Açoriano Oriental
Angola vai a votos em Setembro
A escassas três semanas de completar 16 anos sem eleições, Angola deverá finalmente ter, em 2008, um governo legitimado pelo voto popular, depois das legislativas previstas para o início de Setembro.

Autor: Lusa / AO Online
    O anúncio destas eleições, feito pelo Presidente José Eduardo dos Santos na mensagem de fim do ano, mereceu aplauso unânime de um país que viveu em guerra civil quase ininterrupta durante 27 dos 32 anos de independência, completados no passado dia 11 de Novembro.

    Em paz desde o primeiro trimestre de 2002 - oficializada com a assinatura dos Acordos de Luena, a 04 de Abril desse ano -, as autoridades angolanas protelaram ao longo de quase seis anos a realização de qualquer acto eleitoral apesar de, no final de 2004, Eduardo dos Santos ter anunciado a realização de eleições para 2006, que "adiou" em 2005 por "falta de condições".

    A marcação das legislativas foi uma iniciativa que visou sobretudo acalmar os ânimos dos mais contestatários que não viam com bons olhos a manutenção de um governo "fora de prazo" - apesar dos ajustamentos ditados pelo Acordo de Lusaca (1994) - e de um Presidente da República que assumiu o poder após a morte de Agostinho Neto, em Setembro de 1979, e não chegou a vencer as presidenciais de 1992, realizadas em simultâneo com as legislativas.

    As eleições gerais de 29 e 30 de Setembro de 1992 foram o culminar do Acordo de Paz para Angola, assinado a 31 de Maio de 1991, em Lisboa, também conhecido como Acordo de Bicesse, localidade do concelho de Cascais onde decorreram as negociações entre o governo angolano (MPLA) e a UNITA, mediadas por Portugal.

    Na altura, o MPLA venceu as legislativas com larga margem, ao conquistar mais de metade dos 220 lugares do parlamento, com uma margem superior a meia centena de deputados relativamente à UNITA (70).

    Nas presidenciais, nenhum dos candidatos obteve a maioria absoluta, que lhe daria a vitória à primeira volta, pelo que os dois mais votados - José Eduardo dos Santos e Jonas Savimbi, líderes do MPLA e da UNITA respectivamente - deveriam ser chamados a disputar uma segunda volta, que nunca se realizou.

    Com o reacender da guerra, nos finais de Outubro de 1992, José Eduardo dos Santos e o governo do MPLA mantiveram-se no poder, enquanto a UNITA regressou à província do Huambo, onde manteve o seu quartel-general primeiro na capital provincial e depois no Bailundo, reduto que foi forçada a abandonar sob pressão das forças governamentais.

    O fim da guerra civil, no seguimento da morte de Savimbi, em combate, a 22 de Fevereiro de 2002, trouxe novas perspectivas para o país que atingiu o crescimento económico mais elevado e rápido do planeta, graças sobretudo ao petróleo que representa metade de PIB, apesar de ter uma das piores governações do mundo, de manter a democracia na gaveta e a população na miséria, com 70 por cento dos angolanos a viverem abaixo do limiar da pobreza.

    Com prioridades diversas das definidas na paz de 1991, quando em menos de um ano e meio foi possível estabelecer o cessar-fogo, preparar eleições e fazer um exército único, o MPLA tomou as rédeas do poder em 2002 e, com a "compreensão" da comunidade internacional, só este ano avançou com um novo recenseamento eleitoral, condição necessária para a realização de eleições.

    Mesmo assim, optou por separar as legislativas das presidenciais, estas últimas proteladas para 2009, mantendo todo o país sob controlo do poder central, muitas vezes contestado por seguir uma política partidária, em prol do MPLA, em que muitas vezes a UNITA se queixou de estar a ser "sufocada", sem margem sequer para colocar uma bandeira na sua sede ou promover uma reunião com os seus militantes e simpatizantes.

    É neste ambiente de euforia económica mas de tensão sócio-política que Angola vai procurar o caminho da democracia, com cerca de 7,5 milhões de angolanos recenseados para votar nas próximas eleições.

    Os angolanos já sabem quantos são. Agora vão escolher quem querem no poder.
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