Açoriano Oriental
Maria Júlia Avelar divulga os seus trabalhos tanto na ilha como fora desta
"Não é fácil ser artesã nas Flores"

"Não é fácil ser artesã nas Flores!" A afirmação é de Maria Júlia Avelar que, ainda assim, persiste na atividade mais por gosto do que por outra coisa qualquer. A população é pouca, as vendas também e sente que falta valorizar esta arte. "Ser artesã, aqui, é por amor à arte, por gostar de fazer artesanato, porque não valorizam o trabalho que se faz por cá. Um ou outro valoriza mas, a maior parte, não", lamenta.


Autor: Célia Machado

Encontramo-la, pela primeira vez, sentada no banco da paragem do autocarro, a aguardar a viagem serpenteada que liga Santa Cruz das Flores a Ponta Delgada. Com tom de voz afável responde às nossas perguntas sobre horários e viagens dos transportes públicos e a conversa desenrola-se a partir daí, até dizer-nos que é artesã. Quando revela o seu nome reconhecemo-lo de algumas etiquetas colocadas junto a bordados e outros trabalhos em exposição no Quiosque PopCraft que o Centro Regional de Apoio ao Artesanato (CRAA) havia colocado na Vila de Santa Cruz das Flores. Entretanto, aquele que era um grande expositor dos produtos manuais dos artesãos locais, acabou por ser destruído pelo vento, disse-nos recentemente.

Mas Maria Júlia, de 59 anos, é mulher de muitos recursos e já há algum tempo que havia criado a sua própria página na internet, em https://cantinhodopontocruzdajulia.blogspot.pt. "Até do Brasil recebo mensagens", diz-nos orgulhosa, em conversa no "Facebook", ao qual dedica algumas horas. É no seu blogue que publica fotografias dos naperons, pegas, toalhas e outros trabalhos que embeleza com ponto cruz e jugoslavo, principalmente, e também renda. E ainda que nem sempre compense, durante todo o ano, seja em que estação for, Maria Júlia e duas amigas vão mantendo em atividade um pequeno espaço à sua responsabilidade em Santa Cruz, no qual vendem o que produzem. É o Cantinho do Artesanato, mesmo em frente ao Posto de Turismo, que abriu portas há dois anos. Costuma funcionar três dias por semana mas, de inverno, não tem horário fixo e as vendas são raras nesta estação fria.

Convidada a ser artesã profissional

Como tantas outras mulheres, recebeu os primeiros e principais ensinamentos em diversas artes no seio familiar. "Aprendi muita coisa com a minha avó materna. Era muito perfeita e fazia o que queria em trabalhos de mãos", recorda. "Aos seis anos fiz a minha primeira peça, umas pegas em rabo de gato", conta-nos ainda.

Das suas mãos saem os mais diversos trabalhos. E, ainda antes de ser artesã credenciada, já participava em feiras e outros eventos com as suas obras artesanais. Foi em 2003, numa feira durante as festividades em honra de São João, em Santa Cruz das Flores, que foi contactada pelo CRAA no sentido de profissionalizar-se. "Uma semana depois do convite do CRAA legalizei-me e fiz a minha carta de artesã", afirma. Novas oportunidades abriram-se à sua frente e tem-nas aproveitado, participando em exposições e ações de formação em diversas ilhas.


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