Açoriano Oriental
Pároco do Corvo tem "vida santa" na mais pequena ilha dos Açores
O pároco do Corvo, a mais pequena ilha nos Açores, celebrou em 2015 dois batismos, registou sete óbitos e não contabilizou nenhum casamento, admitindo ter uma "vida santa" numa comunidade onde o "stresse é uma ave rara".

Autor: Lusa/AO Online

 

“Na verdade, é [uma vida santa]”, afirmou à agência Lusa o padre Artur Cunha, de 64 anos, há três instalado na Vila do Corvo, depois de 20 anos na ilha de São Jorge, a que soma mais um no Faial.

Natural de São Jorge, o sacerdote emigrou aos 16 anos para os Estados Unidos da América, onde se formou e exerceu a docência, tendo, após a morte dos pais, ingressado no seminário da Arquidiocese de São Francisco. Foi ordenado sacerdote em 1984 e em 1992 regressou aos Açores.

Para o sacerdote, apesar de ser “a ilha mais pequenina do arquipélago”, contabilizando no seu “rebanho” cerca de 400 almas, é “muito gratificante” viver no Corvo, onde até hoje o Governo Regional cumpre uma visita estatutária.

“É uma comunidade pequena, o nosso novo bispo dos Açores [João Lavrador] diz que é uma família. Na verdade, é. Noutras ilhas, há paróquias que têm cinco a dez vezes mais população que nós temos”, admitiu, destacando “uma vantagem” do Corvo, com 17 quilómetros quadrados: “A tensão, a pressão do dia-a-dia, o stresse – podemos dizer - é uma ave rara aqui”.

Segundo Artur Cunha, o Corvo é, “realmente, uma família”.

“Especialmente na parte mais velha da vila, as casas ficam porta com porta, porque foram mesmo construídas assim para se protegerem das grandes tempestades que açoitavam o Corvo em anos passados. E, portanto, protegiam-se em todos os aspetos, as famílias protegem-se em todos os aspetos”, declarou.

O pároco recorda o que deixou para trás, nomeadamente o trabalho em São Jorge, onde “tinha duas paróquias grandes”.

“Tinha muito trabalho, muitas reuniões, por isso eu creio que seria muito difícil para mim exercer esse trabalho lá, o múnus paroquial lá, nestas condições”, referiu, dando conta de que esta foi uma das razões que o levou a pedir para se fixar na Vila do Corvo.

Acresce um problema oftalmológico que “limita muito” o trabalho paroquial, reconhecendo ser “vantajoso” estar na ilha, pois não tem “tanto trabalho” como os colegas.

“Mas é, também, um lugar excelente para descansar o espírito, para a paz interior. Nós costumamos dizer que temos tudo de bom, só em ponto mais pequeno”, apontou.

Negando sentir-se isolado, Artur Cunha contrapõe com a ajuda e o apoio da população - da família como também lhe chama -, assegurando que no Corvo “fica-se isolado se se quer ficar isolado”.

O sacerdote celebra missa diariamente na Santa Casa da Misericórdia. “É melhor do que na igreja. Na igreja talvez teria uma meia dúzia de pessoas ao passo que na Santa Casa temos uma dúzia ou mais por dia”, declarou, exemplificando com os utentes e visitantes. No fim de semana celebra também na igreja paroquial.

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