Autor: LUSA/AO online
"A peça parece-me, de facto, muito interessante, porque tem uma representação atípica, do que me parece ser uma pomba do Espírito Santo, que aponta para o século XVI, inícios do século XVII, no máximo, confundindo-se com uma águia. Tem a forma de um medalhão que era incorporado nos edifícios, provavelmente de caráter religioso", afirmou Félix Rodrigues.
O investigador da academia açoriana, especialista em física e ciência do ambiente, mas assumidamente um "entusiasta" de história, recebeu algumas imagens da peça que terá sido descoberta durante a obra, ao que tudo indica numa "habitação particular" na Praia da Vitória, local que poderá ter sido uma igreja ou ermida.
"Esta peça pode estar ligada a um evento de cataclismo que ocorreu na Praia da Vitória, a 09 de abril de 1614, tradicionalmente designada a Primeira Caída da Praia da Vitória, que é um dos registos históricos que descreve a catástrofe que arrasou toda, na altura, Vila da Praia da Vitória. A peça deve ser estudada, para perceber se no local onde foi encontrado pudesse ter existido um templo e desaparecido com um terramoto", disse o investigador.
Félix Rodrigues confessa que "tem muita curiosidade" em ver a peça "pessoalmente", defende que "possam ser feitas recolhas de outros materiais no local onde foi encontrada e "que com a ajuda de "um especialista de história de arte" se possa decifrar em que época é que ela foi esculpida.
Segundo este investigador, a Câmara Municipal da Praia da Vitória já foi informada acerca deste "achado arqueológico" que poderá ser encaminhado para o Museu de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira. Defende também a alteração da lei para que este tipo de património seja preservado.
"Há prémios atribuídos a achados arqueológicos no mar, mas o que se encontrar em terra não há qualquer prémio ou distinção atribuída a quem faz este tipo de trabalho e talvez por isso perdemos um conjunto de valores importantíssimos de património. Precisaríamos de alterar um pouco a legislação neste sentido de forma a premiar quem se interessa pelo património, porque o desconhecimento faz-nos perder muita coisa", sublinha.
O investigador da Universidade dos Açores, que publicou o livro "Gibraltar Açoriano", que aborda a simbologia do Castelo São João Batista e os seus significados, acredita que o medalhão com representação do Divino Espírito Santo, encontrado recentemente na Praia da Vitória, pode ajudar a explicar a "introdução do culto do Espírito Santo nos Açores".