Açoriano Oriental
Fundação de Serralves disponível para mais parcerias com os Açores
Ana Pinho presidente do conselho de administração da Fundação de Serralves falou com o Açoriano Oriental sobre números e planos da instituição cultural e da parceria com a Câmara de Ponta Delgada
Fundação de Serralves disponível para mais parcerias com os Açores

Autor: Miguel Bettencourt Mota

Consultando as estatísticas da Fundação, constatamos que (pelo menos até ao ano de 2015) o projeto de sensibilizar os públicos para a arte contemporânea, arquitetura e paisagem se torna cada vez mais atrativo. Desde que se tornou presidente do conselho de administração da Fundação, em janeiro de 2016, sente que esse entusiasmo se mantém?

Sim, mantém-se e foi muitíssimo reforçado no ano passado, um ano absolutamente excecional. Nós tivemos 30% de crescimento no número de visitantes e acabámo-lo com 680 mil visitantes, quando no ano anterior tínhamos registado 524 mil. Desses, mais de 180 mil são estrangeiros - nós temos 25 % de estrangeiros e 75 % portugueses. Entretanto, se juntarmos ao número de visitantes do nosso espaço no Porto, o número de visitantes das nossas exposições itinerantes por todo o país e estrangeiro, podemos verificar que chegámos ao fim do ano passado com 970 mil visitantes, o que é um número muito interessante até a nível internacional.

Nós estamos a seguir uma estratégia de descentralização da nossa atividade, de contribuir para esta dinâmica cultural descentralizada, que felizmente é cada vez mais uma realidade por todo o país. Assim, no ano passado, realizamos 14 dessas exposições em Portugal - uma delas aqui, em Ponta Delgada - e, este ano, vamos realizar 29. Portanto, é realmente um salto muito grande que estamos a tentar dar, de forma responsável e determinada...

 

Este é, entretanto, o segundo “salto” da Fundação a Ponta Delgada. No ano passado, em virtude da parceria com a Câmara Municipal de Ponta Delgada, Serralves trouxe ‘Música e Palavras’ ao Coliseu Micaelense, a mesma sala que desde ontem e até 26 de maio recebe a exposição ‘Que sais je?’. Fale-nos dela...

Nós tivemos aqui uma exposição em outubro, que marcou o concretizar desta parceria e que foi para nós uma alegria muito grande, até porque a Câmara Municipal de Ponta Delgada tinha-se tornado fundadora de Serralves em 2010, mas nunca se tinha efetivado a parceria. Agora, e volvidos apenas seis meses, voltamos com mais uma exposição, o que por si só é demonstrativo do entusiasmo com que Serralves e a autarquia encaram a parceria...Voltamos com uma exposição de livros de artista, uma forma de expressão artística que, a partir dos anos 60, começou a desenvolver-se. Serralves tem uma coleção muito grande de livros de artista, com cerca de 5 mil obras, uma das maiores da Europa.

Esta exposição em particular, que se chama ‘Que sais je’, vai buscar o seu título à enciclopédia de bolso que foi editada pela primeira vez em 1941, cuja ideia era levar às grandes massas o conhecimento sobre diversas áreas e penso que isso é um pouco replicado aqui nesta exposição. Mas o que eu gostava de sublinhar era que essa exposição foi apresentada pela primeira vez no centro de artes contemporâneas de Bordéus, em 2015, só passando por Serralves em 2016 e agora está aqui em Ponta Delgada...

 

Recordou que o protocolo de cooperação entre Ponta Delgada e a Fundação Serralves foi firmado em 2010. O que justifica o hiato de 6 anos sem existirem exposições em São Miguel?

Não sei, exatamente. Esse assunto é do domínio de outras administrações, portanto, não lhe posso dar os motivos concretos para que não tivessem acontecido. Mas o que interessa é que estamos a andar com essa parceria e de uma forma muito ativa, como se vê...

 

Há algum sentimento especial por ‘emprestar’ e trazer um pouco da Coleção de Serralves a Ponta Delgada e, no fundo, a um arquipélago como o nosso?

Com certeza que sim. Nós temos imenso respeito pelo que está a fazer Ponta Delgada. E o nosso respeito não se fica só pela beleza e o carinho que os Açores sugerem, apesar de ser um local absolutamente extraordinário... O que importa aqui é, de facto, a dinâmica que hoje se sente neste município e em particular na área da cultura. Para nós, é também um orgulho enorme estarmos a fazer a exposição neste Coliseu que festeja 100 anos, um século de existência que nos honra a todos nós enquanto portugueses.

 

Ponta Delgada é, contudo, a única Câmara dos Açores a constar por entre as fundadoras da Fundação Serralves. Porquê? Há desinteresse? As autarquias não têm capacidade para assegurar a comparticipação financeira?

