Açoriano Oriental
20% dos médicos serão fumadores: um "mau exemplo" diz especialista
Cerca de 20 por cento dos médicos portugueses serão fumadores, estima um especialista em consultas de cessação tabágica, adiantando que os clínicos raramente procuram ajuda especializada para deixar o vício.
20% dos médicos serão fumadores: um "mau exemplo" diz especialista

Autor: Lusa / AO online
    Embora não haja qualquer estudo rigoroso actual sobre os hábitos tabágicos junto da comunidade médica em Portugal, Paulo Pereira, clínico do centro de saúde da Foz, no Porto, considera que é possível transpor as estatísticas da população global para a classe.

    "Os dados mais fiáveis apontam para que 20 por cento da população em geral seja fumadora. Podemos extrapolar essa percentagem para a comunidade médica, mas não há dados concretos", explicou à agência Lusa.

    Um estudo realizado há quase 10 anos indicava que em Portugal cerca de 40 por cento dos médicos eram fumadores, numa altura em que se estimava que quase 30 por cento da população geral tinha hábitos tabágicos.

    No entanto, o presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, Segorbe Luís, ressalvou, em declarações à Lusa, que actualmente a percentagem de médicos fumadores será seguramente mais baixa, à semelhança do que acontece com a população global.

    Apesar de o número de médicos fumadores estar a diminuir, é uma classe onde "ainda há muitos fumadores", que acabam por "dar um mau exemplo" aos doentes, nota por sua vez Paulo Pereira.

    "Os médicos são os piores doentes e geralmente não procuram ajuda concreta para deixar de fumar, antes recorrem a 'consultas informais' aos colegas. Mas esta intervenção avulsa acaba por não funcionar", comentou Paulo Pereira.

    A consulta de cessação tabágica não se limita a prescrever um fármaco que ajude a reduzir os efeitos da abstinência dos cigarros, sendo um programa mais global, onde o apoio psicológico e a terapia comportamental têm lugar de destaque.

    A Administração Regional de Saúde do Norte tem uma consulta específica para os profissionais de saúde que queiram largar o vício, sendo os médicos quem menos recorre a este serviço: "Da parte dos médicos há muito menos procura, os restantes profissionais de saúde têm aderido mais".

    Para Paulo Pereira, os médicos fumadores devem ser excluídos de dar as consultas de cessação tabágica aos doentes, uma vez que são mais condescendentes com o consumo de tabaco.

    "Um médico fumador encara o tabaco como um mero hábito aceitável e não como uma dependência e uma doença crónica e é muito mais condescendente com o consumo de tabaco dos seus doentes. A sua intervenção não será certamente eficaz", justificou o clínico.
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