Autor: Paula Gouveia
Disse que o PSD não é nem será um partido de direita. O que
significa isso na prática?
Na prática, significa que o PSD,
tal como o nome indica é um Partido Social-Democrata, defende a
social-democracia. (...) Não somos um partido que adota sempre uma
visão de direita, liberal, para a solução dos problemas, e que
acredita que o mercado resolve tudo... o mercado resolve tudo com
custos sociais muito pesados e o Estado tem de intervir muitas vezes
para atenuar os custos sociais. Por outro lado, não somos um partido
de esquerda que acha que a solução está sempre na intervenção do
Estado. Vemos isto com o equilíbrio necessário: é precisa a
intervenção do Estado muitas vezes para minorar os prejuízos
sociais. E abraçamos os valores fundamentais da social-democracia: a
igualdade de oportunidades, a solidariedade, a liberdade. Valores que
a seguir ao 25 de Abril de 1974 estavam na boca de toda a gente, mas
que têm de ser permanentemente praticados, porque se perdem com mais
facilidade do que se pensa. (...)
Reconheceu que o PSD atravessa uma fase “particularmente difícil” e que é necessário reconciliar os portugueses com o PSD. Como se chegou a esta situação e de que modo é que o pretende fazer?
O diagnóstico é
absolutamente factual se olharmos para o resultado eleitoral do PSD
em autárquicas - que é o mais relevante, uma vez que as autarquias
é que dão implantação ao partido no terreno, e não o número de
deputados na Assembleia da República. No primeiro grupo parlamentar
de que fiz parte, éramos no PSD 135 [deputados] e hoje somos 89.
Isso naturalmente mede a dimensão de um partido, mas num partido
grande a sua real dimensão mede-se muito mais pela implementação
no terreno ao nível das juntas de freguesia e câmaras municipais.
Nós já tivemos em 2005, 157 câmaras municipais, hoje temos 98.
Temos vindo sempre a cair. Se olharmos para as votações nos grandes
centros urbanos, tivemos cerca de 10% no Porto e Lisboa. Isso tem de
se inverter: temos de passar nas próximas autárquicas para mais de
100, porque senão corremos o perigo de desaparecer ou quase
desaparecer, como aconteceu com outros partidos de referência na
Europa, como o Pasok na Grécia ou o Partido Socialista francês.
(...) O PSD tem de olhar à sua volta e perceber que também lhe pode
acontecer o mesmo.
Inverter isto, significa desde logo fazer o
contrário: primeiro, fazer uma demarcação ideológica muito clara:
somos sociais-democratas, não somos a direita; depois temos de
conseguir chamar à participação política não só os militantes
que já tivemos e que entretanto se foram afastando, como novos
militantes, pessoas da sociedade para aderirem ao partido. E temos de
ter um partido vivo, que lá dentro debate os grandes temas
nacionais, e não só em Lisboa, mas em Bragança, na Guarda, em
Beja, aqui nos Açores, no Porto. (...) Não é fecharem-se meia
dúzia numa sala em Lisboa, fazem um papel, eventualmente até muito
bem feito, e depois essa é a opinião do partido. Não! Nós todos
temos de participar. (...) Não podemos ter um partido que se vai
fechando, fechando, fechando, e enquistando, enquistando, enquistando
e, a dada altura, há casos em que alguém diz “eu sou presidente
do PSD há muito tempo no concelho não sei de onde” - está bem,
mas o concelho de não sei de onde que já teve mil militantes, agora
tem 150 e, destes só 50 pagam as quotas. Não é dono disto tudo! É
dono de uma quinta! Isto tem de mudar!
O discurso da austeridade não acabou por afastar os portugueses do partido?
(...)
O que aconteceu no período da troika: vivemos acima das nossas
possibilidades durante muito tempo e depois tivemos de entrar em
austeridade para minguar, para voltar a pôr as coisas no seu
equilíbrio. Viver com o que temos não é austeridade. Se eu viver
com aquilo que tenho não vivo nem folgado, nem em austeridade, vivo
com o que tenho. O que eu quero é ter mais, para poder viver melhor!
