Açoriano Oriental
Empreendedorismo
O termo empreendedorismo está na moda entre nós. Apesar de tudo, a primeira referência ao mesmo (entrepreneur) surge em 1755 num trabalho do francês Richard Cantillon, intitulado Ensaio sobre a Natureza do Comércio em Geral.
Empreendedorismo

Autor: Cabral Vieira
O termo é então utilizado novamente, em 1971, por outro francês, Jean Baptiste Say. Os trabalhos de maior relevância sobre o tema surgem, no entanto, apenas na primeira metade século XX, através do economista Joseph Schumpeter. Este economista, nascido em Viena mas a trabalhar em Harvard, publicou vários trabalhos onde definiu, a partir da década de 30 daquele século, o empreendedor como um agente inovador e fundamental para o processo de crescimento das economias. Para ele, o empreendedor é alguém capaz de converter uma ideia, ou invenção, numa inovação de sucesso. É alguém com capacidade de agarrar, com êxito, a oportunidade. Alguém que arrisca. É o motor da mudança, da transformação e do desenvolvimento, graças à sua capacidade para inovar.
Apesar destas contribuições, os manuais de Economia e as universidades dedicaram, no século XX, pouca atenção ao papel do empreendedor. De facto, aquele século foi, nesse campo, maioritariamente marcado, devido à obra do economista inglês J. Keynes e ao efeito da grande crise da década de trinta, pelo ensinamento do papel milagroso da actividade do Estado, em particular da despesa pública, para o aumento do rendimento de equilíbrio das economias e do emprego.
Contudo, o surgimento de grandes sucessos a partir de pequenas mas inovadoras iniciativas, normalmente desenvolvidas nos Estados Unidos da América em torno das novas tecnologias de informação, contribuiu para que o papel do empreendedor reaparecesse no final do século XX e se expandisse por todo o mundo com o dealbar do século XXI. No que respeita às universidades, seja no ensino seja na investigação, o interesse pelo tema alarga-se, não tanto devido ao que está vertido nos manuais de Economia, que continua a ser pouco ou nada, mas ao interesse que o mesmo tem despertado na área da Gestão. Peter Drucker, nascido também em Viena, em 1909, considerado o pai da Gestão, foi certamente um dos que mais contribuiu para o desenvolvimento e interesse pelo tema. O seu livro, intitulado Innovation and Entrepreneurship: Practice and Principles, continua a ser uma referência imprescindível.
A ligação entre ensino, investigação e empreendedorismo é, hoje em dia, cada vez mais estreita. A criação de centros e de disciplinas específicas nas universidades, e noutras instituições de ensino, encontra-se em franca expansão. É isso o que revela uma simples visita, através da Internet, a diversas instituições de ensino superior espalhadas um pouco por todo o mundo. O papel que lhe é atribuído em escolas de inegável prestígio e reputação, como o MIT e a universidade de Standford, recomenda, para quem acredita na importância do benchmarking, uma atenção especial a este assunto. A ligação entre a universidade, como centro gerador de ideias, e a comunidade é, tendo em conta uma vez mais o que fazem as melhores escolas, algo que deve ser promovido e aprofundado.
O desenvolvimento de uma cultura empreendedora, seja através introdução de disciplinas ao nível do ensino, da disponibilização e divulgação de informação adequada, da realização de conferências e seminários, da criação de sistemas de incentivos para projectos inovadores, e por isso arriscados, entre muitas outras formas (como é o caso surgimento do capital de risco ou papel recente do ‘business angels’) é um elemento crucial para o progresso económico e social.
Muitos trabalhos científicos têm tentado avaliar a apetência empreendedora dos alunos do ensino secundário e universitário, num momento em que o trabalho por conta de outrem é cada vez mais incerto, instável e inseguro. Um trabalho de investigação datado de 1997, elaborado para os Estados Unidos, revela que naquela altura sete em cada dez estudantes do ensino secundário gostavam de iniciar uma actividade empresarial. Entre alguns dos obstáculos que impediam que tal se concretizasse apontavam a falta de fundos, a falta de uma ideia, a falta de experiência e o receio de ir à falência. Tal significa que, nesta área, tal como em muitas outras, não basta querer para que a obra nasça. Segundo Peter Drucker, os empreendedores de sucesso não revelam qualquer personalidade especial, mas apenas um empenhamento pessoal numa prática sistemática de inovação. Apesar de tudo, o empreendedor não vive numa redoma e o meio que o rodeia tem certamente alguma influência. Em particular, as instituições exercem um papel fundamental. 
