Autor: LUSA/AO online
"O livro é, de facto, baseado neste acontecimento real. É ficcionado porque, se eu fosse contar apenas parte da história do que se passou com o avião, daria poucas páginas. Então, aumentei-as, utilizando a imaginação criativa, criando personagens”, disse à agência Lusa Alfredo Cruz, que lança hoje a obra no Museu do Ar, na Base Aérea de Sintra.
A obra de ficção denomina-se “Renascer sobre o Atlântico – a história do voo MER 248”, sendo este número escolhido porque foi a 24 de agosto de 2001 que teve lugar a aterragem de emergência.
O A330, com cerca de 300 pessoas a bordo, partiu de Toronto, no Canadá, em direção a Lisboa. Alfredo Cruz era na altura comandante da Base Aérea n.º 4, nas Lajes (onde aterram também os voos comerciais que passam na ilha Terceira).
O militar, que viveu de perto aquele que é considerado o maior voo planado jamais realizado na aviação comercial - protagonizado por um Airbus -, disse que a obra contempla três narradores: comandante, que conta o que se passou no ‘cockpit’, o controlador aéreo, “fundamental para o sucesso” da aterragem de emergência, e uma outra personagem que dá uma imagem do ambiente de pânico vivido a bordo.
O antigo comandante da Base Aérea n.º 4 afirmou à Lusa que “foi extraordinário” viver este episódio, mostrando “surpresa total” perante a aterragem de emergência de um avião sem motores, que foi capaz de planar tanto tempo.
“Ninguém estava à espera que aquilo acontecesse. Eu, quando o meu 2.º comandante me disse que o avião tinha aterrado sem motores, não queria acreditar. Lembro-me de ele ter-me agarrado pelo braço para que eu fosse verificar. Estávamos perante um caso absolutamente excecional”, declarou Alfredo Cruz.
O militar, que também desempenhou funções de comandante de esquadra e do grupo operacional nas Lajes, referiu que o pessoal em terra “estava muito bem preparado” para receber o avião, porque houve um aviso de 15 minutos, mas estava “longe de imaginar que vinha sem motores”.
“O controlador aéreo logicamente sabia de tudo o que se estava a passar. Eu estava a dormir e acordei com um tremendo estoiro provocado pelos pneus a rebentarem na aterragem”, recordou o ex-comandante da Zona Aérea dos Açores.
Segundo a informação divulgada pela agência Lusa, em 2001, o comandante do Airbus A330, Robert Pichet, chegou a ponderar amarar, mas conseguiu planar até às Lajes, tendo os passageiros vestido os coletes salva-vidas. Na cabine, soltaram-se as máscaras de oxigénio.
Quanto tocou a pista, o avião ia à velocidade de 500 quilómetros/hora, tendo a International Federation of Air Line Pilots Associations (IFALPA) distinguido a Força Aérea Portuguesa (FAP) pelo desempenho neste caso.
Apenas nove passageiros ficaram ligeiramente feridos na aterragem de emergência do avião da Air Transat. Seguiam a bordo 280 portugueses.