Açoriano Oriental
Acontecimentos de maio de 1917 de Fátima dividem católicos
Os jornalistas António Marujo e Rui Paulo Cruz, autores da obra "A Senhora de Maio", afirmam que os acontecimentos de maio de 1917 "dividiram e dividem opiniões e emoções em Portugal e no mundo, mesmo entre os católicos".
Acontecimentos de maio de 1917 de Fátima dividem católicos

Autor: Lusa/Açoriano Oriental

O livro “A Senhora de Maio - Todas as perguntas sobre Fátima” reúne 20 testemunhos sobre os acontecimentos sucedidos em Fátima há 100 anos, apresentando uma “pluralidade de olhares”, como referem os autores na introdução, que vão do padre Luís Kondor (1929-2008), que foi vice-postulador da Causa da Canonização dos Pastorinhos de Fátima, aos bispos Carlos Azevedo e Januário Torgal Ferreira, passando pelo artista plástico Robert Schad e a psicanalista Maria Belo.

Entre outros testemunhos, o livro apresenta o de João Marto (1906-2000), irmão de Jacinta (1910-1920) e Francisco (1908-1919), dois dos pastores de Fátima, e primo de Lúcia (1907-2005), a terceira criança que afirmou ter visto a “Senhora de Branco” e que escreveu vários livros sobre o sucedido, assim como o de Maria Emília Santos, "a miraculada" por Jacinta e Francisco.

Os autores esclarecem que esta “pluralidade de olhares” “resulta das entrevistas” que realizaram em vídeo “nos dois últimos anos do século XX”, tendo em vista a realização do documentário “A Senhora de Maio”, quando “se aproximava a beatificação”, pela Igreja Católica, de Jacinta e Francisco, o que ocorreu no dia 13 de maio de 2000, aquando de uma vista pastoral do papa João Paulo II a Fátima.

A recolha dos testemunhos, afirmam os autores, visa “uma reflexão abrangente e não engajada sobre o fenómeno, retratando com o rigor possível a sua projeção quer espiritual, quer política, na época e nas décadas futuras”.

O livro “A Senhora de Maio - Todas as perguntas sobre Fátima” é apresentado na quinta-feira, em Lisboa, no Jardim de Inverno do Teatro Municipal S. Luiz, às 18:30, pela escritora Lídia Jorge, que assina o prefácio, pelo historiador Fernando Rosas e pelo catedrático em Antropologia Política, professor na Universidade Católica Portuguesa, Alfredo Teixeira.

Fátima é “um dos elementos constitutivos do ‘ethos’ nacional e representa para muitos uma das formas mais impressivas de nos inscrevermos no mundo, chegando a imagem da peregrinação de 13 de maio a confundir-se com o retrato do nosso rosto antropológico enquanto povo”, escreve Lídia Jorge no prefácio.

Para a autora, “o fenómeno de massas em que [Fátima] se tornou, mesmo à luz dos simples movimentos humanos de fraternidade e amor pelos outros, é compreensível”, referindo que “a narrativa dessa experiência” - a visão de algo divino relatado pelas três crianças que pastoravam gado -, “envolvendo a morte de duas crianças, mortes tão do seu tempo, e mortes tão portuguesas, desencadeia os sentimentos de ternura e de pena que [se nutre] por todas as crianças esfomeadas e desvalidas”.

“Fátima impele para essa componente de compaixão humana que existe em todos nós”, sentencia a escritora, que referindo-se à adoração de João Paulo II por Nossa Senhora do Rosário de Fátima, recorda que este agradeceu “de forma exuberante ter-lhe sido salva a vida, em contraste com o exemplo de Jesus Cristo, a pedra única e angular do edifício da religião cristã, que se deixou matar para criar a nova criatura, o homem novo”, parafraseando S. Paulo.

Lídia Jorge afirma que este livro “sugere a abertura de um processo de consideração intelectual sobre Fátima que falta fazer em Portugal […] sem que isso implique pôr em causa as questões centrais da Fé, tal como os cristãos a vivem”, aludindo ao testemunho de Carlos Azevedo.

A escritora adverte que o debate sobre os acontecimentos de Fátima, em 1917, está “inquinado desde a primeira hora, pelas posições extremadas, ditadas pelo momento histórico por que passavam Portugal e a Europa”, que viviam o contexto da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Os autores, com esta obra, “pretendem convocar os dados do discernimento, neste novo tempo”, sem “infringir os limiares das convicções religiosas”, atesta Lídia Jorge.

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