Açoriano Oriental
Indecisão e desânimo com a política na reta final de campanha presidencial em França
A uma semana da primeira volta das eleições presidenciais em França, a 23 de abril, muitos eleitores mostram-se indecisos e desanimados com a política durante ações de campanha dos diferentes partidos.
Indecisão e desânimo com a política na reta final de campanha presidencial em França

Autor: Lusa / AO online

 

No "marché de la place", em Gentilly, junto a Paris, ouvem-se falar várias línguas e há legumes e frutas para todos os gostos desde o funcho ao alho francês, couves e grelos portugueses na barraca de Américo Maurício que não se recenseou para estas eleições por "falta de tempo" e porque "a política aqui é uma grande vergonha".

"Bem, se eu votasse seria pelo Mélenchon porque ele apoia os empregados", disse à Lusa o feirante franco-português, há 40 anos em França, enquanto o filho, Mathieu, de 19 anos, afirmou ir votar Emmanuel Macron porque estudou economia e acha que "ele tem audácia e o que quer fazer é bom".

Num dos acessos à feira, são distribuídos panfletos de François Fillon, candidato de Os Republicanos, e uns metros adiante militantes de A França Insubmissa entregam o programa de Jean-Luc Mélenchon, mas são muitos os eleitores que ainda não sabem em quem vão votar nas presidenciais, como Keraz Rachid, vendedor de ténis que deixou "de acreditar na política".

"Eles estão lá todos pelos tachos. Ainda não decidi porque todos os candidatos são uns trapaceiros. Tirando um ou dois, roubam todos e têm imensos privilégios. Ainda estou indeciso se votarei Hamon ou Mélenchon ou se não voto. São os únicos de que não se fala de corrupção", afirmou o feirante de 54 anos.

Cliente habitual da feira, Catia Ossian, de 62 anos, disse estar farta de ouvir os governantes "a pedir sacrifícios ao povo quando há políticos que se servem diretamente do dinheiro público" e lamentou que "o mundo político esteja totalmente desligado da realidade".

"É escândalo atrás de escândalo e depois dizem-nos que temos de apertar o cinto. Eles vivem noutro planeta com os seus privilégios. Por isso, vou votar Mélenchon mas acho que vamos ser governados por uma coligação", indicou a francesa.

Algumas ruas depois, ao lado de uma pastelaria portuguesa, o restaurante franco-português Lieutades serve arroz de cabidela a uma clientela maioritariamente lusa, em que a política francesa é um tema indigesto para alguns.

"Vou votar pelo Fillon porque a Le Pen é contra as minhas ideias e Macron não tem capacidade para gerir o Estado francês. Mas também não era Fillon que eu queria votar. Acho que não há nenhum atualmente que seja capaz de endireitar a França. É pena", afirmou Fernando Moreira, de 62 anos, que vive há 52 em França.

Caso Marine Le Pen seja eleita presidente, o franco-português diz que só há um remédio: "Botá-la lá para fora e acabou! Bloqueia-se Paris, bloqueia-se as estradas ou não se pagam os impostos. Senão, vamos para Portugal!"

Opinião contrária tem José Gomes, oriundo de Ponte da Barca e há 20 anos em França, que não vai votar por não ter nacionalidade francesa mas se o fizesse seria pela candidata da extrema-direita que ele considera "a única capaz de endireitar a França".

"A França foi toda a vida comandada pelos alemães e precisa de um presidente para que não mandem nela. Um homem mau como o Trump. A Marine Le Pen é a única, os outros são todos uns garotecos. E não, ela não é contra os imigrantes portugueses porque os portugueses são os que mais trabalham em França e ela não é contra quem trabalha. Eu estou cheio de pagar para quem não trabalha", afirmou o português de 47 anos.

Didier Caramalho, de 19 anos, vai votar em branco porque "é importante participar no debate político e eleitoral mas nenhum dos candidatos" corresponde às suas expetativas.

"Não dou o meu voto a ninguém. Eu sou um homem de esquerda. A direita de Fillon e a extrema-direita de Marine Le Pen não me interessam. Fui votar nas primárias da esquerda e não votei por Hamon porque não tem a estatura e o carisma para ser presidente. O Mélenchon é extrema-esquerda e já sabemos o que dão os extremos no poder como o Tsipras na Grécia", afirmou o estudante.

O lusodescendente, residente em Paris, também pensa votar em branco na segunda volta porque não quer votar "por eliminação" e quer garantir "a legitimidade de ir para a rua protestar" se estiver contra o candidato eleito.

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