Autor: Lusa/AO online
"O que peço é que o presidente do Governo Regional interceda junto do Governo central para que nos respeitem", disse à agência Lusa Nádea Amaral, de 40 anos e enfermeira há 17.
Os enfermeiros, trajando 't-shirt' preta e alguns com cravo na mão, empunhavam cartazes com inscrições "respeito", "basta" e "justiça", que replicavam em palavras de ordem que entoavam, ouvindo-se também "ministro para a rua, a luta continua".
Simbolicamente, alguns dos manifestantes acorrentaram-se e outros apresentavam-se de fita-cola preta na boca.
"Querem calar-nos, mas não vão conseguir", justificou uma enfermeira.
Com licenciatura e mestrado e agora a tirar uma especialidade, Nádea Amaral adiantou que "há meses em que leva menos de 1.10 euros de salário", assinalando que "as exigências e os objetivos são cada vez maiores em termos de saúde".
"Sinto-me insultada pelas palavras do senhor ministro da Saúde", salientou, referindo que "se não está mais gente nas manifestações é porque está a assegurar os serviços mínimos".
Nádea Amaral salientou que a greve de cinco dias, que hoje termina e à qual aderiu "tem um custo substancial", notando que é-lhe retirado um quarto do ordenado.
Já Sara Amaral, de 39 anos e enfermeira há 16, disse que a luta "é pelo reconhecimento, respeito e remuneração justa".
A enfermeira do hospital de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, que pediu a suspensão do título de enfermeira obstetra, declarou que esse dia "foi muito triste".
"Custou-me muito. Fiz a especialização e não foi só o custo financeiro, mas também o familiar", referiu, apelando para que o presidente do executivo açoriano, Vasco Cordeiro, "faça pressão junto do Governo Central para a resolução" da situação.
O protesto, que começou pelas 16:30 locais (mais uma hora em Lisboa), culminou com a entrega de uma missiva a Luísa Schanderl, chefe de gabinete do presidente do executivo regional que está ausente da ilha de São Miguel.
No documento, subscrito pelos enfermeiros presentes, estes explicam que a pretensão da classe "é a negociação de uma carreira para todos" assente em princípios como a uniformização de horários de trabalho para as 35 horas semanais ou a introdução da categoria de enfermeiro especialista, mas também a "revisão das tabelas remuneratórias".
"Consideramos as nossas propostas justas para a nossa classe e adequadas ao contexto político-financeiro nacional em que nos encontramos", refere a missiva, que pede ao presidente do Governo dos Açores, Vasco Cordeiro, intervenção junto do primeiro-ministro e do ministro da Saúde "na defesa e valorização da classe de enfermagem nacional e dos enfermeiros" do arquipélago.
Os enfermeiros cumprem hoje o último de cinco dias de greve nacional. Várias cirurgias programadas foram adiadas e muitas consultas canceladas na sequência desta paralisação.