Para lhe ser completamente franca, eu desde que assumi a presidência de Serralves, em janeiro de 2016, não contactei mais nenhuma Câmara dos Açores para se tornar nossa fundadora, mas admito que isso possa acontecer...

 

...Está na estratégia?

Sim. Nós no ano passado focámo-nos muito nas capitais de distrito e tivemos a entrada de catorze autarquias. Perceba que nós tínhamos 15 autarquias em 2015 e, neste momento, reunimos 29 autarquias fundadoras de Serralves. De facto, não foi feito mais nenhum contacto nos Açores, o que não quer dizer que não se façam...Caberia, naturalmente, mais Açores na Fundação Serralves.

 

Em 2010, quando Ponta Delgada e a Fundação assinaram o acordo, Serralves assegurou o apoio técnico e científico à conceção, instalação e funcionamento do Museu de Arte Contemporânea da cidade, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Não se tendo até à data realizado, o protocolo celebrado foi de alguma forma reajustado? A Fundação sentiu-se defraudada nas suas expectativas?

O protocolo tem várias áreas em que está firmado. Nós temos flexibilidade para as várias vicissitudes. Numa parceria surgem sempre circunstâncias novas de um lado e do outro. A nossa relação é dinâmica e não se esgota num papel que fica assinado num determinado ano...As coisas vão evoluindo, as prioridades alteram-se e nós atendemos a isso...

 

...Eu coloco-lhe essa questão porque a cidade da Ribeira Grande acolhe o Centro de Artes Contemporâneas - Arquipélago e, à partida, o espaço e a sua vocação parecem enquadrados com o vosso espírito de missão. Já existiram contactos de um lado ou de outro no sentido de se firmarem protocolos? Isso está nas cogitações da Fundação de Serralves?

Não, não está a ser feito, mas não quer dizer que não seja. Eu conheço o centro, é um edifício fabuloso, é extraordinário, acho que é um projeto de arquitetura absolutamente fantástico, com imensa capacidade e uma potencialidade enorme para exposições e para outro tipo de atividades.

 

Neste momento, está patente a exposição ‘Que sais je?: Livros e edições de artista da Fundação de Serralves’. Há, ainda assim, já alguma data definida para que os micaelenses possam receber uma ‘nova visita’ de Serralves?

Não, neste momento não está nada definido. O normal é que daqui a algum tempo se converse sobre o que vai acontecer no próximo ano. Estas iniciativas são anuais e espero eu que para o próximo ano celebremos mais uma em conjunto.

 

Em sentido contrário, há intenção de Serralves receber artistas de arte contemporânea açorianos?

Em Serralves a direção artística é soberana nas decisões (...), não sou eu que decido qual é a produção que vai lá estar. Há programadores, há diretores de Museu que conversam com os responsáveis locais e decidem, uns e outros, o que tem interesse que seja mostrado. Se houver algum artista plástico, por exemplo, que faça sentido mostrar em Serralves pode muito bem concretizar-se.

 

‘Desregionalizando’ a conversa, que planos mais amplos da Fundação gostaria de partilhar?

Nós temos, para além desta expansão em Portugal, um grande desejo de fazer mais coisas internacionalmente e tornar Serralves cada vez mais conhecido.

Este ano, estamos a organizar cinco exposições fora de Portugal. Já inaugurámos três - uma dela nos Estados Unidos, onde estive há quinze dias, também em Valência e Berna - e vamos ter outras em São Paulo e Santander. Isto é, de facto, uma outra área à qual estamos a dar grande prioridade.

Para além disso, Serralves tem também uma grande atividade a nível de ambiente e educação ambiental. Embora essa atividade seja mais difícil de transportar para outros locais, ou deslocalizar, nós temos uma atividade enorme no Parque de Serralves e queremos ter cada vez mais.

Aliás, vamos ter este ano uma grande exposição no Parque de Serralves...Trata-se de uma grande exposição do Museu no Parque que gostaria de manter todos os anos. Serralves tem características únicas no mundo: tem implementado um Museu que é ele próprio uma obra de arte do arquiteto Álvaro Siza, a Casa ‘art déco’ onde está agora a exposição Miró e o próprio Parque que tem a arquitetura de Jacques Gréber, um importante paisagista francês que o desenhou em 1932.

Temos mesmo muita atividade em Serralves e, este ano, vamos ter também uma grande exposição da Bienal de São Paulo, um dos mais importantes acontecimentos de arte contemporânea a nível global. A grande exposição em Serralves é feita pelo curador geral da Bienal de São Paulo em parceria com o nosso diretor adjunto do Museu, o curador sénior João Ribas, inaugurando a 29 de junho.

Este tipo de exposições do Museu no Parque é uma coisa que eu almejava que acontecesse uma vez por ano, porque creio que no verão as pessoas têm outra predisposição para ver arte ao ar livre e temos que aproveitar essa potencialidade.

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