Açoriano Oriental
Base dá trabalho a 22 casais mas é a única fonte de rendimento de mais famílias
Sara e Fernando Lima, um dos 22 casais portugueses que trabalham na base das Lajes, levaram uma "bofetada sem mão" quando ouviram que os americanos iam dispensar 500 pessoas este ano, mas acreditam que a redução "será pacífica".
Base dá trabalho a 22 casais mas é a única fonte de rendimento de mais famílias

Autor: LUSA/AO Online

"A minha ideia é que a redução será pacífica, eles são bons patrões. Há pessoas com idade [para reforma antecipada] suficientes para fazer a redução. Estou convencido disso", diz Fernando, 39 anos, enquanto os três filhos pequenos brincam pela sala da casa que construiu com a mulher em Porto Martins, concelho da Praia da Vitória. Fernando está na base há quatro anos, altura em que deixou o emprego de motorista numa instituição particular de solidariedade para trabalhar "na engenharia", a secção responsável pelas pequenas manutenções nas infraestruturas usadas pela Força Aérea dos Estados Unidos. Sara, 38 anos, já estava na mesma secção e conta já com 11 anos de trabalho na base, depois de ter sido funcionária numa ludoteca. Os salários na base são o dobro daqueles que tinham cá fora e apesar desta "bomba" não estão arrependidos de, há quatro anos, Fernando ter deixado um trabalho "efetivo" para trabalhar também com os americanos. "Veio melhorar as coisas", diz Sara, que enumera a casa que fizeram e os três filhos que se permitiram ter, de oito, seis e dois anos, um deles com uma doença que exige cuidados especiais. "Em 2012 entrei em depressão. Tinha acabado de deixar um trabalho efetivo, fui para a base também efetivo, mas depois veio essa notícia e eu... Agora estou mais otimista", comenta ele. Foi em 2012 que os Estados Unidos manifestaram a intenção de retirar 500 militares e civis das Lajes, na Terceira, decisão que agora confirmaram e dizem que concretizarão até ao outono. Sara também se preocupou mais em 2012, mas a última semana acabou por ser perturbadora, com a questão das Lajes a invadir noticiários e a colocar sobre a mesa "pontos da notícia" de que não se tinha apercebido. Uma das questões levantadas foi a preocupação do Governo Regional dos Açores com os casais que trabalham na base. Em caso de despedimento coletivo, o executivo quer que estes casos sejam levados em atenção e pelo menos um dos elementos do casal mantenha o posto de trabalho. "Para nós era muito bom, mas eu tenho colegas que só eles é que trabalham, as mulheres não. Acaba por ser injusto. Eles é que sustentam as famílias", diz Sara, que gostava que os norte-americanos concedessem vistos especiais aos atuais trabalhadores na base para os deixarem emigrar para os Estados Unidos ou, então, que lhes permitissem ir trabalhar para outra base americana na Europa. Também Sónia Dias, de 36 anos, trabalha com o marido, Berto Dias, de 37, na base, e "claro" que já pensou na possibilidade de emigrar, sobretudo se os dois perderem o trabalho e ficarem sem maneira de pagar a casa ao banco. Sabe que fora da base "a ilha não dá possibilidades", sobretudo com um número cada vez menor de militares norte-americanos na Terceira e sem a companhia das famílias, como já está a acontecer: "Numa família que vem, quem gasta é a senhora, vai ao café, corta o cabelo, gosta de arranjar sempre as unhas". Sónia trabalha no banco do BX há 15 anos, uma espécie de centro comercial americano dentro da base. Berto está "na engenharia" há 17. O casal tem um menino de oito anos e, segundo a mãe, um dos motivos por que o rapaz não tem ainda um irmão é a incerteza que paira sobre as Lajes desde há dois anos. Também ela diz ter "mais do que uma colega com maridos que estão sem emprego" e que asseguram o único rendimento das respetivas famílias. O que Sónia deseja é que os americanos permitam a saída de todo os trabalhadores que se querem reformar, para os mais novos ocuparem os cerca de 300 lugares que se manterão.

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