Açoriano Oriental
Praxes só acabam quando estudantes perceberem que não fazem sentido
O presidente do conselho de reitores está "genericamente de acordo" com a posição do ministro do Ensino Superior, contra as praxes, e defendeu que os "comportamentos inadequados" só terão fim "quando os estudantes perceberem que não fazem sentido".
Praxes só acabam quando estudantes perceberem que não fazem sentido

Autor: Lusa/AO Online

 

“Penso que não há justificação possível, seja em nome da integração, seja em nome de qualquer outra coisa, para atos de humilhação e de prepotência de estudantes sobre outros. É algo que não faz sentido na nossa universidade”, disse à agência Lusa o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), e reitor da Universidade do Minho, António Cunha.

Para o reitor, o fundamental é “garantir que nenhum estudante é obrigado a fazer aquilo que não quer”, e que a universidade aja em conformidade sempre que os limites sejam ultrapassados.

António Cunha afirmou ter um “grande alinhamento com a posição do ministro” Manuel Heitor, que escreveu a todos os reitores de universidades, presidentes de politécnicos, dirigentes estudantis e dirigentes de unidades de investigação – tal como tinha prometido fazer, na última audição parlamentar antes da paragem dos deputados para férias –, pedindo a colaboração de instituições e estudantes para que “a humilhação não seja uma tradição académica”.

Perante os deputados, o ministro chegou mesmo a classificar as praxes académicas como “uma prática fascizante”, e recordou na carta recentemente enviada que “o ingresso no ensino superior tem sido sistematicamente marcado por práticas contrárias aos ideais de liberdade, crítica e emancipação dos jovens”.

“As manifestações de abuso, humilhação e subserviência a que assistimos na praxe académica, sejam no espaço público ou dentro das instituições, afetam a credibilidade do ensino superior e conflituam com a missão e o propósito daqueles que o frequentam. A eventual valorização de 'tradições académicas', mesmo quando existentes, não pode legitimar que se humilhe e desvalorize a autoestima dos mais novos. Neste contexto, não posso aceitar mais uma vez o ciclo repetitivo de imagens degradantes que nos envergonham”, lê-se na missiva, tornada pública pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, numa carta aberta publicada pelo semanário Expresso.

O ministro apela a que estas práticas sejam “combatidas por todos”, mas, “muito especialmente, por todos os responsáveis estudantis”.

Pelo lado dos reitores, António Cunha referiu que a universidade não reconhece “grupos ad hoc” de estudantes, não integrados nos estatutos e regulamentos das instituições, como as comissões de praxe.

O ministro apelou a alternativas de acolhimento, que incluam a cultura e a ciência, tendo autorizado a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) a apoiar financeiramente ações para os novos estudantes, desenvolvidas por unidades de investigação em parceria com as associações de estudantes, num limite de custos de até 5% dos seus orçamentos plurianuais.

“O acolhimento dos novos estudantes no contexto das unidades de investigação alarga o seu conhecimento sobre a instituição, potencia os momentos de partilha com outros estudantes e investigadores, estimula o sentido de curiosidade científica e promove um maior entrosamento futuro com os objetivos de aprender, apreender e empreender”, refere o documento.

Também os politécnicos se declaram em sintonia com a posição de Manuel Heitor, e com as preocupações manifestadas na carta, mas o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) lembra que as atividades sugeridas pela tutela são já prática corrente nas instituições.

Ainda assim, os politécnicos afirmam que “registam o pedido” do ministro e que “a este propósito e irão, dentro da sua autonomia, reforçar as ações que contribuam para uma melhor integração dos novos estudantes nas instituições”.

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