Autor: Lusa/AO online
“As pessoas estão já exasperadas com todos estes atrasos. Há várias situações de contratos que terminaram, quer de investigadores FCT, quer de bolseiros pós-doutoramento, situações limite de pessoas com filhos e com responsabilidades. Algumas pessoas estão já a ponderar, e têm até bastante articulada, a questão de voltar para outros países de onde voltaram ao abrigo do Programa Investigador FCT ou de bolsas de pós-doutoramento. Existe este exaspero da parte dos docentes e investigadores”, disse Gonçalo Velho, presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup).
O sindicato que representa docentes e investigadores do ensino superior é uma das instituições que convocou para a próxima semana, no dia 25 de outubro, pelas 17:00, uma manifestação frente ao Ministério da Educação, onde decorre a Comissão de Avaliação Bipartida de Ciência Tecnologia e Ensino Superior.
Gonçalo Velho critica os atrasos na aplicação da lei do emprego científico e na integração dos precários no Estado ao abrigo do programa criado para esse efeito (PREVPAP), acusando os dirigentes de universidades e instituições de criarem “impedimentos” à vinculação de cerca de 5.000 pessoas no que diz respeito ao emprego científico e de 2.500 no que diz respeito ao programa dos precários.
“Articulando diversos movimentos, que neste momento mostram a mesma preocupação, decidiu-se marcar esta concentração numa altura decisiva. Estamos na discussão do Orçamento do Estado. Parece que há tudo para avançar, mas todos os dirigentes têm manifestado uma enorme resistência a que todo este processo finalmente se efetive”, disse.
O sindicato quer que “se aplique a lei e que não haja mais atrasos”, até para evitar a concretização de um cenário que se afigura como cada vez mais provável para muitos investigadores: a emigração.
Teresa Summavielle, que representa a partir do Porto os investigadores FCT, o programa da Fundação para a Ciência e Tecnologia que atribuiu bolsas por um período de cinco anos e que motivou o regresso a Portugal de muitos doutorados, diz que não foram apresentadas até ao momento “alternativas viáveis” para estes investigadores que terminam os seus contratos no início do próximo ano e que, sem perspetivas de continuidade, procuram já emprego no estrangeiro.
“Se não tiverem oportunidade de concorrer pelo menos a um novo contrato muito brevemente terão que procurar emprego fora do país, como já aconteceu no passado. Sendo que muitos regressaram atraídos por este programa. É grave”, disse.
Teresa Summavielle critica que os investigadores tenham sido “apanhados no meio de uma guerra surda” entre o ministro da Ciência, Manuel Heitor, e os reitores das universidades, com o primeiro a defender que devem ser as instituições de ensino superior a contratar os investigadores e com os segundos a afirmar que só têm interesse em contratar docentes.
A investigadora do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde disse à Lusa que as expectativas são de que, pelo menos, 100 investigadores do Porto se desloquem a Lisboa para participar na manifestação.
Já Gonçalo Velho disse que “as perspetivas são muito boas” para a concentração de dia 25.
“Todo o nosso feedback é que irá ser efetivamente um grande momento de contestação em relação essencialmente aos impedimentos que os dirigentes têm criado”, disse.