Autor: Cristina Pires / Rui Jorge Cabral
Porque aceitou o desafio de se candidatar à Câmara da Povoação?
Porque
olho para a minha terra, onde nasci e cresci e vejo que há muita coisa
que é preciso fazer. Vejo também que no passado e atualmente a Povoação
não se tem desenvolvido muito. Foi por isso que aceitei o convite para
me candidatar à Câmara da Povoação.
Quando fala na falta de desenvolvimento do Concelho da Povoação, a que é que se refere?
A Povoação está parada no tempo... Não há novas infraestruturas, não se fazem planos e a economia estagnou já há algum tempo.
Esta
é uma situação que faz os residentes no Concelho perderem o interesse
em viver na Povoação, principalmente os jovens, que não veem perspetivas
de futuro. Mas também retira o interesse às pessoas do fora do concelho
de irem viver para a Povoação.
O que é que a fez interessar-se pela política?
Comecei
a interessar-me pela política a partir dos 18 anos e, daí para cá,
tenho acompanhado os meus colegas de partido nas suas lutas, tentando
também dar o meu contributo, através da minha intervenção.
Em que
medida acha que a sua juventude e o facto de trabalhar numa área - o
turismo - em grande crescimento neste momento, podem ser mais-valia para
a sua candidatura à Câmara da Povoação?
Na área do turismo, creio
que a minha experiência pode ser uma mais-valia, porque sei o que os
turistas procuram e o que está em falta. Falando da Vila da Povoação,
noto que falta criar interesse numa visita à vila...
Dou-lhe um
exemplo: muitas vezes e falando com turistas, basta dizer-lhes que foi
na Povoação que se fixaram os primeiros habitantes da ilha, que eles
ficam logo mais interessados em ir à Povoação. Contudo, também me dizem,
depois de lá ir, que a Povoação não tem mais nada para ver... E é
verdade! O Turismo na Povoação acaba nas Furnas e não passa dali...
No seu entender, o que é preciso fazer para mudar esta imagem?
É
preciso criar instalações hoteleiras para os turistas ficarem na
Povoação, embora o concelho seja grande e não se deva resumir às Furnas e
à Vila da Povoação.
É preciso, por isso, dinamizar também as
freguesias e criar pontos de interesse para os turistas, como museus,
bares e restaurantes que fiquem abertos até mais tarde e não apenas até à
hora do jantar... Locais que possam interessar aos turistas, mas também
aos locais, para quem, atualmente, a vida ‘acaba’ na Povoação a seguir à
hora do jantar.
Ou seja, se alguém quiser tomar um café mais tarde com um grupo de amigos, vai para as Furnas...
E o que pode a Câmara da Povoação fazer para incentivar a dinamização da economia local ao nível do turismo?
Pode
fazer exatamente isso: incentivos para a abertura de novos negócios,
seja a quem já está nessa área noutros concelhos e queira expandir-se
para o concelho da Povoação; seja incentivando mais os jovens a quererem
ser empreendedores. Basicamente, é por aqui que passa esse incentivo à
dinamização da economia na Povoação.
Do seu ponto de vista, o turismo pode ser uma saída para a criação de riqueza e de emprego no concelho?
Sem dúvida... E basta ver o crescimento que o turismo gerou noutras partes da ilha... E porque não na Povoação?
No
entanto, o envelhecimento da população e a fuga dos mais jovens para os
centros urbanos são problemas para a Povoação, como aliás já referiu. O
que é que propõe para minimizar estes dois problemas?
Proponho
sobretudo fazer com que os jovens tenham o gosto de ficar na Povoação,
já que muitas vezes os jovens vão para Ponta Delgada ou para a Ribeira
Grande, porque na sua área de formação não encontram trabalho na
Povoação.
Mas com que medidas concretas pretende conseguir fixar os jovens no Concelho da Povoação?
Potenciando
o muito que a Povoação tem para oferecer, não só na Vila, mas também
nas freguesias, um potencial que está muito pouco explorado....
Mais
uma vez, volto à questão do turismo: o turismo rural e de natureza,
porque a Povoação é linda e a natureza é o que de mais forte o concelho
tem. E para a potenciar, não precisamos de um turismo de ‘massas’...
Diversificar
a agricultura é outra das suas propostas. O que é que defende nessa
área e quais são as suas principais preocupações em relação a este setor
da economia?
As terras na Povoação são muito ricas e muito férteis... É,
por isso, necessário aproveitá-las e esta é uma área onde, no meu
entender, se pode também criar mais emprego e fazer com que a economia
da Povoação também cresça.
É importante ainda interessar os jovens
pela agricultura, incentivando diferentes culturas... Porque não há
muitos jovens hoje em dia que se interessem pela agricultura. Inverter
isso passa por incentivar os jovens a serem mais empreendedores.
