Açoriano Oriental
Antiga glória do Angrense recorda o golo que marcou ao Benfica
O Angrense estreou-se na Taça de Portugal de futebol frente ao Benfica, há 55 anos, com duas derrotas e 12 golos sem resposta, mas cinco anos mais tarde Jorge Laureano conseguiu marcar na baliza dos encarnados.

Autor: Lusa/AO Online

 

"Foi um golo de sorte, mas fui lá. Geralmente, quando uma pessoa salta com um guarda-redes, o guarda-redes tem sempre mais hipóteses, porque ele vai com as mãos e a gente vai com a cabeça, mas a coisa calhou. Tive a sorte de marcar", recordou, em declarações à Lusa, o antigo jogador do Angrense, em vésperas de o clube da ilha Terceira voltar a defrontar outro 'grande', o FC Porto.

Jorge Laureano, um dos poucos jogadores ainda vivos dessa época, entrou para o Angrense em 1955 e foi lá que terminou a carreira, aos 32 anos. Era avançado da equipa açoriana, na época 1959/60, quando o clube conquistou o título de campeão insular (Açores e Madeira), que lhe deu acesso a disputar a Taça de Portugal contra o Benfica, 30 anos depois da sua fundação.

Na altura, a eliminatória, correspondente aos quartos de final, era jogada a duas mãos, mas os resultados não foram animadores para o Angrense, terceira delegação do Benfica, que em casa perdeu por 2-0 e na Luz por 10-0, a 05 e 12 de junho de 1960.

Para Jorge Laureano, apesar da pesada derrota, a ida a Lisboa valeu a pena pela experiência e por ter sido considerado o melhor jogador do Angrense, mesmo sem ter marcado golos.

Sete anos mais tarde, a equipa açoriana voltou a encontrar o Benfica, na Taça de Portugal, mas os ‘encarnados’ tinham compromissos no estrangeiro e o Angrense desistiu do jogo, em troca de um particular.

No final da época, as ‘águias’ apresentaram-se em Angra do Heroísmo com a equipa que tinha acabado de conquistar o título de campeão nacional, incluindo Eusébio. O Benfica voltou a levar a melhor, vencendo por 6-1, mas Jorge Laureano marcou um golo que o encheu de orgulho e pelo qual os adeptos da altura ainda o cumprimentam na rua.

Chegou a estar um mês na CUF - atual Grupo Desportivo Fabril do Barreiro -, mas o treinador não o tirava do banco, por isso, decidiu não arriscar e regressar à ilha Terceira e ao emprego que tinha na Base das Lajes. Depois disso, outros clubes chegaram a mostrar interesse, mas essa má experiência fê-lo sempre optar pelo caminho mais seguro.

Aos 78 anos, Jorge Laureano guarda algumas mazelas da carreira futebolística, mas não sente o peso da idade e, quando o sente, disfarça para não dar o braço a torcer aos antigos rivais do Lusitânia, delegação do Sporting.

Nos anos 60, os campos de jogos enchiam-se na ilha Terceira para ver jogar as equipas locais, sobretudo quando se tratava de um duelo entre os ‘vermelhos’ do Angrense e os ‘verdes’ do Lusitânia.

"Naquela altura havia uma rivalidade muito grande entre as equipas, não era como é agora", salientou o antigo avançado, lembrando que uma vez ficou no banco num jogo contra o Lusitânia só porque alguém o tinha visto a falar com um jogador da equipa adversária na véspera.

Quando começou a jogar, Jorge Laureano até gostava mais dos ‘verdes’, que costumavam ganhar mais vezes, mas o padrinho e o avô eram fervorosos adeptos do Angrense e o clube prometeu-lhe um emprego na Base das Lajes.

Admite que a rivalidade naquela época tomava por vezes proporções exageradas, mas diz que se jogava verdadeiramente por amor à camisola, ao contrário do que acontece hoje.

Não havia remunerações e os únicos incentivos, além das influências na procura de emprego, eram uma sandes de queijo e um copo de leite, na pastelaria do presidente do clube.

O campo, onde o Angrense ainda joga, era de terra e tinha tantas covas que os jogadores nunca sabiam que rumo levava a bola. O massagista era um curioso, o duche era de água fria e não havia equipamentos, por isso quando as meias se rompiam no calcanhar, eram viradas ao contrário.

 

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