Açoriano Oriental
"Crise existencial" republicana beneficia democratas nas discussões orçamentais nos EUA
Investigadores contactados pela agência Lusa consideram que a "crise existencial" em que vive o Partido Republicano beneficia os democratas e que o Presidente norte-americano, Barack Obama, tem agora mais legitimidade para ultrapassar o impasse político em matéria orçamental.
"Crise existencial" republicana beneficia democratas nas discussões orçamentais nos EUA

Autor: Lusa / AO online

 

Tanto Nuno Gouveia, investigador da Universidade Fernando Pessoa, como Tiago Moreira de Sá, do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), afirmam que Barack Obama teve uma vitória confortável, uma vez que alargou a maioria no Senado e conquistou mais alguns lugares na Câmara dos Representantes, onde os republicanos são maioritários.

No entanto, alerta o académico do IPRI, os democratas não têm uma "maioria à prova de bloqueio" no Senado, ou seja, 60 senadores ou mais, o que significa que "os republicanos, mesmo sendo minoritários, podem bloquear no Senado as propostas legislativas do Governo e da maioria democrata", explica Tiago Moreira de Sá.

No entanto, para Nuno Gouveia, os republicanos atravessam uma "crise existencial" e são "vistos pela maioria do eleitorado como mais inflexíveis do que os democratas".

Tiago Moreira de Sá explica que o Partido Republicano está dividido em dois grandes grupos: um que continua numa "posição bastante radical e que, com o resultados das eleições, ainda se radicalizou mais", e um outro "mais moderado, que quer chegar a um compromisso com Obama".

O politólogo do IPRI recorda que "a posição radical do Partido Republicano [no primeiro mandato de Bill Clinton] levou a uma paralisação quase completa do Governo Federal e, depois, nas eleições seguintes, o Partido Republicano foi responsabilizado pelo eleitorado".

Em novembro de 1992, o democrata Bill Clinton foi eleito Presidente dos Estados Unidos, derrotando o incumbente George H. W. Bush, com 43% dos votos populares. No entanto, nas eleições de meio do mandato, os republicanos conquistaram a maioria nas duas câmaras do Congresso.

As forças políticas não chegaram a acordo sobre o orçamento no final desse ano, o que gerou uma paralisação do Governo Federal em 1995.

Nas eleições presidenciais seguintes, em 1996, o democrata Bill Clinton alargou a maioria, arrecadando mais de 47% dos votos populares e ultrapassando o candidato republicano, Bob Dole, que conseguiu apenas 39%.

Os dois académicos entendem que, nas negociações em curso, um dos republicanos que deverá ter um papel relevante é Paul Ryan, que perdeu a vice-Presidência ao lado de Mitt Romney, nas presidenciais de 06 de novembro, mas que lidera a comissão do orçamento da Câmara dos Representantes.

Moreira de Sá afirma que Paul Ryan "tem uma força muito importante no Partido Republicano" e que o político "não sai fragilizado" com a derrota nas presidenciais. No entanto, defende, este papel "dificilmente poderá ser num sentido de compromisso com o Presidente Obama, tendo em conta as posições que tem tomado em matéria orçamental".

Já Nuno Gouveia refere que Ryan, "a partir de agora, tudo o que Ryan fizer estará condicionado pelo facto de que provavelmente será candidato a Presidente em 2016", pelo que "precisa de assumir-se como parte da solução e não do problema".

Para o investigador da Universidade Fernando Pessoa, a "grande dúvida" é saber se Paul Ryan vai optar por "ficar ligado a um possível aumento de impostos, o que pode enfraquecer a sua posição nas primárias de 2016", ou se, por outro lado, vai manter-se "inflexível nestas negociações", o que "poderá cimentar a imagem de que não consegue trabalhar com o Partido Democrata".

Sem acordo no Congresso, a 01 de janeiro, entra automaticamente em vigor uma combinação de aumento de impostos e cortes na despesa, o que implica uma redução do défice em 503.000 milhões de dólares (392.000 milhões de euros), mas também retira da economia 671.000 milhões de dólares. É a esta combinação que se chama 'precipício orçamental'.

Aconteça o que acontecer até ao final do ano, Moreira de Sá acredita que, "no final, vai haver compromisso".

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