Açoriano Oriental
Carnaval comemora-se com festival de teatro popular na ilha Terceira

Mais de 1.400 músicos e atores amadores atuam de sábado a terça-feira, na ilha Terceira, nos Açores, nas tradicionais danças e bailinhos de Carnaval, que mobilizam milhares de pessoas em toda a ilha.

Carnaval comemora-se com festival de teatro popular na ilha Terceira

Autor: Lusa/AO online

Apesar do nome e da época, na ilha Terceira o Carnaval tradicional não se comemora com bailes e os dançarinos sobem ao palco, acompanhados por músicos e atores, num festival de teatro popular, com textos em rima.

As atuações são gratuitas, arrastando-se até de madrugada, e o público enche as 38 salas de espetáculos da ilha para aplaudir e rir, já que a maioria das manifestações tem um conteúdo cómico e, muitas vezes, com crítica social.

Este ano esperam-se mais de 60 grupos, sendo duas danças de espada, com temas dramáticos, e as restantes danças de pandeiro, bailinhos ou comédias.

Não é possível definir com precisão a origem destas manifestações, mas estima-se que tenham evoluído a partir de danças, trazidas pelos povoadores, já existentes em Portugal e pela Europa e que não se realizavam exclusivamente no Carnaval.

“Falar das origens é muito difícil, porque as danças são uma evolução no tempo, até atingirem esta modalidade que nós conhecemos”, adiantou, em declarações à Lusa, o historiador Carlos Enes, natural da ilha Terceira.

As danças originais não tinham a componente teatral, apenas uma coreografia, e eram exibidas “nos intervalos ou no princípio das touradas de praça”.

Só quando é introduzido o assunto ou enredo é que as manifestações passam a decorrer noutros locais, mais próximos da população, para que as falas pudessem ser ouvidas.

“Nos finais do século XIX, princípios do século XX é que temos as danças a estruturarem-se na forma como nós as conhecemos ainda hoje”, apontou Carlos Enes.

Segundo o historiador, há registos de danças de Carnaval deste género noutras ilhas e no continente português nos anos 20 e 30 do século XX, mas só na Terceira a tradição se manteve com esta dimensão, não se sabe bem porquê.

“É difícil encontrar uma resposta. Nas outras ilhas, acabaram por ir desaparecendo. No caso concreto da Terceira elas permaneceram. Houve um conjunto de pessoas que acabou por dar continuidade”, salientou.

Carlos Enes acredita que esse fenómeno se deva ao facto de a Terceira ter mantido ligações com o Brasil por mais tempo, uma vez que o enredo das danças de Carnaval surgiu ao mesmo tempo que os enredos nos sambas brasileiros.

“A minha teoria é que terão sido emigrantes terceirenses no Brasil, que ao regressarem à Terceira poderão ter sugerido ou introduzido o aparecimento do enredo naquelas danças que antes eram só coreografadas”, adiantou.

Hoje, o Carnaval da Terceira atrai pessoas de toda a ilha, de várias idades e estratos sociais, e as salas de espetáculos das duas cidades abrem portas às danças e bailinhos, mas houve um tempo em que só era apreciado nas freguesias rurais ou pelas pessoas mais pobres.

“Alguns desses assuntos que as danças apresentavam poderiam ter críticas sociais que determinadas elites da cidade não gostavam, por isso eles punham as danças de parte. Os divertimentos em Angra do Heroísmo eram outros”, frisou o historiador.

O público não paga e quem atua não recebe, mas também não existem regras apertadas, por isso há quem siga as características mais tradicionais de uma dança, com duas filas de bailarinos e músicos, um mestre ao centro e uma estrutura que intercala música e teatro, numa sequência específica, e quem introduza algumas alterações.

Se o futuro das danças e bailinhos de Carnaval está assegurado, Carlos Enes não arrisca prever, mas os números de participantes e assistentes são um bom indício.


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