Autor: Cristina Pires/Ana Carvalho Melo
Porque decidiu se recandidatar?
A minha recandidatura tem a ver, por
um lado, com o sentimento de dever cumprido, mas também porque existe
uma série de objetivos que achamos que merecem ser cumpridos. São um
conjunto de ações que temos planeado, as quais achámos que não é
possível concretizar em quatro anos. Falo dos grandes desígnios como o
virar a cidade para o mar que já teve início, mas ainda não está
concluído, falo de outros projetos estruturantes para a cidade como o
saneamento básico e a limpeza da orla marítima que agora dão os
primeiros passos.
Com que dificuldades se deparou assim que assumiu o lugar de presidente da Câmara?
Em
2013, a Região e o país, em particular, viviam uma grave crise
económica que também estava refletida na sociedade da Ribeira Grande, em
que o desemprego se sentia com mais enfoque num concelho altamente
industrializado, principalmente no setor da construção civil.
O
grande impacto que tivemos desde a primeira hora foi a questão do
desemprego e a situação aflitiva que muitas famílias ribeira-grandenses
estavam a atravessar.
Outro impacto foi um problema interno da
autarquia, com um passivo financeiro bastante angustiante. Nós tínhamos
cerca de 30 milhões de euros de passivo consolidado, englobando a
participação que a autarquia tinha na empresa municipal.
Outra
novidade foi a situação da escola profissional da Ribeira Grande, que
vivia à base de uma fundação, que teria de ser extinta, o que punha em
risco o ensino profissional na Ribeira Grande (…).
Com muito orgulho
estamos a terminar este mandato passando de um passivo financeiro que
rondava os 30 milhões de euros para um passivo financeiro a rondar os
dez milhões, o que significa uma redução de cerca de 70 por cento.
Ainda assim, a situação financeira da autarquia impediu-o de proceder a alguns investimentos no concelho?
O que me impediu, e isto aconteceu de forma transversal na Região e no país, foi o atraso dos fundos comunitários.
O
quadro comunitário de apoio 2014-2020 que deveria estar de vento em
popa, não está a andar ao ritmo que se previa em pleno ano de 2017. Isso
fez com que uma quantidade de investimentos previstos ainda não
tivessem o respetivo financiamento, (...) o que fez com que houvesse
atraso nos investimentos.
Estamos a falar de que investimentos em concreto?
Toda
a requalificação da orla marítima. O que fizemos, entretanto, e sabendo
que os fundos estão atrasados, foi um endividamento na banca à espera
que os fundos sejam aprovados.
Estamos também a falar de
equipamentos como o saneamento básico e de três ou quatro obras
estruturantes, como a requalificação do mercado municipal e de algumas
praças e zonas verdes do concelho.
O projeto que idealizou para os
próximos quatro anos assenta em quatro pilares: apoio social,
dinamização da economia local, turismo e emprego. No apoio social, o que
está previsto, se vencer as eleições de 1 de outubro?
A nossa grande
preocupação tem a ver com o emprego: tentar combater o desemprego no
concelho da Ribeira Grande. Isto é uma tarefa que não depende apenas da
autarquia, mas de um conjunto de fatores. No entanto, a autarquia deve
tentar vislumbrar luz ao fundo do túnel relativamente ao desemprego.
Quanto
à parte social, por um lado queremos continuar a apoiar as famílias
carenciadas do concelho, seja através do programa de habitação
degradada, seja através do Fundo de Emergência Social que foi criado
durante este mandato.
O programa de habitação degradada foi fechado pelo anterior executivo e nós reabrimo-lo.
Em quatro anos investimos quase 600 mil euros, tanto num programa como noutro.
Mas
temos outra novidade [para o próximo mandato] que é dinamizar o emprego
no setor da economia social. Isto significa que queremos entregar às
IPSS do concelho o montante financeiro correspondente para irem buscar
pessoas ao Centro de Emprego. De uma forma geral, estamos a tentar
incentivar as 14 IPSS do concelho a irem buscar pessoas ao Centro de
Emprego, através de programas de emprego, e a componente que não é
comparticipada a autarquia tenderá a chegar a um valor que seja sinónimo
dessa diferença.
Isto permitirá que o setor da economia social possa absorver jovens desempregados qualificados.
Estamos a falar de que montante?
Um valor a rondar entre os 125 a 150 mil euros no orçamento camarário (...).
Os
seus opositores, PS e BE, nomeadamente, dizem que investiu mais em
eventos e animação turística do que no apoio social. Como reage a esta
crítica?
Causa-me alguma estranheza, porque foi precisamente nos
mandatos do Partido Socialista que o apoio social foi quase nulo e
digo-o com dados concretos: o programa de apoio à habitação degradada
foi fechado pelo antigo executivo camarário. Foi este executivo que
reabriu o programa de apoio à habitação degradada. Por outro lado, foi
este executivo que abriu o Fundo de Emergência Social que tem servido
para apoiar famílias em grave carência económica (…).
