Açoriano Oriental
Cantina do Colégio: uma cozinha que serve "histórias" aos clientes

'Era uma vez' uma casa senhorial que foi construída em pleno ciclo da laranja e que, no século seguinte, se assumiu como estabelecimento de ensino, servindo as várias gerações de alunos que passaram pelo Externato 'A Colmeia'. Hoje, como Hotel do Colégio, aquele edifício em Ponta Delgada apenas aloja essas memórias, mas vai vendo escreverem-se outras com o novo restaurante a que dá lugar e que abriu portas faz pouco mais de um mês.


Autor: Miguel Bettencourt Mota

Chama-se Cantina do Colégio e, dentro dele, há uma "cozinha de histórias" pronta a fazer chegar à mesa uma proposta "ousada e inovadora", deu conta a chef Angelina Pedra, em entrevista a este jornal.

Num novo conceito - que se distancia do do antigo restaurante 'A Colmeia' –, o espaço alia a culinária tradicional açoriana a uma cozinha de assinatura em contexto de partilha.

"O nosso conceito-base é o de partilha. Tal como uma cantina, queremos que haja aqui uma partilha de emoções, de sensações, de experiências", explicou a chef micaelense. No fundo, completou, "a ideia é que se partilhe da entrada até à sobremesa" e - com os ingredientes a servirem de narrador - deixar que o cliente corra a sua imaginação e desvende as histórias por detrás dos pratos em sugestão.

'O Chicharro e A Lula ao Ritmo do Samba', 'A Porca que Furou o Pico', 'O Leitão O Galego e a Fumada', 'A Quinta das Bananeiras' e 'Uma Cratera de Chocolate em Lava de Ananás', são apenas algumas das 'narrativas gastronómicas' que se contam naquela casa.

A visão partiu do proprietário do Hotel do Colégio, Fernando Neves, e é Angelina que 'abre o livro', emprestando a sua criatividade – e também as suas histórias – à carta do restaurante.

Não obstante o "requinte" que a Cantina do Colégio se propõe apresentar, não deixa de sugerir uma experiência despretensiosa, num ambiente assumidamente "familiar e aconchegante". O que lá é confecionado "pode-se considerar alta cozinha, mas não é algo que meta medo às pessoas", sublinhou a jovem vila-franquense. "O objetivo é que as pessoas vejam beleza, consigam ver os produtos a brilhar e que se sintam em casa na mesma", acrescentou.

Como tal, a política da chef é a seguinte: pegar em produtos locais e cortes de carne "que, se calhar, são menos nobres" e proporcionar algo de "diferente" a quem visita o espaço.

Angelina esforça-se "para deixar os produtos brilharem por si". Entretanto, na senda de procurar texturas e sabores exclusivos não se coíbe de recorrer à cozinha de fusão. Entre e a cada prato, fundem-se gastronomias e técnicas, que vão desde as japonesas às americanas.

A isso, muito se deve a formação de Angelina, que tirou o curso na Escola de Formação Turística e Hoteleira e na Universidade Johnson & Wales, nos Estados Unidos da América.

Depois de ter passado pelo restaurante Anfiteatro, é, agora, responsável por liderar uma equipa de quatro pessoas na Cantina do Colégio.

"É um desafio muito grande, mas é o que mais me agrada nesta vida", confessou a profissional de cozinha, ciente das exigências inerentes à profissão.

Como sinalizou, "há momentos de tensão", "perdem-se aniversários e muito do nosso lado pessoal" para que se possa progredir e levar em bom rigor as responsabilidades que se ocupam da área.

Ainda assim, Angelina Pedra faz um "balanço muito positivo" daquele que é já um percurso de cinco anos ligado à cozinha e diz não existirem arrependimentos quanto ao facto de ter desistido da profissão ligada à área multimédia, na qual também se formou.

"Esta é uma vida de pressão e quem tiver o 'bichinho' tem de saber conviver com ela. É ele que não me faz parar e querer sempre melhorar", asseverou.


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