Açoriano Oriental
Produção de peixe e vegetais evita desperdício e tem potencial para investimento
Um sistema ecológico que combina produção de peixe e de plantas, para alimentação, com vantagens ambientais, é um desafio para a investigação científica e pode ser oportunidade de investimento para empresas portuguesas, defenderam dois especialistas.
Produção de peixe e vegetais evita desperdício e tem potencial para investimento

Autor: LUSA/AO Online

A aquaponia, já desenvolvida em alguns países, combina a aquacultura, ou produção de peixes em "viveiro", com a produção de plantas, num sistema fechado, ou seja, os resíduos produzidos pelos animais são transformados em fertilizante natural para nutrir os vegetais. Ao consumirem aquelas substâncias, as plantas filtram e deixam mais limpa a água onde os peixes vão crescer "saudavelmente", como explicaram à agência Lusa o investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa José Lino Costa e o especialista e formador nesta área João Cotter. A investigação e os anos de estudo da aquaponia levaram João Cotter a propor àquela instituição a realização de um curso sobre o tema, que decorreu até dia 21 de março e "teve muitos interessados", segundo o seu mentor, apesar de, em Portugal, o reconhecimento desta atividade, nomeadamente para a obtenção de licença, ainda não estar definido. "É um sistema produtivo que é inovador e procura conjugar meios sustentáveis sob ponto de vista ambiental, tem uma componente aquícola e uma de produção [de vegetais] e a ideia é conseguir, de forma integrada e sustentada, produzir alimento ou seres vivos (peixes]", adiantou José Lino Costa. Quanto às vantagens, salientou haver "muito menos desperdício" já que, quando se produzem vegetais, parte dos nutrientes podem perder-se e, neste caso, podem ser aproveitados pelos animais. "Os animais produzem dejetos e outro tipo de produtos que podem vir a ser aproveitados pelas plantas e a grande vantagem é que plantas e animais acabam por beneficiar em simultâneo uns dos outros, portanto, há menos produção de produtos tóxicos, poupa-se energia, e há mais reciclagem dos próprios elementos entre as várias componentes do pequeno cosmos que se forma", resumiu o investigador. Para José Lino Costa, Portugal "tem características boas [para esta atividade] desde logo porque tem uma enorme biodiversidade e o clima também ajuda", fatores que contribuíram para o interesse do centro de investigação em ciências marinhas, o MARE, que reúne 500 investigadores, com pólos em oito universidades de todo o país, e que pretende apostar em temas inovadores, com ligação à sociedade e às empresas. Já existem situações empíricas, mas é necessário "validar o que se vai fazendo, e sobretudo fazer investigação que permita ter técnicas cientificamente mais suportadas", acrescentou, referindo a criação de uma 'start-up' no âmbito do MARE, que "pode ajudar a criar o capital necessário" para apostar na aquaponia, área com "potencial para desenvolvimento". Em Portugal, "ainda estamos numa fase muito embrionária e, em termos de legislação, temos bastantes limitações, nomeadamente nos licenciamentos para as espécies", pois as mais interessantes para este tipo de produção são exóticas, ou seja, não são naturais do país, referiu João Cotter. Não tendo certificação como produção biológica, no entanto "a qualidade do peixe é superior ao biológico", pois não são utilizados químicos ou medicamentos, realçou ainda. O especialista refere que, enquanto na maior parte da União Europeia já é possível desenvolver o sistema com restrições, em Portugal "a proibição é total", apesar do "grande potencial em termos de investimento". Entre as espécies existentes em Portugal que se adaptam à aquaponia, aponta o exemplo da truta, que "apresenta um problema de temperatura da água", ou da carpa, que "se produz muito bem e tem boa rentabilidade em termos dos vegetais, mas não tem valor comercial".

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