos nesta campanha e que devem ser implementados num futuro governo?

Nós temos um mar imenso e pouca terra, ainda por cima dispersa. Temos aqui dois problemas que têm que ser resolvidos e atendidos.
Um é a Zona Económica Exclusiva (ZEE) dos Açores e a ameaça que pende sobre ela de forma permanente.


...mas essa questão não está encerrada?

Do nosso ponto de vista não! É antes uma oportunidade perdida. Vários países, entre os quais a Irlanda, estiveram a negociar com a União Europeia a possibilidade do seu povo ser seduzido para dizer sim ao Tratado de Lisboa.
Vários países aproveitaram esta oportunidade para colocar na mesa as suas reivindicações.
Portugal, designadamente o primeiro-ministro Sócrates e Carlos César, não quiseram, a par de Durão Barroso. Seria uma reivindicação legítima por parte dos Açores.
A outra questão é as quotas (leiteiras) e a situação dramática dos pequenos e médios lavradores, que têm sido enganados.
Haverá quem tenha eventualmente gasto dinheiro disponibilizado através de apoios comunitários noutras coisas que não as consideradas essenciais.
Mas há muitos outros, sobretudo os mais pequenos, que não foi isso que fizeram. É atirar areia para os olhos afirmar a estes agricultores que devem ter calma porque a batalha das quotas ainda não está perdida.
A par da ZEE e das quotas, existem outras questões como o emprego, um drama nacional com dimensão regional nunca antes alcançada.
É preciso criar emprego de qualidade. Nós temos várias propostas que colocamos à consideração dos eleitores, que já resultou noutros países.
Falamos da requalificação do parque habitacional. É uma necessidade objectiva dos nossos concelhos, das nossas terras, bem como uma necessidade para as pessoas que querem uma casa para viver com dignidade e não têm, a começar pelo facto de não terem dinheiro para pagar as redas nem para comprar casa.
É uma forma de criar emprego para as pessoas e para as pequenas empresas cuja dimensão não é compatível com as grandes obras e com os grandes consórcios. É uma medida imediatista, a médio prazo, mas a crise é agora e é agora que as pessoas têm  necessidade de ter dinheiro na mão para pagarem as suas contas.


A matriz ideológica do BE é diferente dos restantes partidos?

Não tenho a mínima dúvida. Discordo totalmente de um discurso dominante, já de há uns tempos largos a esta parte, que é o discurso do fim das ideologias, que andam convenientemente esquecidas. Quando nós pomos um partido como o PS, que tem uma matriz ideológica de esquerda, ao lado de um partido como o PSD, que tem uma matriz ideológica social-democrata, de direita,  nós vemos cada vez menos as diferenças nas suas bases de apoio popular e social.
As expectativas de quem vota num e noutro não são iguais.
Aquilo que eles defendem é cada vez mais igual e as suas políticas são cada vez mais iguais. O que nos diferencia é a componente ideológica, da importância desta voltar a ter cada vez mais, a nível mundial, um papel na política e no mundo.


O que é um bom resultado eleitoral no próximo domingo?

Acabar com a maioria absoluta. As últimas maiorias absolutas têm feito aquilo que lhes dá na real gana, destruindo a vida de milhares e milhares de pessoas.
No caso específico dos Açores queremos continuar a crescer.


Já disse que se for eleita para a Assembleia da República deixará o lugar para que foi eleita no Parlamento dos Açores. Não está a trair assim a confiança dos açorianos?

Tenho a certeza de que não. Eu não subestimo a inteligência dos eleitores desta Região.
As pessoas percebem que se pode e dever defender os Açores em qualquer fórum nacional ou internacional.
Estamos a falar apenas de patamares diferentes e esta é uma forma de os Açores poderem condicionar a política nacional. O Código do Trabalho não veio do Parlamento dos Açores mas da Assembleia da República. Condiciona e prejudica a vida de milhares e milhares de trabalhadores nesta Região. A precariedade laboral, os recibos verdes, os contratos a prazo, e por aí fora...
A política nacional não pode ser olhada como uma coisa e a política dos Açores outra. Também é claro que não convencem os discursos de quem diz que está na Assembleia da República só para defender os Açores.
Os deputados e as deputadas eleitas pelos Açores votam as políticas nacionais. São responsáveis para o bem e para o mal, por aquilo que se aplica nesta Região e que vem do continente.


Qual é o balanço que faz do trabalho desenvolvido pelos deputados dos Açores na Assembleia da República?

Sinceramente reproduziram na Assembleia da República aquela realidade de que falávamos há pouco: as semelhanças e concordâncias são tantas que os Açores acabam por ficar um pouco diluídos face às estratégias e sobretudo às maiorias absolutas. Acontecer qualquer coisa como o que aconteceu com o Estatuto dos Açores é algo que faz pensar. Afinal, de que lado é que estão os dois grandes partidos? Quando quem se põe em pé para votar finalmente o Estatuto, no caso por exemplo do PSD, são os deputados dos Açores e todos os outros votam em sentido diferente, aí vale a pena perguntar afinal o que é isso de estar do lado dos Açores.
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