(...) O que o país teve foi austeridade, mas o que o país tem de
fazer é viver com o que tem , cuidando de ter cada vez mais para
viver cada vez melhor.
Aqui nos Açores, o PSD não tem conseguido alcançar as metas eleitorais a que se propôs. Também aqui o PSD tem de se reconciliar com os açorianos?
É
necessário fazer esse trabalho de reconciliação no território
nacional todo. Mas os resultados aqui até foram superiores aos
resultados nacionais. Agora é sempre preciso fazer essa
reconciliação! (...) Aqui nas eleições regionais o PSD tem de ter
o mesmo objetivo: debater-se de igual para igual com o PS, para
voltar a tentar ter o governo regional que já não tem há muito
tempo. Para isso, tem de melhorar o seu entrosamento com a sociedade
açoriana. (...)
Que mensagem traz aos militantes?
Sou
candidato a líder nacional e quem é candidato a líder do PSD, é
sempre quem o partido indica para candidato a Primeiro-ministro. E,
por isso, esta mensagem está relacionada com os eixos de ação
governativa nacional.
Os Açores têm procurado sensibilizar o poder central para uma diferenciação positiva dos Açores em relação à Madeira, tendo em conta a realidade insular de cada região. Qual é o seu entendimento?
Eu conheço as ilhas
portuguesas todas. Até as Berlengas. Conheço as ilhas todas dos
Açores. Portanto, tenho uma noção dessa realidade. É factual que
a gestão de nove ilhas é diferente da gestão de duas ilhas. Para
sermos justos, temos de tratar diferente o que é diferente, e igual
o que é igual. E acho que na Madeira também reconhecem isso...
Os Açores têm algumas preocupações na ordem do dia, como a da Base das Lajes, a descontaminação e a revitalização da economia da ilha Terceira. O Estado tem aqui responsabilidade?
Acho que
sim. O Estado tem responsabilidade porque isso emana de um acordo de
perfil nacional. É evidente que se o país colheu benefícios, tem
agora de cumprir com as populações locais. O problema da
descontaminação é um problema gravíssimo. Temos de nos colocar na
posição das pessoas da ilha Terceira. E o governo central tem de
olhar para o problema como um problema nacional e encontrar uma
solução! Penso eu que tem de o fazer com os americanos. Se vivesse
na Terceira, não gostaria nada de ter esse problema!
A questão do mar e a sua gestão partilhada. Os Açores devem ter uma palavra a dizer sobre as decisões e os proveitos a retirar do seu mar?
Acho
que sim , porque um dos problemas que os Açores têm é uma certa
debilidade da sua economia. É uma economia muito ligada ao setor
público. Portanto, tudo aquilo que for para desenvolver a economia
regional na lógica da economia privada, libertando do peso
orçamental, é sempre positivo para a Região. Se Portugal tem de
olhar para o que se denomina de economia azul, por maioria de razão
o tem de fazer nas suas regiões autónomas, particularmente
nesta.
Aqui é quase unânime que se deve acabar com o cargo de Representante da República. Qual a sua opinião?
Penso que a
figura está já muito esvaziada, relativamente ao que foi no
passado, e por isso tenho alguma dificuldade em compreender a
polémica. Se acabar, a diferença não é muita. Não me parece um
tema de muito relevo para o futuro das duas regiões.
Qual a sua visão para os Açores?
Eu gostaria de ver os Açores com
uma coesão social melhor. Os Açores têm problemas sociais graves.
Se Portugal está substancialmente abaixo da média comunitária, os
Açores, por sua vez, integrados em Portugal, têm problemas de ordem
social muito superior aos que o país tem. É a região do país com
a maior percentagem de rendimento social de inserção, e isto
significa que a economia açoriana é débil, porque deveria oferecer
empregos e salários que evitassem essa situação. A minha
preocupação é ter uma economia regional mais robusta, e para ser
mais robusta, há que libertá-la mais do jugo do Estado. Uma
economia privada mais forte vai seguramente garantir maior equilíbrio
social e maior coesão social, que é o traço mais preocupante da
realidade açoriana.