Açoriano Oriental
Minuto de silêncio seguido de aplausos ao trabalho dos cartoonistas
Centenas de parisienses concentraram-se ao meio-dia desta quinta-feira (11:00 em Lisboa), sob chuva intensa, na rua do jornal satírico Charlie Hebdo, em Paris, para homenagear com um minuto de silêncio as vítimas do ataque de quarta-feira.
Minuto de silêncio seguido de aplausos ao trabalho dos cartoonistas

Autor: Lusa/AO online

 

Depois do silêncio, as palmas ecoaram entre a chuva em sinal de solidariedade e para agradecer o trabalho dos cartoonistas vedetas do jornal que foram assassinados.

Marine Larrere, de 24 anos e estudante em comunicação social, fez questão de estar presente porque quer ser jornalista, "a mais bonita profissão do mundo".

"Vim por causa do horror do drama, nunca tínhamos visto algo assim. Os mais velhos lutaram pela liberdade de expressão e estes bárbaros tentaram matá-la. Mas não conseguiram, nem vão conseguir", diz a jovem à Lusa, acrescentando estar muito emocionada e ver alguma esperança no facto de centenas de pessoas se terem reunido.

Gérald Bloncourt, o fotojornalista que filmou os bairros de lata portugueses nos anos 1960 em Paris, também fez um minuto de silêncio e conta à Lusa que veio manifestar a sua solidariedade enquanto jornalista.

"Sou um combatente haitiano, luto há 60 anos contra o fascismo. É um escândalo que estes sacanas tenham sido capazes de assassinar a sangue frio. Isto é o fascismo absoluto", descreve o fotojornalista, de 80 anos.

Gérald Bloncourt diz que não conhecia pessoalmente os cartoonistas assassinados, mas cruzou-se com eles em reportagem. "Eram pessoas admiráveis e gentis. Eles faziam parte do meu universo e eram um garante de democracia. Estamos numa guerra”, acrescenta.

Jean-François é dono de uma empresa e deu o dia de folga aos empregados para que pudessem fazer o luto do ataque de quarta-feira. Decidiu fazer um minuto de silêncio junto ao jornal e trouxe a esposa e os dois filhos.

É com a voz muito embargada e as lágrimas nos olhos que diz: "O Charlie Hebdo é um símbolo de liberdade e de contestação. Trabalhei num liceu difícil com pessoas de diferentes nacionalidades e senti o ambiente a mudar. Já se sentiam as tensões. Acho que chegámos ao pior que podíamos imaginar. O inevitável aconteceu".

 

Outro presente no meio da multidão foi um vizinho que, na quarta-feira, ouviu de perto os tiros na redação do jornal.

Wang prefere não dar o apelido e conta que trabalha "no mesmo prédio", tendo decidido vir trabalhar hoje para "não se deixar intimidar".

"Quando chamámos a polícia ouvimos o tiroteio. Não sei quanto tempo durou. Quis ver o que se passava no exterior, um colega impediu-me de ir até à janela. Acabei por olhar pela janela, vi uma polícia à paisana que disparou e percebi que era um tiroteio entre a polícia e os assassinos. Os primeiros socorros vieram 15 a 20 minutos depois e vimos os feridos a serem retirados", descreve o trabalhador vizinho do jornal.

Três homens vestidos de preto, encapuzados e armados atacaram na manhã de quarta-feira a sede do Charlie Hebdo, no centro de Paris, provocando 12 mortos (10 vítimas mortais entre jornalistas e cartoonistas e dois polícias) e 11 feridos, quatro dos quais em estado grave.

Um dos autores, Hamyd Mourad, de 18 anos, já se entregou às autoridades e os outros dois suspeitos, os irmãos Said Kouachi e Cherif Kouachi, de 32 e 34 anos, terão sido vistos no norte de França.

Entre as vítimas do ataque estão os cartoonistas Stéphane "Charb" Charbonnier, 47 anos e diretor da publicação, Jean "Cabu" Cabut, 76 anos, Georges Wolinksi, 80 anos, e Verlhac "Tignous" Bernard, 58 anos.

Criado em 1992 pelo escritor e jornalista François Cavanna, o semanário Charlie Hebdo tornou-se conhecido em 2006 quando decidiu voltar a publicar ‘cartoons' do profeta Maomé, inicialmente publicados no diário dinamarquês Jyllands-Posten e que provocaram forte polémica em vários países muçulmanos.

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