 Entre nós, o reconhecimento institucional do papel do empreendedor, ou seja, daquele que identifica a oportunidade e coloca, com sucesso, uma invenção no mercado (isto é, que inova) começa a dar os primeiros passos. O Governo Regional dos Açores, através da Direcção Regional de Apoio à Coesão Económica, com base num conjunto de medidas, tem tentado promover o empreendedorismo. O Empreende Jovem é talvez, até ao momento, a principal medida nesse âmbito.
No âmbito da Universidade dos Açores é de realçar a inclusão nos Planos de Estudo de diversos cursos, nomeadamente nos de Economia, Gestão de Empresas e Serviço Social, de disciplinas específicas sobre este tema. Numa altura em que muito se fala sobre o impacto e a necessidade de existirem cursos universitários nalgumas áreas, é cada vez mais desejável e essencial, e a Universidade dos Açores começa em certos cursos a agarrar esta ideia, de que um licenciado, além de obter conhecimentos específicos associados às valências específicas do curso, desenvolva também competências ligadas ao empreendedorismo, nomeadamente a capacidade de descobrir, explorar, inovar, assumir riscos e apetência para criar o seu próprio emprego.
Ao nível da investigação, a realização de diversas dissertações, ainda em curso, sobre a apetência empreendedora dos alunos açorianos, pode contribuir - ou pelo menos devia, tal como acontece noutros países - para um melhor conhecimento da realidade e para apoiar o enquadramento e a delineação de medidas de política destinadas aos mais jovens.
Ainda na Universidade dos Açores, é de destacar o surgimento do Centro de Empreendedorismo, cuja actividade se encontra em fase de expansão, nomeadamente no que respeita à prestação de serviços à comunidade, como é o caso da realização de acções de formação, a divulgação de informação e o apoio a alunos que pretendam vir a iniciar uma actividade empresarial. Uma visita à página do Centro Empreendedorismo da Universidade dos Açores, em https://www.empreendedorismo.uac.pt, que pela riqueza dos conteúdos ombreia com o que existe nas melhores universidades do mundo, é hoje quase imprescindível por parte de quem, quer a nível regional quer a nível nacional, se interessa pela problemática do empreendedorismo.
Apesar de tudo, julgo que muito existe ainda por fazer. O empreendedorismo vive de ideias e invenções. Estas são posteriormente, através do empreendedor, colocadas no mercado como inovações. Além disso, existe neste âmbito, e noutras regiões do globo, uma ligação estreita entre a universidade e a comunidade. Contudo, a investigação levada a efeito no seio da Universidade dos Açores, que devia ser um ninho de ideias, raramente é colocada no mercado. Esta falta de ligação constitui, na minha opinião, o principal obstáculo ao desenvolvimento e comercialização, com sucesso, de produtos inovadores, possivelmente com base no aproveitamento dos nossos recursos naturais. Constitui também um impedimento ao desenvolvimento de verdadeiros projectos empreendedores, na verdadeira acepção da palavra. Empreender é diferente de investir, e inovar não é, na minha opinião, o mesmo que trazer e comercializar - ainda que pela primeira vez -, para os Açores, aquilo que os outros já desenvolveram e comercializam.
Como nota final gostava de salientar que o trabalho que tem sido desenvolvido, sobretudo ao nível dos mais jovens, por parte de diversas entidades, apesar de embrionário é promissor e de louvar. A criação de um espírito empreendedor, dinâmico e inovador é, num mundo cada vez mais integrado e concorrencial, necessário para o progresso e bem-estar dos açorianos. Não há progresso sem inovação e não há inovação sem empreendedores.
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