Açoriano Oriental
Desenhador eterniza rostos nas ruas de Angra
A melodia das linhas capta o olhar dos transeuntes que fixam a harmonia das formas, surgindo as feições dos que se eternizam num retrato a carvão, feito na rua pelo movimento suave das mãos de Joaquim da Luz.

Autor: Lusa/AO On line
 

“Não tem nada de científico, havia uma infantil tendência para o desenho que fui aperfeiçoando com o tempo”, afirmou o artista em declarações à Lusa em plena Rua da Palha, no centro de Angra do Heroísmo, Açores, o seu ponto profissional nos últimos meses.

Joaquim da Luz nasceu no Algarve e viveu em terras alentejanas “até ir para a tropa”, tendo depois trabalhado como aspirante de finanças, mas, “como aquilo era muito claustrofóbico e já ia fazendo uns desenhos”, acabou por arranjar trabalho na editora Bertrand para “desenhar figurativos (rostos) a carvão, pastel e óleo”, tudo aprendido como autodidata.

Na única rua de Angra do Heroísmo encerrada ao trânsito, fervilhando de passantes e espetadores sentados nas esplanadas, Joaquim da Luz centra a atenção nos traços, que nem as badaladas da Igreja da Sé distraem.

“Nem me lembro de comer, só quando o estômago aperta é que chega o sinal de que preciso de retemperar forças e descontrair um bocadinho”, afirmou.

Joaquim da Luz, 64 anos, descansa apenas ao domingo e desenha um retrato por dia, uma média que não faz dele um homem rico, “mas dá para viver, mesmo pagando as taxas de artista ambulante e os impostos às Finanças”.

O artista não tem casa nem carro próprio, porque não ganhou o suficiente desde que começou a pintar na rua, então no Algarve, para onde foi depois do 25 de abril.

“Pensei que ia ter encomendas suficientes para trabalhar em casa, mas, como isso não aconteceu, a rua foi uma necessidade quase em desespero de causa”, recordou.

Joaquim da Luz admitiu que ser artista de rua “gera primeiro umas desconfianças, mais em Portugal que no estrangeiro”, mas acrescentou que “depois as pessoas aproximam-se, até dão elogios e, algumas vezes, até sobram amizades ao longo do tempo”.

Algarve, Lisboa, Coimbra, Porto, Curaçau, Aruba (Caraíbas), Malmoe (Suécia) e Madeira, onde se fixou, são os locais de que mais se recorda, incluindo os Açores onde se desloca “há um bom par de anos”.

Em média, leva “sete a oito horas para concluir um retrato, quase sempre por fotografia”, deixando os retratos com a pessoa presente para “zonas mais cosmopolitas”, porque elas “não se sentem bem a fazer de estátuas e os transeuntes sempre a olhar”.

Esta actividade, “a que hoje as pessoas já conferem mais valor e dignidade”, permitiu-lhe criar seis filhos, nenhum dos quais quis seguir a carreira do pai.

Joaquim da Luz, que não faz caricaturas porque se especializou no retrato, diz que é “como o pato, que anda, voa e nada e não é especialista em nenhuma”.

Um dia, em Coimbra, foi entrevistado por um jornalista da então Agência Noticiosa Portuguesa (ANOP), antecessora da Lusa.

Recorda-se que o jornalista “falava muito, parava no café Avenida e chama-se Marinho Pinto”, hoje bastonário da Ordem dos Advogados.

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