Açoriano Oriental
Cavaco considera “urgente que toda a política pública seja avaliada”
 O Presidente da República, Cavaco Silva, considerou hoje “urgente que toda a política pública seja avaliada” em função da competitividade externa das empresas, encaminhando o financiamento para setores capazes de contribuir para a “recuperação económica sustentável do país”.
Cavaco considera  “urgente que toda a política pública seja avaliada”

Autor: Lusa/AO Online

“Na situação em que nós nos encontramos parece-me urgente que toda a política pública seja avaliada em termos do seu efeito sobre a competitividade externa das empresas”, começou por afirmar o Chefe de Estado, perante uma plateia de jovens empresários, no final do primeiro dia do seu V Roteiro para a Juventude.

E acrescentou: “O financiamento é um produto escasso nos tempos que correm em Portugal e quase de certeza será um produto escasso nos próximos anos. O que significa que ele deve ser encaminhado para aquelas aplicações que possam dar um contributo maior para a recuperação económica sustentável do país, para o combate ao desemprego e à exclusão social”.

Aos jovens empresários, Cavaco Silva declarou: “Não esperem que nos anos mais próximos o Estado seja um agente impulsionador direto da nossa economia”.

“O Estado português está sob escrutínio muito rigoroso vindo do exterior no que diz respeito à sua situação financeira e não vai ter meios nos anos mais próximos para conduzir uma política expansionista que possa levar Portugal à aproximação de níveis de desenvolvimento mais próximos da média da União Europeia”, declarou.

Considerando que terão de ser as empresas a impulsionar a economia, o Chefe de Estado afirmou que estas “devem pedir ao Estado que não crie entraves à iniciativa privada” e “que não absorva demasiados fundos”, que “liberte recursos para a iniciativa privada e que em todas as suas decisões públicas faça uma avaliação em termos do seu impacto sobre a competitividade das empresas”.

“E eu espero bem que o crédito não falte às empresas, em particular às PME que atuam no setor dos bens transacionáveis, que podem substituir importações ou que são exportáveis. É fundamental que façamos o que é possível fazer para que haja uma orientação do crédito nesse sentido. Quanto mais o Estado absorver, quanto mais as empresas públicas absorverem de meios de financiamento, mais vai faltar para as empresas. Porque a quantidade é limitada”, enfatizou.

Para Cavaco Silva, “ninguém tem dúvidas” atualmente sobre as dificuldades de financiamento externo do país, agravado pelo “excesso de endividamento externo” já existente.

“Os próprios homens da banca, que são sempre tão cautelosos nas suas declarações públicas, já o afirmaram de forma inequívoca que Portugal enfrenta algumas dificuldades na obtenção de crédito no exterior. Felizmente há ainda o acesso relativamente facilitado por parte da banca ao Banco Central Europeu (BCE) a uma taxa de um por cento. Mas para ter acesso ao BCE é preciso colateral para dar, ter garantias para dar. Se não tiver garantias para dar não pode ir ao BCE”, referiu

Numa intervenção em que realçou o papel dos jovens empresários para que Portugal vença os desafios “que tem pela frente”, Cavaco Silva deteve-se na “situação bastante complexa” em que o país se encontra.

“A maioria dos que estão aqui sabem que há bastante tempo que o país se encontrava numa situação económica insustentável (…) bastava ter presente a evolução de três variáveis: o desequilíbrio das contas externas, a dimensão da dívida externa e o pagamento ao exterior de juros e outros rendimentos. Analisando estas três variáveis nós sabíamos de certeza que chegaria o dia em que os mercados internacionais exprimiriam dúvidas quanto à capacidade de Portugal gerar riqueza para cumprir os compromissos assumidos no passado”, referiu.

“Isto é, chegaria o dia em que alguém seria chamado a pagar a fatura”, reforçou.

Por isso, declarou, “nunca, desde o 25 de Abril, o país precisou tanto do contributo dos empresários privados portugueses”.

“Portugal tem que reduzir as suas necessidades de recurso aos mercados internacionais e para isso o país tem que alterar a composição da sua produção, passar a produzir mais daquilo – bens e serviços – que concorrem com a produção externa, que substituem importações ou pode ser exportado. E esse tipo de produção só pode ser realizado por empresas privadas”, analisou

A alteração da composição da produção nacional passa por “novos caminhos de aumento da competitividade, produtividade e penetração em novos mercados”, bem como a aposta em “áreas de negócios ignoradas” como o mar e as indústrias criativas.

Cavaco Silva considerou ainda “extremamente nocivo” para o país a existência “nalguma classe empresarial ” de uma “mentalidade de encosto ao Estado e ao poder político”.

“O país só é prejudicado se os empresários tiverem a tentação de alcançar o seu sucesso através do encosto ao Estado. Tem dois grandes inconvenientes: leva o empresário a procurar áreas de atuação em mercados protegidos (…) e convence-se que não precisa de apostar na inovação e na criatividade, basta o encosto ao Estado.

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