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Costa relegitima linha do Governo e refuta críticas de "desvio de esquerda"
O Congresso do PS, entre sexta-feira e domingo, vai relegitimar a solução de Governo com suporte bloquista e comunista e a linha programática da direção liderada por António Costa, que refutará críticas sobre um "desvio de esquerda".
Costa relegitima linha do Governo e refuta críticas de "desvio de esquerda"

Autor: Lusa/AO Online

 

António Costa chega ao congresso da FIL (Feira Internacional de Lisboa) ao fim de seis meses de governação com o apoio inédito de PCP e Bloco de Esquerda, e duas semanas depois de ter sido reeleito secretário-geral do PS com mais de 94% dos votos pelos militantes socialistas.

No plano interno, o secretário-geral do PS não enfrenta oposição organizada expressiva, apesar de ter tido um adversário nas "diretas".

A candidatura alternativa protagonizada por Daniel Adrião elegeu apenas 23 delegados num total de 1763 e obteve 2,73% dos votos para secretário-geral, mas não contestou a atual solução de Governo, colocando antes ênfase na reforma do sistema político e na revisão dos estatutos do PS.

As principais críticas ao Governo e à atual linha política do PS partiram do eurodeputado socialista Francisco Assis, considerando que o ímpeto reformista do executivo está "bloqueado" e "manietado" pelo "conservadorismo" do PCP e do Bloco de Esquerda, designadamente em todas as matérias relacionadas com o Estado social.

Se o deputado socialista Sérgio Sousa Pinto (outro dos críticos) identificou um pendor "sectário" na moção de estratégia da direção, Assis defendeu que as divergências com PCP e Bloco em matéria europeia são cruciais.

Assis recorreu à história pós-constitucional para sustentar que os principais avanços resultaram, não de convergências à esquerda, mas antes de entendimentos dos socialistas com PSD e CDS, casos do processo de adesão à CEE (Comunidade Económica Europeia), da integração na moeda única e das revisões constitucionais de 1982, 1989 e 1997.

Esta é a crítica que bate mais fundo na atual direção do PS, que defende que o partido está onde sempre esteve na sua história e nega qualquer rutura com uma linha política de moderação de centro-esquerda.

António Costa tem sustentado que os acordos de incidência parlamentar celebrados com Bloco, PCP e "Os Verdes" para a formação deste Governo estavam previstos na sua moção de estratégia ainda em vigor, que foi aprovada no congresso de novembro de 2014 por ampla maioria.

Uma orientação que, na perspetiva do secretário-geral socialista, resultou não de qualquer desvio de esquerda do PS, mas de um desvio do PSD para a direita, a caminho do neoliberalismo - caminho que diz ter ficado demonstrado em quatro anos e meio de Governo de Pedro Passos Coelho.

Mas mais, segundo Costa, na sequência das últimas eleições legislativas, ao optar por fazer acordos à esquerda, o PS preservou a sua autonomia estratégica e evitou entrar num processo de "diluição" e de "indiferenciação" face ao PSD, o que a acontecer, a prazo, apenas beneficiaria as correntes políticas extremistas.

Em termos internos, a secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, já colocou como objetivos pós-congresso a existência de mudanças na cultura de organização do partido e uma abertura à entrada em órgãos dirigentes de quadros até aqui desligados da atividade política.

A dúvida é saber se essa abertura política envolverá a manutenção em órgãos nacionais do PS de dirigentes que num passado recente estiveram com a liderança de António José Seguro, mas que optaram depois por não fazer "guerra aberta" à liderança de António Costa.

O XXI Congresso Nacional do PS apresenta como novidades a organização de debates temáticos logo na sexta-feira à tarde (antes da abertura formal dos trabalhos) sobre educação, cultura, economia, reforma do sistema democrático e défices estruturais da sociedade portuguesa.

No sábado de manhã, os trabalhos abrem com um debate sobre o futuro do socialismo democrático, em que participam o antigo líder parlamentar do PSD Pacheco Pereira e a ex-deputada do Bloco de Esquerda Ana Drago.

Da ordem de trabalhos constam ainda curtos períodos dedicados à apresentação de uma proposta de revisão dos estatutos da autoria de Daniel Adrião (no sábado à noite) e de moções setoriais (no domingo de manhã), entre as quais figura uma sobre eutanásia, apresentada pela deputada socialista Maria Antónia Almeida Santos.

Salvo qualquer surpresa de última hora, o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, deverá ser o único antigo secretário-geral do PS presente no congresso.

 

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