Açoriano Oriental
Conferência mundial do clima começa na segunda-feira e visa ser "COP da ação"
Quase 20 mil pessoas de todo o mundo reúnem-se a partir de segunda-feira em Marraquexe, Marrocos, na 22ª conferência da ONU sobre alterações climáticas (COP22), que a organização pretende que seja "a COP da ação".
Conferência mundial do clima começa na segunda-feira e visa ser "COP da ação"

Autor: Lusa/AO online

 

Menos de um ano após a sua adoção em Paris por 195 países, o primeiro acordo mundial para combater as alterações climáticas entrou hoje simbolicamente em vigor, três dias antes da COP22, onde os participantes deverão debater a sua aplicação.

"Esta rápida entrada em vigor é um sinal político claro de que todos os países do mundo estão empenhados numa ação global decisiva contra as alterações climáticas", declararam, em comunicado, a responsável do Clima na ONU, Patricia Espinosa, e o ministro marroquino dos Negócios Estrangeiros, Salaheddine Mezouar, que presidirá à COP22, a decorrer em Marraquexe de 07 a 18 de novembro.

A presidência marroquina da conferência já manifestou a esperança de que esta seja "a COP da ação", que concretizará "os importantes avanços" registados no ano passado em Paris.

Mas em Marraquexe os negociadores ainda têm muitas matérias sobre as quais é preciso chegar a acordo, de forma a tornar o pacto operacional, nomeadamente a definição de regras de transparência, a apresentação das estratégias nacionais até 2050, a ajuda financeira aos países em desenvolvimento.

"O maior desafio em Marraquexe é chegar a acordo sobre uma data limite para decidir as regras de aplicação do acordo, nomeadamente as regras de transparência", disse à AFP a negociadora francesa Laurence Tubiana. "Se 2017 não é realista, 2018 é exequível", afirmou.

As regras de transparência dizem respeito às informações que os países deverão fornecer sobre os seus esforços para limitar as suas emissões, assim como os progressos das ajudas financeiras públicas.

Paralelamente a uma maior transparência, o acordo prevê um reforço dos planos de ação de cada país, com vista a limitar o aquecimento global a +2°C acima dos níveis pré-industriais.

Além do objetivo de limitar o aquecimento a +2ºC, o acordo de Paris prevê que os países realizem "todos os esforços necessários" para que não se ultrapassem os 1,5 graus Celcius, evitando assim "os impactos mais catastróficos das alterações climáticas".

No entanto, os compromissos atuais colocam o planeta numa trajetória de +3°C, ou até mesmo 3,4°, segundo um relatório da ONU divulgado na quinta-feira que alerta para a subida ininterrupta das emissões mundiais de gases com efeito de estufa.

"Se não começarmos a tomar medidas suplementares desde já, acabaremos por chorar perante uma tragédia humana evitável", alertou Erik Solheim, diretor do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA).

"O número crescente de refugiados climáticos atingidos pela fome, a pobreza, a doença e os conflitos lembrar-nos-á de forma incessante do nosso falhanço. A ciência mostra-nos que devemos agir muito mais depressa", afirmou.

Para conseguir manter o aquecimento abaixo dos +2ºC, as emissões de gases com efeito de estufa têm de parar de aumentar e depois têm de ser reduzidas entre 40 e 70% entre 2010 e 2050, segundo os especialistas.

"Agora que o mundo se reúne em Marraquexe, devemos reencontrar o sentimento de urgência que tínhamos há um ano", pediu em comunicado Jim Yong Kim, presidente do Banco Mundial, alertando que "cada dia que passa o desafio do clima cresce".

A estagnação e posteriormente a redução das emissões de gases com efeito de estufa implicam uma mudança profunda em direção às energias verdes e o abandono dos combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás).

Serão precisos investimentos avultados para tornar os setores da habitação, dos transportes e da indústria menos dependentes de energia, assim como novas políticas agrícolas e alimentares.

"A curto prazo - certamente nos próximos 15 anos - temos de ver reduções sem precedentes das emissões e esforços sem igual para construir sociedades que possam resistir às alterações climáticas", disseram Patricia Espinosa e Salaheddine Mezouar.

Isto significa que os países terão de fazer mais do que os compromissos assumidos no acordo de Paris.

A questão da ambição coletiva e da de cada país será necessariamente abordada em Marraquexe, mesmo que seja demasiado cedo para esperar novos compromissos.

O tema do financiamento estará também no coração do debate, tanto em relação à ajuda pública de 100 mil milhões de dólares prometidos até 2020 aos países em desenvolvimento, como ao objetivo de tornar "mais verdes" as finanças mundiais.

Ou seja, apenas uma reorientação dos fluxos financeiros mundiais em direção a atividades de baixo carbono (com poucas ou nenhumas emissões de CO2) poderá assegurar um desenvolvimento sustentável dos países, o que exigirá, segundo a ONU, cinco a sete biliões de dólares por ano.

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