Autor: LUSA/AO Online
No seu primeiro discurso do 25 de Abril, que no final recebeu palmas de todas as bancadas e foi aplaudido de pé por PSD, PS e CDS-PP, Marcelo Rebelo de Sousa declarou que, "felizmente, quanto aos grandes objetivos nacionais, há um larguíssimo acordo entre os portugueses", acrescentando: "Felizmente também, há no nosso país, neste momento, dois caminhos muito bem definidos e diferenciados quanto à governação, ao modo de se atingir as metas nacionais". O chefe de Estado voltou a apontar a saúde como uma área de fácil convergência e acrescentou outras em que seria desejável que existissem "consensos setoriais de regime", como o sistema político, o sistema financeiro, a justiça ou a segurança social. Marcelo Rebelo de Sousa apelou à estabilidade política, económica e social, disse que o país não pode andar em clima de campanha eleitoral, e salientou que o seu mandato é, por natureza, "mais longo e mais sufragado do que os mandatos partidários", salientando que "não depende de eleições intercalares". Quer nos aplausos generalizados quer nas reações após o discurso, foi notório o tom menos crispado em relação aos últimos anos, com todas as bancadas, apesar das diferenças partidárias, a salientarem algum aspeto positivo no discurso do Presidente. O PS, pela voz do presidente e líder parlamentar Carlos César, viu no discurso presidencial um aviso sério a uma oposição "sem critério" que recusa consensos essenciais, numa alusão crítica ao PSD. Já o líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, disse que o seu partido sempre esteve disponível para consensos, ainda quando estava no Governo, preferindo responsabilizar os socialistas pela sua ausência. Na mesma linha, o porta-voz do CDS-PP João Almeida disse rever-se no discurso de Marcelo, e apontou como exemplo de consensos desejáveis a reforma da segurança social. BE, PCP e PEV, pela voz de Catarina Martins, Jerónimo de Sousa e Heloísa Apolónia, respetivamente, preferiram não se comprometer com consensos em abstratom, mas salientaram as diferenças do discurso em relação ao anterior chefe de Estado, Cavaco Silva. Muito saudado pelas bancadas à esquerda, pelo Presidente da República e pelo presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, foi o regresso dos ‘Capitães de Abril’ às comemorações solenes no parlamento – de onde estiveram ausentes, por vontade própria, durante o Governo PSD/CDS-PP. No final, o presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, disse que “valeu a pena” voltar, e manifestou-se esperançado que os atuais Presidente da República, Governo e maioria parlamentar prossigam os valores da Revolução dos Cravos. No seu discurso na sessão solene, Ferro Rodrigues considerou essencial para a democracia um poder judicial "respeitado" e "prestigiado" e uma comunicação social "pluralista" e respeitadora das regras deontológicas, defendendo ainda Portugal a "uma só voz" na Europa. Pelos partidos, a deputada do PSD Paula Teixeira da Cruz acusou a maioria parlamentar de esquerda de intolerância e de ter um "discurso pueril" e o PS de uma governação demagógica. O líder da Juventude Socialista (JS), João Torres, em nome da bancada socialista, criticou as desigualdades em Portugal, dizendo que os jovens emigrantes são os ‘refugiados' da incapacidade económica e social, e defendeu que o atual Governo quer repartir melhor. O deputado do BE Jorge Costa considerou que as decisões tomadas pela atual maioria parlamentar são a melhor homenagem à Constituição, mas avisou que enquanto existirem portugueses a viverem com privações ninguém espere que os bloquistas "se reduzam à ternura dos 40", numa referência à idade da Constituição portuguesa. O líder parlamentar do CDS-PP, Nuno Magalhães, aproveitou o discurso na sessão solene do 25 de Abril para desafiar os deputados a discutir, rever e votar o Programa de Estabilidade, dizendo que o documento é "pouco credível nas projeções, pouco prudente nas finanças públicas, pouco ambicioso na confiança e muito preocupante" quanto ao investimento e crescimento. A deputada do PCP Rita Rato sublinhou o afastamento do poder de PSD/CDS-PP, que apresentou como uma oportunidade que não pode ser desaproveitada para continuar a defender direitos garantidos pela Constituição da República, intervenção que gerou uns breves apartes de protesto das bancadas social-democrata e centrista. O PEV, pelo deputado José Luís Ferreira, classificou o 25 de Abril de hoje como um "regresso" à "normalidade constitucional", e sublinhou que, se a nova configuração parlamentar permitiu "dizer adeus às inevitabilidades", seria irresponsável não contribuir para a aproximação aos valores da revolução. Na sua primeira participação numa sessão solene do 25 de Abril, o deputado único do PAN, André Silva, sublinhou que o "processo de democratização não tem fim" e que a "agenda política também tem um coração que reconhece que todas as formas de vida”.