Açoriano Oriental
Português vítima de afasia inicia nos Açores sensibilização em festivais de música
Um músico português que sofre de afasia causada por um Acidente Vascular Cerebral (AVC) vai iniciar no festival Tremor nos Açores uma ação em festivais musicais europeus para sensibilizar para os riscos e o impacto desta doença.
Português vítima de afasia inicia nos Açores sensibilização em festivais de música

Autor: AO/Lusa

 

Filipe Falé, de 37 anos, vive há 10 anos no Reino Unido, mas foi em Portugal que sofreu o AVC, em julho de 2016, provocado por uma dissecção da carótida, a artéria que leva o sangue à cabeça.

"Pensa-se que pode ter sido provocada por um excesso de esforço e pressão sanguínea, enquanto 'berrava' num concerto no Barreiro. O meu irmão, que estava afónico, pediu para que o substituísse num dos seus concertos", contou à agência Lusa.

Na altura não sentiu nada de anormal, mas no dia seguinte começaram sintomas como dores de cabeça, perda da voz e atordoamento, o que o fez ir a um hospital no Algarve, de onde é natural.

O AVC só foi diagnosticado várias horas depois e após pedir assistência num segundo hospital, de onde saiu a sofrer de afasia, que se reflete na perda ou alteração da capacidade de falar ou de compreender a linguagem escrita ou falada.

"Tenho o lado direito afetado, coisas tipo a boca descaída, um olho preguiçoso, mexer o braço, destreza com a mão, movimentos com a perna, mas estou no bom caminho para uma recuperação total. Não se sabe é quando", descreveu Filipe Falé, numa entrevista escrita devido às dificuldades de comunicação.

À medida que se tem vindo a ajustar à nova condição, o português lançou em janeiro uma campanha de financiamento coletivo [https://www.gofundme.com/mindmending] para produzir um filme, em que quer partilhar a sua história e mostrar o esforço para recuperar através da música.

O plano é ir a três festivais entre abril e junho, o primeiro dos quais o Tremor, em São Miguel, nos Açores, seguido por festivais na Holanda e Espanha, onde se vai apresentar como um jovem vítima de AVC e afasia para tentar sensibilizar artistas e público para estas patologias.

A forma como vai interagir ainda está por definir, mas está determinado em chamar a atenção e revelou: "Tenho umas ideias, tipo estar vestido de coelho e as pessoas, intrigadas, perguntarem 'Porque é que estás vestido de coelho?'".

Filipe Falé tem encontrado inspiração em vários outros projetos de vítimas de AVC, como o jornalista da BBC Andrew Marr, que voltou ao trabalho em frente às câmaras com sequelas físicas visíveis e que, num documentário, referiu como rejeitou a autocompaixão.

"Precisava de dar sentido a tudo isto que se estava a passar comigo", disse o português, que espera que o seu filme inspire outros e ajude a promover a relação entre a neuroplastia, a capacidade de o cérebro de ajustar e compensar as falhas e perda de funções, e a música.

"A música permite que a neuroplastia opere sem limites! No filme 'Alive Inside', doentes com Alzheimer ganham vida quando escutam um iPod. É fabuloso", considerou.

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