Açoriano Oriental
Formação médica em risco devido ao número de estudantes nos hospitais
A Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM) alega que a formação médica está em risco em Portugal devido ao número de estudantes nos hospitais, aviso sustentado num estudo hoje divulgado em Coimbra.
Formação médica em risco devido ao número de estudantes nos hospitais

Autor: LUSA/AO Online

De acordo com o Estudo sobre as Condições Pedagógicas das Escolas Médicas Portuguesas a que a agência Lusa teve acesso, os doentes que recorrem a hospitais afiliados de sete escolas médicas existentes no território continental (em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga e Covilhã) "podem encontrar, juntamente com o seu médico, em média, cerca de 08 estudantes", número que pode chegar aos 18,5 alunos por cada único tutor médico e ultrapassar os 25 em algumas unidades curriculares. "Estes rácios elevados são prejudiciais, não só para a aprendizagem dos estudantes, mas mais ainda para os doentes que, numa situação de fragilidade, são confrontados com um número muito elevado de médicos e estudantes à sua volta", sublinha a ANEM. Nas conclusões do estudo lê-se que o ensino em meio clínico "apresenta particular descontentamento por parte dos estudantes" e que um rácio estudante-tutor elevado "encontra-se diretamente relacionado com a insatisfação estudantil para com o ensino em meio clínico". De acordo com dados do estudo, o melhor rácio médio estudante-tutor, envolvendo estudantes do 3º, 4º e 5º anos, ocorre na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (2,55 estudantes por tutor) e o pior na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), com 18,5 em média. Na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior (Covilhã) o rácio é de 3,13 estudantes por tutor, a Escola de Ciências da Saúde da Universidade de Minho (Braga) apresenta 3,79, a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto 4,62, a sua congénere da Universidade de Lisboa 7,39 e o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (Porto) regista 9,15 estudantes por tutor médico. Por unidade curricular, a especialidade de Ortopedia na FMUC tem 34,9 estudantes por tutor e a Cirurgia Geral 25,7, os valores mais elevados registados no total das sete escolas médicas. No extremo oposto, os melhores rácios por unidade curricular registam-se na Universidade Nova de Lisboa, onde em Medicina Geral e Familiar cada tutor acompanha um estudante (rácio de 1, enquanto em Coimbra ultrapassa os 20), seguindo-se Dermatologia, Nefrologia e Reumatologia com um rácio de 1,5. Em comunicado, a ANEM sustenta ainda que as escolas com maior número de ingressos e mais anos de funcionamento "apresentam menor satisfação estudantil" do que as escolas com menor número de novos estudantes e mais recentes, situação que enquadra no facto de Portugal ser o quarto dos 34 países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico] com maior número de médicos por habitante (12,2 estudantes diplomados por 100.000 habitantes). A ANEM frisa ainda que esta é uma tendência "crescente" - já que, nota, ao longo dos últimos 20 anos, o número de diplomados em Medicina aumentou quase 400% - cenário que "resultará inevitavelmente na criação de médicos indiferenciados, sem uma especialidade médica e incapazes de prosseguir a sua formação e dessa forma prestar cuidados de saúde de qualidade". A esse propósito, adianta que há necessidade de "readequar" o número de estudantes de medicina em Portugal, reavaliar as limitações financeiras das escolas médicas e a sua influência nas condições pedagógicas e identificar e resolver restrições particulares em cada uma das instituições de ensino. O estudo, divulgado hoje no último dia do Congresso Nacional de Estudantes de Medicina, envolveu quase 4.000 questionários a estudantes e outros dados fornecidos pelos órgãos diretivos das escolas médicas, em anos letivos entre 2011 e 2014.

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