Açoriano Oriental
Pescadores em terra preocupados com futuro face à escassez de sardinha
O aumento da interdição à pesca da sardinha está a amedrontar os pescadores do cerco de Peniche por a atividade estar a tornar-se sazonal e não conseguirem capturar outras espécies que lhes garantam a sustentabilidade das embarcações.
Pescadores em terra preocupados com futuro face à escassez de sardinha

Autor: LUSA/AO Online

Aos dias de tempestade no mar dos últimos dias, junta-se o período de 'defeso biológico', decidido pelo setor para melhor gerir o 'stock' de sardinha, que tem vindo a decrescer nos últimos anos. Em Peniche, existem cerca de 15 embarcações da pesca do cerco. A maioria está parada, como são os casos de "Avó Varela" e " Mestre Comboio", cujos armadores aproveitaram a paragem para fazer reparações. Ambos pretendem arriscar a sair para o mar, na esperança de conseguirem capturar outras espécies, que lhes permitam tirar alguma rentabilidade e equilibrar as contas ao fim do ano. "Vou arriscar, tendo consciência da restrição de não poder capturar sardinha e de que não é a melhor altura, porque foi uma paragem muito longa e fiz um grande investimento na embarcação e nas redes e tenho de tentar amortiza-lo", afirma à agência Lusa, Joaquim Paulo Leitão, proprietário do "Mestre Comboio." Contudo, ambos partilham da incerteza de a faina conseguir pagar os custos de produção, desde combustíveis, seguros e salários dos pescadores. Para Carlos Pacheco, mestre da embarcação "Avô Varela", não compensa capturar outras espécies, como o carapau, porque não dá para as despesas. "As traineiras do cerco vão para o mar à segunda-feira e os arrastões pescam ao fim de semana e vendem o carapau na lota à segunda-feira. Quando nós chegamos, já o mercado está todo abastecido. Além disso, não vendemos a menos de cinco euros o cabaz de 22,5 quilogramas, porque não nos compensa, enquanto os arrastões chegam a vender carapau a dois cêntimos. Se houvesse sardinha, a história era outra, porque com a falta que há de sardinha nas fábricas já dava para fazermos algum dinheiro", explica o armador. A opinião é partilhada por Joaquim Paulo Leitão. Apesar de querer arriscar voltar ao mar, antes de 15 de março, data em que termina o defeso, o armador admite que "há dias em que o carapau vale alguma coisa e outra em que o vende muito barato ou volta a deitar ao mar". "A única espécie que se vende e que tem algum valor é a cavala", refere, acrescentando que, mesmo assim "não se compara à sardinha" em termos de valor comercial. De acordo com a Associação Nacional das Organizações da Pesca do Cerco, a interdição da pesca da sardinha e a consequente paragem das embarcações do cerco, desde meados de setembro até meados de março, levaram em Peniche ao desemprego temporário de mais de duas centenas de pescadores, seus tripulantes. Nos últimos quatro anos, o aumento do período de interdição das capturas da sardinha, que em 2014 atingiu cinco meses, a pesca do cerco está a tornar-se cada vez mais sazonal, levando armadores e pescadores a temerem pelo seu futuro. "Muita gente comece a procurar outros caminhos de sustento com salário certo. Ter gente para o mar começa a ser difícil", lamenta Carlos Varela.

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