Autor: Lusa/AO On line
“Hoje o que é fundamental reconhecer é que a diabetes está mais associada à pobreza do que ao desenvolvimento”, afirma à agência Lusa o coordenador do Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Diabetes, nas vésperas de se assinalar o Dia Mundial da Diabetes (14 de novembro).
José Manuel Boavida sublinha que “a diabetes deixou de ser uma doença dos ricos para ser uma doença que atinge essencialmente os pobres e as pessoas com menos escolaridade devido ao desconhecimento, mas também a uma sociedade selvagem de consumo que não tem qualquer pejo em atirá-los para a doença tendo em vista o lucro”.
Os riscos – alerta - estão no recurso “a alimentos artificiais, hiper calóricos, que são os mais baratos e são difundidos por campanhas de publicidade que induzem as pessoas, muitas vezes enganosamente, a adquirirem alimentos que não são os mais saudáveis”.
“É uma ameaça real e conhecida noutros países”, adianta, por seu turno, o diretor clínico da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), lembrando que “a diabetes em países civilizados, economicamente mais fortes, é mais prevalente nas classes desfavorecidas”.
João Filipe Raposo afirma que “a oferta que existe hoje é de fácil acesso a alimentos hiper calóricos, como doces e salgados, prejudiciais do ponto de vista de saúde”.
“As pessoas têm que introduzir na sua alimentação alimentos verdes, frescos, que são absolutamente fundamentais, e evitar as gorduras artificiais de má qualidade”, acrescenta José Manuel Boavida.
Em alturas de crise, defende João Filipe Raposo, é preciso pensar uma maneira de inovar na vigilância e no rastreio da diabetes: “Por um lado, nós sabemos que os recursos são restritos, mas temos de apostar na utilização e otimização dos recursos que temos”.
Estima-se que Portugal tenha 900 000 diabéticos, 11,7 por cento da população entre os 20 e os 79 anos, sendo que 400 000 não sabem que têm a doença, segundo os últimos dados do Observatório Nacional da Diabetes.
“Os números que temos tido sobre a evolução da diabetes são completamente arrasadores. Existem previsões de que mais de 30 por cento da população poderá vir a ser atingida por diabetes”, salienta José Manuel Boavida.
Para combater estes números, o coordenador nacional considera fundamental centrar a atividade do programa da diabetes num “triângulo constituído pelo setor da saúde, autarquias e escolas, centrado nas necessidades das pessoas”.
Mas numa época de contenção orçamental, o diretor na APDP receia que a luta contra a diabetes possa ser afetada. “É uma preocupação realista”, comenta.
“Mesmo quando dizemos que mantemos a comparticipação da insulina e dos antidiabéticos orais, mas mexendo no peso dos outros medicamentos [há muitos doentes que são polimedicados] podemos tornar complicada a vida das pessoas que têm diabetes”, diz João Raposo.