Açoriano Oriental
Emigração recente "semelhante" em números à da ditadura, mas de tipo diferente
José Carlos Marques, investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e especialista em migrações internacionais, considera que o recente fluxo emigratório registado em Portugal é, em números, "semelhante" ao vivido na ditadura, mas de tipo diferente.
Emigração recente "semelhante" em números à da ditadura, mas de tipo diferente

Autor: Lusa/AO online

“Se os números forem os que se estimam – 100 mil saídas por ano (as autoridades portuguesas estimam que sejam entre 120 e 150 mil) –, podemos dizer que estamos num patamar semelhante ao da década de 1960”, disse à Lusa José Carlos Marques.

O investigador vai, a convite do consulado-geral de Portugal em Lyon, em França, proferir, na sexta-feira, a conferência “Tempos de emigração: desenvolvimentos recentes na mobilidade externa dos portugueses”.

Para o especialista, este “novo fluxo” emigratório português é, contudo, de um tipo diferente do que se registou no final do século passado: “Enquanto, sob ditadura, saíram muitos portugueses para ficar anos seguidos lá fora, porque se regressassem eram sujeitos a alguma medida de coação, agora [quem vai] pode estar por períodos curtos no estrangeiro, e voltar a regressar”.

Na comunicação que tem preparada para a conferência, adiantou, tentará, por um lado, “desconstruir um pouco a ideia de que o país, durante um período da sua história recente, deixou de ser um país de emigração”, e, por outro, mostrar que, apesar dessa tendência, ao longo do tempo se foram “alterando os polos de atração dos portugueses”.

Ou seja, mostrar que, quanto às saídas do país, “não se passou do zero para os valores que agora se avançam. Passou-se dos 30 mil ou 40 mil para este volume de saídas mais intenso”.

E mostrar também que, apesar de continuarmos a ir para a Europa, “também [escolhemos] outros destinos para os quais já tínhamos ido no passado, como o Brasil, Angola e Moçambique”.

Sobre o perfil de quem emigra, José Carlos Marques aponta uma particularidade: “Já não se sai apenas isoladamente – o marido ou a esposa – para procurar um emprego no estrangeiro, muitas vezes sai toda a família”, afirmou.

Além disso, haverá, “provavelmente, na nova emigração, uma proporção maior de pessoas com qualificações mais elevadas”. O investigador considera o facto “natural”, dado que” o nível educativo da população portuguesa como um todo aumentou nos últimos anos”.

Contudo, ressalvou, “não se sabe qual é a proporção de diplomados no total deste novo fluxo migratório”, e, por isso, "não se pode afirmar que todos os que saem de Portugal são qualificados ou têm um grau académico, um curso superior”.

Em declarações à agência Lusa, o cônsul-geral de Portugal em Lyon, António Barroso, que organiza a iniciativa, considerou importante debater este tema, sobretudo “para que as pessoas estejam informadas”.

“Fala-se muito sobre emigração, sobre nova emigração. Mas é preciso saber o que é a emigração, o que leva à emigração, o que pretendem as pessoas quando emigram, em que medida está a acontecer a integração, em que medida o que encontram no destino corresponde às expetativas que tinham na origem”, acrescentou.

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