Açoriano Oriental
Artesãs retratam pessoas de Martim Longo com bonecas de juta, há 28 anos
A 'Ti' Josefa a apanhar lenha para o forno é uma das dezenas de pessoas da aldeia de Martim Longo, Alcoutim, retratadas em bonecas de juta (serapilheira) produzidas numa oficina do interior algarvio há 28 anos.
Artesãs retratam pessoas de Martim Longo com bonecas de juta, há 28 anos

Autor: Lusa/AO Online

 

A Oficina Artesanal Flor da Agulha nasceu em 1987, formada por dez mulheres desempregadas que frequentaram um curso no qual aprenderam a fazer bonecas de serapilheira, que recriam pessoas daquela aldeia algarvia conhecidas por fazer determinadas tarefas, entre camponesas, padeiras, ceifeiras ou mulheres que bordavam e fiavam a lã.

“Fomos sempre criando novos modelos e chegámos a ter 30”, explicou à Lusa Otília Gonçalves, de 70 anos, a mais nova das três artesãs que ainda mantêm atividade, observando que as bonecas, inspiradas em pessoas reais das décadas de 1930, 40 e 50, fazem a representação dos ciclos do pão, da lã e do linho.

Durante muito tempo a oficina foi visitada por turistas e chegaram a ser enviadas encomendas para os Estados Unidos, Espanha, Suécia ou Suíça, mas nos últimos anos o movimento diminuiu, o que não impede as artesãs de manterem vivas as bonecas, sobre as quais chegou a ser feito um vídeo que passava a bordo dos aviões portugueses.

"Chegou a ter muito movimento, vinham todas as semanas três carrinhas com turistas e um autocarro, agora vêm só esporadicamente, porque também há menos turismo", referiu a artesã, lamentando que, por enquanto, não haja pessoas com vontade de prosseguir a atividade.

Otília Gonçalves lembrou que, no início, havia cinco senhoras e cinco jovens, mas depois as jovens casaram e foram para o litoral, ficando só as pessoas mais velhas.

“Isto também não é coisa que a gente se possa encostar só a isto”, comentou, admitindo que a atividade não é muito rentável.

As artesãs já organizaram cursos para ensinar as técnicas a outras pessoas que possam dar continuidade às bonecas “Flor da Agulha”, mas as tentativas não tiveram sucesso.

A maior parte das bonecas recriam pessoas das gerações vividas por Otília Gonçalves, mas há também uma, que segundo a artesã não é do seu tempo, que representa as mulheres que guardavam o gado e que levavam consigo, enfiada na saia, uma roca, para ir fiando enquanto estavam no campo.

Na montra da pequena oficina onde estão expostas as bonecas pode ver-se um diploma que recorda o momento em que a equipa ganhou, em 1991, o prémio nacional de artesanato.

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