Mas também
achamos que, para tentar dinamizar a economia do concelho era preciso
investir em eventos e em fatores que pudessem atrair pessoas à Ribeira
Grande. Julgamos que a Ribeira Grande com esta dinâmica ganhou um lugar
no mapa das cidades da Região. Temos um potencial enorme enquanto
concelho a nível dos recursos, mas também em atividades que possam
atrair as pessoas, daí termos feito um forte investimento em eventos.
Estamos
de consciência tranquila, porque sabemos que estes eventos trazem
retorno económico direto para a economia local. (…) Esta aposta teve a
ver com o Plano Estratégico de Turismo que apontava que a grande lacuna
da Ribeira Grande era precisamente a falta de atrativos para que as
pessoas ficassem mais tempo no concelho.(...)
Neste momento, temos os
maiores investimentos turísticos da Região, o que revela que a
estratégia montada resultou e só podemos ficar contentes relativamente a
esse aspeto.
Ao nível da captação de investimento que está previsto fazer?
Na
captação do investimento privado, nós achamos que a Ribeira Grande
ainda pode dar um passo maior. Já deram entrada na autarquia projetos
para duas grandes unidades hoteleiras - uma de 16 milhões de euros de
investimento privado e outra de cinco milhões de euros de investimento -
que vão fazer com que o mercado possa ganhar novos postos de trabalho.
Achamos que ainda podemos captar mais investimento e de uma forma
descentralizada porque temos muitas potencialidades que podem ser
exploradas. Por exemplo, a área da geotermia pode ter um potencial
turístico, nomeadamente com o aproveitamento do calor para a criação de
piscinas quentes.(...)
Que outras áreas podem ser uma mais-valia no desenvolvimento do concelho?
O
turismo terá um papel fundamental para os próximos anos, o que
acontece não só no nosso concelho como por todos os Açores. Fomos o
primeiro concelho a ter um Plano Estratégico de Turismo que nos apontou
quais seriam os investimentos de futuro no setor, como considerarmos
que o surf é uma questão fundamental - e por isso já reservamos a marca
Ribeira Grande Capital do Surf (…).
Há outros setores da economia
que não podemos deixar de fora, como a agricultura e as pescas que são
setores fundamentais. Já para não falar da indústria que tem o maior
peso na nossa economia. O setor secundário é por tradição forte e é
nossa intenção que fique cada vez mais forte no sentido de criar cada
vez mais emprego.
Temos tido uma relação de proximidade com a indústria e temos um projeto para criar roteiros turísticos industriais (...).
Quando
é que o problema do saneamento fica resolvido, acabando de vez com a
interdição de praias como aconteceu com o Monte Verde?
O saneamento
básico na cidade ronda os 50 por cento, o que é manifestamente pouco em
pleno século XXI. Ao longo deste mandato apostamos fortemente no
saneamento básico, não só na cidade como um pouco por todo o concelho,
tendo investido cerca de 5 milhões de euros.
Neste momento, a
autarquia tem em sua posse o modelo que vai limpar de uma vez por todas a
costa da nossa cidade. É nossa intenção submeter este projeto a fundos
comunitários porque estamos a falar de uma obra a a rondar três milhões
de euros . O projeto prevê limpar a costa da cidade colocando estações
elevatórias para criar condutas de águas residuais e levá-las até à ETAR
que já existe na zona de Rabo de Peixe. (…) Temos a estimativa de
começar a construir esta conduta já no próximo orçamento camarário.
(...)
O BE denunciou a situação precária dos trabalhadores da Caldeira Velha. Como reage a esta denúncia?
Neste
momento quase todos os trabalhadores estão na situação de tarefeiros ,
ou seja, a recibo verde. Se a gestão se mantiver na Câmara - e temos
indicação que sim - está previsto abrir o quadro de pessoal prevendo que
quem está em regime de tarefa possa ser incorporado diretamente. (…)
Foi
o único autarca de São Miguel que se insurgiu contra a construção de
uma incineradora, mas acabou por votar favoravelmente no projeto. O que o
levou a mudar de opinião?
A decisão foi unânime porque foi conseguida a colocação de um Tratamento Mecânico Biológico à cabeça da incineradora.
Nós
nunca fomos contra a incineradora, achamos que os resíduos numa ilha
como São Miguel têm de ser tratados ou resolvidos. (...)
Estou em
crer que se não fosse esta polémica, poucos saberiam de que projeto
estamos a falar e acho que pelo menos conseguimos esmiuçar o que vai ser
feito. No entanto, na minha opinião pessoal foi uma vitória colocarmos o
Tratamento Mecânico Biológico à cabeça da incineradora, porque para
além da razão económica, vai criar postos de trabalho.
Está confiante na sua reeleição?
Estou
confiante e de consciência tranquila pelo trabalho desenvolvido.
Julgamos que, para além de obra física, conseguimos dar vida a uma
cidade que estava morta.
No entanto, o trabalho nunca está concluído,
não é em quatro anos que vamos mudar o mundo, por isso julgamos que
precisamos de mais tempo para concluir obras estruturais.