Açoriano Oriental
Arte bonecreira dos Açores corre risco de extinção

A ‘arte dos bonecreiros’ nos Açores, que se distingue da nacional, corre o risco de extinção, testemunha o artesão Dinis Cabral, 53 anos, professor de artes visuais com 'atelier' no mercado de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel.

Arte bonecreira dos Açores corre risco de extinção

Autor: Lusa/AO online

“Apesar de terem surgido dois novos artesãos, e ter começado com esta atividade há cerca de nove anos, à medida que vão desaparecendo os mais antigos esta arte, e as restantes tradicionais, vão morrendo, encontrando-se em vias de extinção. É uma questão de tempo”, declarou à agência Lusa o artesão.

Dinis Cabral, que possui cerca de três mil peças para ilustrar os presépios tradicionais açorianos com cenas que retratam o quotidiano insular na sua perspetiva etnográfica, social e cultural, refere que os bonecos de barro são todos pintados a pincel.

“O modelo original é vincado com molde de gesso, mas o acabamento é todo feito à mão, pintado com pincel”, explicou o artista, salvaguardando que no continente se pinta com o recurso a aerógrafos, além do facto de o barro, de cor branca, mais maleável, não ser vincado por via da compressão, como acontece nos Açores.

Dinis Cabral afirmou que padece de uma “ansiedade criativa de inventar e fazer nascer uma peça”, referindo que apenas se limita a “retirar o excesso de barro da baguete, porque o boneco já lá está dentro”.

O artesão considerou que o açoriano continua a procurar as peças de barro para embelezar o seu presépio tradicional, mas reconhece que, por dificuldades financeiras, muitos agregados familiares acabam por adquirir o boneco continental devido ao preço mais competitivo.

O artesão, que cria ao vivo as suas peças no mercado da Graça, mercado municipal de Ponta Delgada, sustenta que “cada vez mais os turistas procuram este espaço”, justamente por poderem apreciar ‘in loco’ o artista a trabalhar e por possuir mais bonecos no seu atelier do que os restantes colegas.

Contra a atitude passiva de estar em casa de pantufas a assistir aos programas da TV, e apesar das dificuldades em manter um espaço no mercado municipal, muito embora a renda seja considerada acessível, Dinis Cabral mantém a atividade que depois partilha como experiência pelos turistas entre si, que consomem o produto.

E deu o exemplo de uma cidadã da Alemanha que, após ter visitado o seu 'atelier', o sugeriu a um grupo de turistas do seu país que vieram posteriormente aos Açores para realizaram trilhos.

Apesar das dificuldades com que são confrontados, os artesãos da ‘arte bonecreira’ sobrevivem, sendo no concelho da Lagoa, na ilha de São Miguel, onde esta expressão artística tem mais expressão.

A produção destas pequenas figuras de barro começou na segunda metade do século XIX com a abertura das primeiras fábricas de cerâmica na Lagoa, numa arte que chegou a ser um complemento ao rendimento de muitas famílias, mas também uma forma de ocupar os tempos livres.



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