Açoriano Oriental
Linhas programáticas da Frente de Libertação dos Açores são de Mota Amaral
O ex-presidente da Assembleia da República e do Governo dos Açores Mota Amaral foi o responsável pelas linhas programáticas da Frente de Libertação dos Açores (FLA), disse à agência Lusa o dirigente do movimento independentista José Ventura.
Linhas programáticas da Frente de Libertação dos Açores são de Mota Amaral

Autor: Lusa/AO online

 

"Mota Amaral teve uma altura em que se dirigiu a mim e eu escrevi à máquina os princípios do movimento [Frente de Libertação dos Açores]", garantiu José Ventura, quando se assinalam 40 anos sobre a manifestação do 06 de junho de 1975, em Ponta Delgada, nos Açores.

A manifestação juntou cerca de 10 mil pessoas, predominantemente lavradores, que se batiam por diversas revindicações e contra o regime de então de Lisboa. A concentração acabou por ficar conotada com a defesa da independência dos Açores e com a FLA, cujo fundador e líder histórico, José de Almeida, faleceu a 01 de dezembro de 2014.

José Ventura, que já foi líder do Partido Democrático do Atlântico (PDA), força política conotada com a defesa da independência dos Açores, explica que depois de ter datilografado as palavras de Mota Amaral, os princípios programáticos da FLA "foram distribuídos num dia à noite, em caixotes de peças de automóveis", pelas diferentes ilhas.

A FLA é um movimento independentista fundado após a revolução do 25 de abril de 1974.

Segundo José Ventura, Mota Amaral, que manteve encontros com José de Almeida sobre o futuro dos Açores, afastou-se, no entanto, do ideal independentista.

"O próprio Mota Amaral referiu ainda outro dia que tinha estado perto do ideal independentista. Se ele nesta altura apoiava essa solução para os Açores porque não apoiará hoje?", questionou.

O dirigente do movimento independentista açoriano lembra uma carta aberta do fundador da FLA a Mota Amaral "por causa da situação de traição" de que acusava o ex-presidente do Governo dos Açores.

A Lusa tentou contactar Mota Amaral por causa destes episódios, mas sem êxito, até ao momento.

Questionado sobre o papel que os EUA desempenharam nas pretensões independentistas de 1975 nos Açores, José Ventura declara que os norte-americanos, acima de tudo, procuraram defender os seus interesses.

"Não há dúvida de que eles acompanharam muito de perto todo o evoluir do nosso movimento. Havia um grande entrosamento de informação da cônsul dos EUA em Ponta Delgada com a sua Administração. Houve sempre, sim, uma certa reserva dos EUA de vir a público defender diretamente os intentos do movimento", garante.

Documentos secretos dos EUA que foram desclassificados revelam que Washington possuía vários planos para os Açores, na eventualidade de haver uma deriva comunista no governo português, que passavam também por apoiar a independência do arquipélago, visando defender os seus interesses militares nas ilhas.

José Ventura recorda que houve um "grande" economista norte-americano que promoveu um estudo de viabilidade dos Açores independentes em 1975, que foi reconhecido por instituições dos EUA com que os elementos da FLA mantiveram contatos naquela altura.

O dirigente da FLA, que neste momento é dirigida por um diretório de cinco elementos, do qual faz parte, está convicto que hoje seria mais viável para os Açores, em termos económicos, serem independentes.

Para assinalar os 40 anos do 06 de junho, a FLA vai promover uma jantar no sábado e homenagear José de Almeida, com uma missa e a deposição de uma coroa de flores na campa do líder histórico do movimento.

José Ventura revelou ainda que a FLA vai editar um jornal denominado Paço do Milhafre, cuja primeira edição poderá sair no sábado, 6 de junho.

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