Açoriano Oriental
CDS-PP contra voto bipartidário

Félix Rodrigues pede oportunidade para substituir “os mesmos de sempre” e defende que a tese de governos da mesma cor nos Açores e em Lisboa não se justifica porque o PS não conseguiu entender-se em aspectos fundamentais.
CDS-PP contra voto bipartidário

Autor: Paulo Simões/Pedro Lagarto

 

O que o leva a concorrer à Assembleia da República?
Sempre fiz política passiva, criticando o que deve ser criticado. Quando o partido indicou o meu nome para ser cabeça-de-lista pelos Açores, pensei e cheguei à conclusão de que chegara o momento de fazer política institucional.
Porquê agora?
Porque depois do ciclo PSD, em cuja parte final participei activamente, penso que volta a ser necessário. Quando vemos que o mérito por vezes não é compensado, quando os alunos mais esforçados não são os mais premiados, quando vejo que a justiça não funciona, o mesmo acontecendo com as estratégias de solidariedade social, entre  outras coisas, considero que não podemos ficar calados e que devemos esclarecer desde as questões da democracia - porque andamos aqui a enganar toda a gente - até ...
Como assim?
Olhe, concorre pelo PSD o Dr. Mota Amaral, mas fala-se da Dra. Manuela Ferreira Leite. Pelo PS, o dr. Ricardo Rodrigues, mas fala-se no Eng. José Sócrates. E a discussão está em torno de quem é mais amigo dos Açores. Bem, mais amigo dos Açores do que eu não há, logo, esses senhores não interessam.
É benéfico um governo da mesma cor em Sant’Ana e em Lisboa?
Não! Quando estamos de boa-fé somos capazes de dialogar com qualquer um. Por exemplo, em termos ideológicos sou completamente oposto ao Bloco de Esquerda, contudo concordo com algumas coisas que o Bloco defende. A racionalidade acima de tudo.
O que está em causa é a defesa dos interesses dos açorianos e dos Açores no contexto nacional. Por isso é que há círculos eleitorais!
Que assuntos considera prioritários para Região e para o País?
Comecemos pelas passagens aéreas nos Açores e para o exterior. São das mais caras da Europa. É incompreensível para um país que defende a coesão nacional.
 Curiosamente, aquilo que dizemos há muito acerca do preço exorbitante das tarifas até fez eco: o presidente do Governo Regional anunciou na última terça-feira a redução das tarifas inter-ilhas. Muitos parabéns. Mas não é suficiente. O problema é que temos duas companhias aéreas, a SATA e a TAP, que são ambas empresas públicas, a primeira financiada pelo Governo Regional e a segunda pelo Governo da República. E têm acordos de code-sharing. Ora, esta realidade impede que as “low cost”  voem para os Açores porque não podem competir com empresas que são financiadas, o que desvirtua o sentido do mercado.
De qualquer modo, ainda bem que há a descida das tarifas aéreas, entre muitas outras propostas defendidas pelo CDS-PP, e que o Governo Regional afirme que já tinha pensado. O que concluímos é que se o CDS-PP fosse Governo já tinha aplicado as mesmas propostas quatro meses antes!
Outro exemplo em que as realidades regional e nacional se cruzam é nos aeroportos. Não podemos deixar ao abandono infra-estruturas que são regionais, mas também nacionais.
 Mais um caso, este relacionado com o património da República nos Açores. É  simples de identificar: está degradado!
Vejamos ainda o que se passa com os estabelecimentos prisionais. Angra tem uma sobrelotação de 168% e Ponta Delgada ocupa o terceiro lugar nas cadeias mais sobrelotadas do país, isto é, a nível da sobrelotação nos três primeiros estabelecimentos  surgem à cabeça dois dos Açores. Desastres autênticos! Ou seja, a República tem responsabilidades na nossa memória colectiva de portugueses. Mais: a Universidade dos Açores é tutelada pelo Ministério da Ciência e Ensino Superior, mas a República demite-se das suas responsabilidades. A República não tem critérios de financiamento para coisas atípicas e os Açores são atípicos. Olhe, Évora e Aveiro cresceram com a universidade; aqui, Ponta Delgada cresceu um bocadinho e em Angra colocou-se a universidade ao lado de um gueto social. A Horta, nem vê-la. É também incompreensível que a um docente com actividade lectiva nos Açores não lhe seja contado o tempo de serviço se for para o continente. O mesmo acontece com um docente do continente que venha para os Açores. É por fim incompreensível que haja um sistema nacional de saúde e outro regional. Depois de tudo isto, como se advoga então que a mesma cor política facilita as coisas se eles não são capazes de dialogar nas coisas fundamentais!
