Açoriano Oriental
Povo do Haiti precisa da dignidade que só advém do trabalho
O Haiti, mais do que nunca, precisa de empregos, disse à Lusa a embaixatriz brasileira no Haiti, Roseana Aben-Athar e Kipman, que presenciou em Port-au-Prince os horrores do terramoto ocorrido a 12 de janeiro.

Autor: Lusa / AO online

"O que o povo haitiano mais precisa é da dignidade que só advém de quem tem um trabalho. A mim, só resta ajudar a reconstruir este país: cuidando de crianças, mães e de velhos e apoiando quase 15 instituições, entre elas quatro orfanatos", contou.

"Recomecei este trabalho no dia 13 de janeiro, nas primeiras horas de uma noite em que não dormi, participando nas decisões do Brabat (Batalhão Brasileiro) sobre o que deveríamos fazer", contou.

Para a embaixatriz, que se destaca pela sua fibra e sua atuação no Haiti, ao lado do marido, o embaixador Igor Kipman, reconstruir é a palavra do momento: "Minha, da Embaixada brasileira, do Brabat, da Minustah (Missão de Estabilização das Nações Unidas para o Haiti), do Governo brasileiro e creio ser este também o pensamento da comunidade internacional", destacou.

Segundo Roseana Kipman, a população tem recebido água e alimentos e foram montados 22 hospitais de campanha em Port-au-Prince.

"Nunca houve tantos hospitais e tantos médicos na capital. Posso afirmar também, como alguém que conhece bem este país, que os haitianos comem e bebem hoje como a maioria nunca o fez!", relatou.

A embaixatriz alerta que não há tempo a perder para ajudar os haitianos que precisam, além de água e comida, de material para reconstruir as suas casas.

"Maio trará imensas e poderosas chuvas e a temporada de furacões, que vai até novembro. É hora de ação", afirmou.

Roseana Kipman salientou, entretanto, que o Haiti "não pode nem deve" ficar à mercê da caridade internacional.

"A nossa obrigação, enquanto comunidade internacional, é ajudá-los a reconstruir e não reconstruir o país por eles. O Haiti precisa de um impulso definitivo para que os haitianos tomem o futuro nas suas próprias mãos e eles mesmos saiam da miséria humilhante em que vivem", defendeu.

A embaixatriz lembrou que 80 por cento da população haitiana nunca teve um emprego e muitos dos que tinham perderam-no no terramoto.

Mas não tem dúvidas de que, com seu espírito de sobreviventes, assim como já o fizeram em outras ocasiões, os haitianos vão reerguer o país.

"Isto não quer dizer que eles vão reconstruir no nosso ritmo. Este é um povo maravilhoso, sobrevivente, artístico, musical, que aprende com muita facilidade. É um povo orgulhoso do seu país, cujo grande desejo é ter um trabalho regular", assinalou.

Questionada se a tragédia serviu para chamar a atenção para o país mais pobre das Américas, Roseana Kipman disse que "só haverá uma lição se a comunidade internacional tiver a vontade política de ajudar os haitianos a encontrarem o seu caminho de forma legal e democrática, mantendo seu ritmo e a sua cultura e deixando a condição de miséria e de pedintes profissionais em que se transformaram".

A embaixatriz brasileira voltou a dar aulas de português no Centro Cultural do Brasil no Haiti, porque a segunda palavra de ordem é "retornar a vida normal o quanto antes".

"A parte triste e difícil é que nossas turmas voltaram com menos da metade do seu corpo discente. Onde esses outros alunos estariam? Mortos, imigrados, desaparecidos? Não sabemos a resposta. Ao lado dos seus nomes, constará apenas o simplório e pouco explicativo: não compareceu ao exame final", lamentou.

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