Autor: Lusa/AO Online
"Foi uma surpresa total. Fiquei felicíssimo", disse Ferreira Gullar à Agência Lusa, por telefone, da pousada onde está hospedado na cidade de Monteiro Lobato, no interior paulista, a 132 quilómetros da capital.
O município, na Serra da Mantiqueira, foi berço de um dos grandes nomes da literatura brasileira - José Bento Monteiro Lobato, e preserva não só a memória do escritor em seu nome como o seu maior património - o Sítio do Pica-Pau Amarelo, que inspirou personagens como Jeca Tatu, Emília e Visconde de Sabugosa.
"Eu estava justamente no Sítio do Pica-Pau Amarelo, quando tocou o telefone de lá e me chamaram. Eu não tenho telemóvel. Achei estranho. Como é que me encontraram aqui? Era o (académico e professor Antonio Carlos) Secchin a informar-me que eu tinha ganhado o prémio. Nem acreditei. Eu não esperava", contou o poeta à Lusa.
Na avaliação de Ferreira Gullar, o galardão "de indiscutível importância" é um reconhecimento.
"O que eu escrevi tocou as pessoas. É isso que o prémio reconhece e, por expressar um juízo multinacional de toda a comunidade de língua portuguesa, tem um significado maior", considerou.
O poeta, cujo nome, na verdade, é José Ribamar Ferreira, disse ter já comemorado o Prémio Camões com a população de Monteiro Lobato - "a cidade dá sorte", afirmou.
Segundo o escritor as comemorações vão continuar no Rio de Janeiro, onde mora, quando voltar a casa na quarta feira, depois de participar num projeto do Governo de São Paulo, que prevê a visita de escritores a municípios do estado.
Na sua opinião, as pessoas já nascem com uma vocação, ainda que tenham que desenvolvê-la depois.
"Noel Rosa já cantava que 'samba não se aprende na escola'. Eu nasci poeta", afirmou o maranhense, de 79 anos.
O quarto dos 11 filhos de Alzira Ribeiro Goulart e do comerciante Newton Ferreira já recebeu, em 2007, o prémio Jabuti, com o livro Resmungos, e foi considerado pela revista Época como um dos 100 brasileiros mais influentes de 2009.