O que distingue o vosso programa?
Vamos concentrar as atenções em dadas áreas.  Comecemos pela Educação: o problema não é programático mas paradigmático. Não pode haver Educação  sem mobilizar os docentes. Não é uma directiva de cima para baixo que resolve tudo.
Na Justiça não podemos admitir que o arguido seja esquecido. O violador é perdoado e  quem foi agredido e  perdeu os seus bens esquecido. Não podemos admitir que  uma pessoa  cometa um, dois, três crimes, seja perdoado. O criminoso não é coitado, deve ser recuperado e se não se conseguir deve ficar no lugar que lhe está destinado. Portanto, queremos uma Justiça completamente diferente.
Saúde: É importante que os açorianos não sejam discriminados. Não faz sentido listas de espera. Conto-lhe algo que aconteceu comigo: recebi um telefonema, há dois meses, a dizer que tinha uma consulta, ao que respondi que não me lembrava. “Foi marcada em 2006”, responderam-me. A privatização da saúde pode existir, o que não pode continuar é a incompetência na gestão da saúde pública.
 Grandes investimentos a nível nacional: Totalmente contra o TGV e a favor de uma nova visão de desenvolvimento do país.  O mar é o nosso futuro. E porquê? A exploração do mar a nível das pescas, investigação e turismo. Podemos extrair do mar cerca de 20 mil milhões de euros por ano, o que fará crescer o Produto Interno Bruto cerca de 12% até 2012. O TGV, no contrato Portugal/Espanha, fará crescer o Produto Interno Bruto de Portugal na região norte de 1 a 1,5%. E vai hipotecar duas gerações vindouras.
O  que será  um bom resultado eleitoral para o CDS-PP ?
Bem, um resultado realista é o CDS-PP eleger um deputado pelos Açores. As pessoas estão cansadas dos mesmos de sempre (PS e PSD) e querem mudança.  A nível nacional o melhor desempenho nos debates foi de Paulo Portas. A questão é esta: as pessoas identificam-se com os argumentos e com discurso mas não com a imagem.
Nas sondagens o CDS-PP perde alguns votos...
Perde alguns votos porque se assiste a um desvario dos professores para o Bloco de Esquerda.
O vosso adversário é o Bloco?
Não! São todos os partidos que concorrem à Assembleia da República e teoricamente o Dr. Paulo Portas tem condições para ser primeiro - ministro. Mas nós sabemos que temos votações “clubistas”. Isto não é democracia e não se está a fazer um esforço para explicar o que está em causa. Está toda a gente a dizer que as pessoas vão escolher entre dois primeiros-ministros. Mentira! Serão primeiros-ministros se os resultados das eleições de todos os círculos eleitorais lhes forem favoráveis, o que é  diferente.
Em caso de maioria relativa, PS ou PSD, temos um caso complexo porque o terceiro partido mais votado poderá não ser suficiente para formar governo...
A razão por vezes está na capacidade de diálogo e o que tem faltado a este governo é  dialogar.
Admitiria viabilizar, ao lado do Bloco de Esquerda, um governo socialista?
É muito difícil. Não poderemos viabilizar quem defende o TGV.
E um Governo PSD, com o apoio do Bloco de Esquerda?
Depende das cedências, do diálogo e que as ideias sejam válidas. Os Açores e Portugal já foram governados por maiorias relativas.
As maiorias absolutas são perigosas?
Depende de quem lá está. Tivemos maiorias que foram perigosas e que puseram em causa a democracia e em que inclusivamente se desencadearam perseguições.
Preocupado com a abstenção?
Temos procurado elucidar as pessoas e muitas vezes ouvimos: para quê votar se fica tudo na mesma? De facto, quando o voto é bipartidário nada muda. É necessário dar a imagem da política como serviço público em vez de um serviço de si próprios. E isto anda tudo misturado. Quando vemos que vale tudo em campanha e que se dão sacos de cimento para cimentar currais de porcos no Pico, isto é preocupante. Há exemplos em todas as ilhas. Quem se preocupa com a democracia tem forma de evitar isto. Se alguém se vende por um saco de cimento, é um problema democrático de quem se vendeu e de quem comprou.
Esse saco tinha “cor” política?
Faz parte de um dos dois grandes partidos, mas não vou dizer qual. Compram-se as pessoas com pequenas coisas e as pessoas vendem-se por pequenas coisas. E esta denúncia deve ser feita. E é por isso que devemos ir a eleições.

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