Açoriano Oriental
Literatura
Morreu o escritor Ruy Duarte Carvalho
O escritor, poeta, cineasta, artista plástico, e antropólogo Ruy Duarte Carvalho morreu na sua casa na cidade de Swakopmund, na Namíbia, aos 69 anos, disse esta quinta-feira  a escritora angolana Ana Paula Tavares.

Autor: Lusa / AO online
O escritor e antropólogo Ruy Duarte de Carvalho, falecido aos 69 anos na Namíbia, onde residia, era considerado pelos seus pares um dos maiores nomes da literatura de língua portuguesa.

Português, e naturalizado angolano na década de 1980, Ruy Duarte de Carvalho foi um autor multifacetado, cuja obra se estende das artes plásticas ao cinema, passando pela antropologia e também pela poesia.

Ele costumava descrever a sua obra como “meia-ficção-erudito-poético-viajeira”.

Nascido em Santarém em 1941, passou parte da infância e adolescência em Moçâmedes, na província de Namibe, mas regressou à terra natal para frequentar o curso de regente agrícola, que concluiu em 1960.

Retornado a Angola, aí exerceu a profissão, percorrendo as grandes regiões angolanas em que se encontram implantadas áreas da agricultura de rendimento, trabalhando no sector da cafeicultura e conhecendo igualmente as práticas agro-pastoris tradicionais, também chamadas de subsistência.

Em 1967, passou a ocupar-se da criação de ovinos caraculo no sul de Angola e quatro anos depois abandonou esta actividade, fixando-se temporariamente em Maputo e Londres.

Na capital britânica, fez um curso de realização de cinema e televisão e em 1974 regressou uma vez mais a Angola.

Mais tarde, entrou para o quadro da Televisão Popular de Angola, onde exerceu as funções de realizador de cinema.

Tornou-se cidadão angolano em 1983 e três anos depois doutorou-se em Antropologia, na École des Hautes Études de Sciences Sociales, de Paris. Lecionou nas universidades de Luanda, Coimbra e São Paulo.

Publicou, entre outras obras, «Vou lá visitar pastores» (1999), sobre os Kuvale, sociedade pastoril do sudoeste de Angola – adaptado ao teatro pelo ator e encenador Manuel Wiborg e estreado na Culturgest, em Lisboa – e “Actas da Maianga – Dizer da(s) guerra(s) em Angola” (2003).

Na poesia, editou «Chão de Oferta (1972)», «A Decisão da Idade» (1976), «Observação Directa» (2000) e “Lavra”, em que reuniu poemas escritos entre 1970 e 2000.

Na ficção, é autor de “Os Papéis do Inglês” (2000), “Como se o Mundo não tivesse Leste” (1977), “Paisagens Propícias” (2005) e «Desmedida» (2006), que lhe valeu o Prémio Literário Casino da Póvoa 2008, entregue no âmbito do encontro de escritores de língua portuguesa e espanhola Correntes d’Escritas.

Depois de estudar cinema, gravou numerosas horas de cinema direto, filmando as populações do sul de Angola e realizou as longas-metragens “Nelisita: narrativas nyaneka” (1982) e “Moía: o recado das ilhas” (1989).

Em 2008, o Centro Cultural de Belém realizou um ciclo sobre a sua vida e obra, o primeiro que dedicou a um autor de língua portuguesa.

Depois de se aposentar, em 2008, passou a residir na segunda maior cidade da Namíbia, Swakopmund, e foi em casa que foi hoje encontrado sem vida.
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