Eu,
por exemplo, defendo que se deveria voltar a algumas técnicas antigas
na agricultura, mais respeitadoras da natureza e recorrendo menos à
utilização de fertilizantes químicos, que acabam por ‘entrar’ na planta
e, da planta, vêm para nós, acabando por causar doenças...
Sou
defensora da agricultura, tal como a aprendi, em parte, através do que
ouvia o meu avô dizer... Uma agricultura na sua essência.
Mas
acredita que ainda é possível, nos tempos atuais, praticar a mesma
agricultura dos nossos antepassados? Estarão os mais velhos disponíveis
para ensinar e os mais novos disponíveis para aprender?
Os mais
velhos acredito que terão muito gosto em ensinar, sobretudo a partir do
momento em que virem que há jovens que querem aprender.
Quanto aos mais jovens, começa-se já a sentir um pouco por todo o mundo um espírito de mudança.
Penso
que os jovens de hoje começam a querer ser mais ‘verdes’, contrariando a
utilização dos químicos, que no seu entender fazem mal à agricultura.
Pouco a pouco, vejo as pessoas a mudar a sua forma de pensar.
Também
defende melhores condições para os pescadores, nomeadamente no Porto da
Ribeira Quente. Do seu ponto de vista, quais são os problemas dessa
infraestrutura?
Tanto no Porto da Ribeira Quente, como no Porto da
Vila da Povoação e sendo estas localidades muito viradas para o mar, a
pesca é muito importante para a economia.
É verdade que as obras que
foram feitas melhoraram as condições... Contudo, não é o suficiente,
porque o que um porto deve fazer, em primeiro lugar, é proteger os
pescadores e os seus barcos em alturas de mau tempo...
A situação
financeira da autarquia da Povoação não tem sido boa nos últimos anos e a
câmara chegou mesmo a estar à beira da ‘falência’ em 2009. O atual
executivo afirma, contudo, ter reduzido o passivo em mais de 23 milhões
de euros... Como é que vê a situação financeira da Câmara da Povoação?
Esta é uma situação que me preocupa, visto que no passado foram feitas algumas ‘asneiras’...
E
falo de obras que não deveriam ter sido feitas, como as piscinas, que
ainda hoje eu e outras pessoas na Povoação estamos a tentar perceber que
estudos foram feitos para que as piscinas avançassem...
Mas a obra
avançou e eu não percebi porque é que avançou, assim como a maior parte
das pessoas na Povoação também não perceberam...
Alguém falhou e é
preciso apurar responsabilidades sobre o que é que foi feito e como é
que a Povoação acumulou uma dívida tão grande.
Apesar da dívida, defende que é preciso criar novas infraestruturas na Povoação. A que obras se refere?
Refiro-me
a obras na restauração, por exemplo. Manter o que já temos, mas tentar
dar um outro impulso ao concelho, sobretudo nas freguesias mais
pequenas. Dou-lhe o exemplo do Faial da Terra, que é lindíssimo mas quem
lá desce encontra apenas dois Cafés... As pessoas nesses dois Cafés são
muito simpáticas, não é isso que está em causa, mas entendo que é
preciso incentivar os jovens a serem empreendedores e a fixarem-se nas
freguesias, criando oportunidades de emprego, para si e para os outros e
tentando, com isso, chamar o turismo e fazer com que os turistas fiquem
na Povoação.
Estamos a cerca de um mês do início da campanha
eleitoral... Dos contactos que tem tido com as pessoas, como é que acha
que os povoacenses estão a reagir à sua candidatura?
Em relação à minha candidatura, sinto que as pessoas questionam a minha idade e o facto de não viver atualmente na Povoação.
Contudo,
a minha resposta sobre o não viver na Povoação é a de que, como muitos
outros jovens do concelho, eu também tive de ir para Ponta Delgada à
procura de novas oportunidades e de algo que me fizesse crescer enquanto
pessoa.
E também procuro lembrar às pessoas que, pelo facto de eu
atualmente ver a Povoação de ‘fora’, isso pode dar-me uma perspetiva
diferente e a capacidade de ver coisas que quem está ‘dentro’ não
consiga perceber. Para além disso, a Povoação será sempre uma terra
que está no meu coração e eu quero muito que a Povoação vá mais além...
Por
fim e voltando à questão de ser jovem, também há pessoas que ficam
contentes por eu ser uma candidata jovem, com novas ideias e que está a
ver a terra ‘de fora’.
Ou seja, para a mesmas questões, há quem veja um lado ‘bom’ e quem veja um lado ‘mau’ na minha candidatura.
Por
isso, durante a campanha eleitoral, irei tentar fazer com que as
pessoas compreendam que, realmente, um outro ponto de vista seria e é
importante para a o Concelho da Povoação.