Açoriano Oriental
'Papabili' escolhidos à imagem e semelhança de Bento XVI e João Paulo II
Os cardeais indicados como candidatos a papa tem perfis semelhantes, são conservadores e estão mais preocupados em impedir que a fé se dilua do que dar início às reformas pretendidas, nas questões sociais, por todo o mundo.
 'Papabili' escolhidos à imagem e semelhança de Bento XVI e João Paulo II

Autor: Lusa/AO Online

Os 115 cardeais eleitores, grupo no qual se encontram todos os "papabili" [candidatos a papa], que participam no conclave foram todos criados por João Paulo II - sob conselho do cardeal Joseph Ratzinger, então guardião do dogma - ou, em seguida, por Bento XVI.

Para estes dois papas, a solidez da doutrina, a vontade de manter e proteger a fé, vivida de forma completa, foram preocupações constantes. As reformas vinham depois.

Entre os "papabili" por vezes citados, um exemplo ilustra perfeitamente este receio de dispersão: o cardeal cingalês ultra-conservador Malcolm Ranjith, homem corajoso na reconciliação dos cingaleses em plena guerra civil, insistiu num regresso à liturgia para "garantir que as tradições católicas permanençam intactas" na cultura local.

Do italiano Angelo Scola ao canadiano Marc Ouellet, do brasileiro Odilo Scherer ao austríaco Joseph Schonborn e ao húngaro Peter Erdo e aos norte-americanos Timothy Dolan e Sean O'Malley, as principais personalidades cujos nomes circularam nos últimos dias tem semelhanças evidentes com os seus mentores.

Todos acentuam a necessidade de "purificação" da Igreja, mas não são em nada revolucionários, nem fundamentalmente reformistas.

De acordo com as análises destes teólogos, apoiados na perspetiva de Joseph Ratzinger, a fé destrói-se quando não é afirmada, quando se funde com os valores mundanos. A prova do êxito da Igreja são os movimentos tradicionais e de identidade, incluindo nos jovens.

Todos estes "papabili" são dogmáticos, homens de grande formação teológica, de vasta cultura, poliglotas, que, de certa maneira, querem modernizar a comunicação da fé, mas sem a modificar. Querem uma Igreja aberta, mas de combate, por exemplo, nos temas da vida e da família. A maioria destes candidatos tem, paralelamente, tomadas de posição muito firmes no plano social, como nas questões da imigração, pobreza e guerra.

De acordo com o vaticanista do semanário L'Espresso, Sandro Magister, "eles têm todos a mesma orientação, de raiz 'ratzinger', e por isso os seus votos não se poderão opor uns aos outros".

Durante o "pré-conclave", que terminou hoje, a apresentação deficiente da mensagem do Evangelho nas sociedades secularizadas, os escândalos e o mau governo da Igreja foram apontados ao dedo. Eficácia, simplificação da Cúria e alterações na organização mundial com algumas formas de autonomia local, também foram abordadas.

Prudentes reformas sobre o papel das mulheres - a possibilidade de acesso ao diaconato - e sobre o lugar na Igreja dos divorciados que se voltaram a casa poderão estar na ordem do dia para o futuro papa.

Mas, desta vez, não há um grande candidato reformador, como era o caso, em 2005, do cardeal de Milão Carlo Maria Martini, que morreu em 2012, de acordo com os vaticanistas.

Martini pretendia abrir o debate sobre estas questões de comportamentos e novos modelos sociais, como a questão da desagregação do conceito tradicional de família, os casais homossexuais, para os receber melhor na Igreja.

A característica que poderá permitir a um candidato sobressair em relação dos outros, em caso de bloqueio na votação no conclave, poderá ser o carácter mais enérgico, carismático, extrovertido, de acordo com Sandro Magister.

Considerado o "número um" na lista de candidatos, Angelo Scola, é conservador, defensor da família tradicional, muito próximo de Bento XVI, mas aberto ao mundo - dirige uma fundação e uma revista, Oasis, de diálogo com o Islão.

O cardeal de Boston (EUA) Sean O'Malley tornou-se conhecido pela ação enérgica contra a pedofilia.

Odilo Scherer, de 63 anos, enérgico e bom administrador de uma enorme diocese - a maior do continente latino-americano - e que trabalhou durante sete anos na Congregação dos bispos em Roma, será o candidato preferido de personalidades importantes na Cúria romana e próximas do cardeal italiano Giovanni Battista Re.

O cardeal Ouellet presidiu durante o pontificado de Bento XVI à Congregação dos bispos (função sensível e essencial) e durante muito tempo trabalhou na América Latina, o que poderá atrair os votos sul-americanos. É conservador em relação aos costumes, intransigente no conteúdo da fé, combativo, mas não político nas questões de justiça social.

Por outro lado, o arcebispo de Manila, cardeal Luis Antonio Tagle, de 55 anos, já não é tão referido entre os candidatos, ao passo que o arcebipo de Nova Iorque, Timothy Dolan, parece ter boas hipóteses.

Este conservador moderno é o representante de uma Igreja norte-americano viva e que soube reerguer-se depois dos escândalos de pedofilia que a abalaram no início dos anos 2000.

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